Nos dois primeiros dias chuvosos de novembro de 2025, aproveitei a chegada da nova Smart TV em casa e assisti à série Contos do Loop (2020), pela Prime Vídeo, por recomendação do Geraldo. E gostei muito. Trata-se de uma série de TV norte americana de ficção científica, que está disponível na Amazon Prime apenas a primeira temporada, com oito episódios. A trama se passa em uma cidade fictícia chamada Mercer, Ohio, onde existe um acelerador de partículas gigante conhecido como “The Loop”. Diretamente ligados a esse experimento científico, os habitantes da cidade vivem fenômenos sobrenaturais e distorções da realidade, chegando até à alteração do tempo e do espaço.
Na verdade, a série é mais um subproduto das obras de arte de Simon Stålenhag, que originaram um jogo de RPG e, mais tarde, foram adaptadas para o audiovisual por Nathaniel Halpern.
Tendo tudo para ser uma série futurista, despótica e tecnológica, ela surpreende e encanta por ser bela, melancólica e profundamente humana, abordando alguns temas fundamentais da nossa vida como amor, morte, família,etc. Com uma estética retro-futurista e contar histórias interligadas, a série mostra indivíduos tentando preservar sua existência e conviver em meio a uma natureza espetacular e a uma tecnologia que, ao mesmo tempo em que pode tornar tudo possível, também os lança num fluxo temporal desorientador, como se o Loop fosse uma força maior que suga, inexoravelmente, sua humanidade.
Vou tentar resumir os oito episódios:
1. “Loop” – A menina Loretta descobre que sua mãe trabalha num laboratório subterrâneo chamado “The Loop” e investiga o mistério, o que acaba levando-a a uma impressionante viagem no tempo.
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| O tempo faz tudo mudar |
2. “Transpose” – Dois adolescentes, Jakob e Danny, encontram um objeto na floresta que permite trocar de corpo e viver a vida um do outro. A experiência, que no início parece divertida, acaba levando-os a situações extremas, à beira dos limites da própria humanidade.
3. “Stasis” – A jovem May se apaixona por Ethan e tenta fazer o tempo parar com a ajuda de um artefato científico. Como metáfora do amor, o casal interrompe o tempo para viver sua paixão, mas, quando Cronos volta a agir, tudo muda novamente e e nada é para sempre.
4. “Echo Sphere” – O garoto Colle, filho de Loretta, e seu avô Russ (o fundador do Loop) se confrontam com o fim da vida através de uma esfera que revela quanto tempo resta a cada pessoa. Um dos episódios mais bonitos e tristes, sobre a passagem inevitável do tempo, uma força que nem mesmo o Loop pode conter.
5. “Control” – Ed é um pai que trabalha no Loop e faz escolhas extremas para proteger sua família após o filho entrar em coma. Talvez o episódio mais fraco da temporada, mas interessante pela forma como mostra os robôs envelhecidos e abandonados, lembrando que a tecnologia, por mais avançada que seja, logo se torna sucata, e nunca substitui o valor da vida humana.
6. “Parallel” – Gaddis é um segurança do Loop que viaja para um mundo paralelo em busca de amor e sentido. Nessa jornada, ele encontra mais do que o amor: encontra a si mesmo, descobrindo possibilidades de vida que se desenrolam em outros tempos e dimensões.
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Você toca a campainha e quem atende é você mesmo |
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Cada gota de chuva um segundo Tempo tempo tempo tempo |
7. “Enemies” – George, marido de Loretta, quando adolescente visita uma ilha misteriosa e descobre uma presença monstruosa que muda sua vida. A convivência entre robôs e humanos é mostrada de forma mais intensa e perturbadora aqui. Terminei o episódio impressionada, com um gosto amargo na boca.
8. “Home” – Colle, o garoto, tenta reencontrar o irmão Jakob, que havia se perdido, e se reconectar com o passado em uma cidade onde o tempo parece correr diferente. Por ser o último da temporada, o episódio busca amarrar as histórias e acaba emocionando profundamente, afinal, já estamos afetivamente ligados às personagens e suas travessias pelo tempo e pelo sentimento.
Quando termina, o que mais queremos é ver mais, porque é uma série linda, interessante, delicada e de altíssimo nível.
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| Você fotógrafa o que quer guardar |
Quando acabou, pensei em mil coisas — sobretudo na ideia de “tempo constelacional” de Walter Benjamin, que, em última instância, não rejeita a possibilidade de vidas simultâneas se desenrolando em outras dimensões. Será?
Pedi ajudinhas práticas à IA para escrever esse POST, ela me ofereceu um mapa das conexões entre os episódios. Ela inseriu também interpretações minhas (ela revisou o texto) e ficou bem legal :
🌀 Mapa das Conexões do Loop
1. Loretta (Ep. 1 – “Loop”)
É o ponto de partida e o fio condutor da série.
Aparece jovem, depois adulta e mãe de Cole (Ep. 4) — mostrando a continuidade entre gerações.
Representa a ciência e a curiosidade, mas também o risco de perder o humano ao tentar dominar o tempo.
2. Jakob e Danny (Ep. 2 – “Transpose”)
São vizinhos de Loretta.
A troca de corpos conecta-se ao tema da identidade e da incapacidade de ser “outro” sem se perder de si mesmo.
Jakob reaparece em outros episódios, mas de forma sutil — deslocado no tempo.
Vivem no mesmo universo e época que Jakob.
Sua tentativa de parar o tempo é uma metáfora do desejo humano de congelar o instante do amor.
O dispositivo que usam é um dos muitos artefatos do Loop, e reaparece abandonado depois, como vestígio de uma história que o tempo engoliu.
Cole é o filho de Loretta, e Russ, seu avô, o fundador do Loop.
É o episódio mais pessoal e filosófico: a aceitação da morte e do ciclo da vida.
Liga-se diretamente ao início e ao fim da série — a origem e o encerramento do Loop familiar.
5. Ed (Ep. 5 – “Control”)
Morador da mesma cidade, também trabalha no Loop.
O tema da proteção da família e da impotência humana diante do inevitável ecoa o que vemos em Cole e Loretta.
Mostra o contraste entre o controle e a entrega — uma das tensões centrais do Loop.
6. Gaddis (Ep. 6 – “Parallel”)
O segurança do Loop que descobre outra versão de si mesmo em um universo paralelo.
Espelha o conflito de Jakob (Ep. 2) e aprofunda a ideia de existências simultâneas, que você captou com a leitura de Walter Benjamin.
7. George (Ep. 7 – “Enemies”)
Marido de Loretta e filho de Russ.
O episódio revela seu trauma de infância , o que explica muito da frieza e solidão dele no presente.
Amarra o ciclo familiar, tornando o Loop uma metáfora do destino hereditário.
8. Cole novamente (Ep. 8 – “Home”)
O último episódio fecha o círculo iniciado em “Loop”.
Cole percorre o tempo em busca do irmão Jakob
e, sem perceber, vive dentro do mesmo Loop que seu avô criou.
É o retorno ao lar — não físico, mas emocional, espiritual e temporal.
💫 Evidente e invisível ao mesmo tempo — a série faz o tempo agir como personagem. As vidas se entrelaçam não apenas por parentesco, mas por temas: identidade, perda, amor, passagem e permanência.
Tudo é sobre ser humano diante do incompreensível.
Uau! Deu pano pra mangas! Super recomendo a série.
Um plus: minha amiga Rosane Pavam reparou que no primeiro episódio, enquanto a menina Loreta caminha pela cidade,há um letreiro do filme Monika e o desejo, de Bergman