Durante uma visita a Niterói, em meados de outubro de 2025, fui convidada pelo meu anfitrião e tive a oportunidade de assistir ao filme Malês (Antônio Pitanga )no cinema em 17 de outubro 2025.
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| Assistimos Malês |
Esse filme era muito aguardado, por tudo o que representa: uma página especial do cinema negro, trazendo à tela uma das mais importantes revoltas negras da história do Brasil.
Entre 1831 e 1840, a instabilidade política após a abdicação de Dom Pedro I provocou diversas revoltas populares de grupos insatisfeitos com o governo central, como a Cabanagem (no Grão-Pará), a Farroupilha (no Rio Grande do Sul) e a Sabinada (na Bahia). A Revolta dos Malês (também na Bahia) foi uma delas.
Seu grande diferencial é que foi a única planejada e executada por africanos muçulmanos, que sabiam ler, escreviam em árabe e mantinham costumes distintos de outros grupos africanos, como os oriundos do Congo ou da Nigéria. Esse traço ajuda a explicar outra particularidade: o objetivo da revolta não era apenas a libertação dos negros, mas também a implantação de uma sociedade islâmica na Bahia.
Outro aspecto que a distingue de outros levantes regenciais é que depois de reprimida, as lideranças que não foram mortos, foram deportados para a África.
Toda essa riqueza de detalhes aparece no filme — é verdade. A língua, os costumes, a estética e os valores dos Malês, apresentados lado a lado com outras tradições africanas (como o culto aos orixás), são algo digno de se apreciar. É um trabalho visualmente interessante e culturalmente potente.
Mas o difícil no filme é que, apesar do elenco talentoso, do tema relevante e dos detalhes inéditos, afinal, a Revolta dos Malês raramente é abordada com a importância que merece, nem mesmo nas escolas, eu achei o roteiro muito fraco, tornando o filme pouco envolvente.
Escrito por Manuela Dias, conhecida por suas novelas, o enredo transforma a revolta em um romance um tanto incoerente, ambientado em meio a escravidão e uma guerra. Um tema tão rico, uma pesquisa tão detalhada, atores excelentes : tudo isso poderia ter resultado em algo ainda melhor. Detesto dizer isso, mas... hoje, com o nível que o cinema brasileiro alcançou, esperávamos mais.
Ainda assim, pela importância e originalidade do tema, o filme certamente será lembrado como o único dedicado a essa revolta . A menos que surja outro, o que sabemos que não é fácil, já esse foi como tirar leite de pedra .
Mas sim, fizemos questão de prestigiar o filme, logo nas primeiras semanas, comparecer, torcer para gostar — e até gostamos —, mas ficou aquele gostinho de quero mais.


