Falo aqui da primeira temporada (2021), que foi especialmente impactante. Ambientada nos Estados Unidos da década de 1950, mostra uma família negra que, após um trauma, deixa a zona rural e migra para uma região urbana com predominância branca, tornando-se a única família negra do bairro, que deseja expulsá-los a qualquer preço. Dentro do contexto da Grande Migração, é terrível mas compreensível o alto grau de racismo, que se torna a maior violência da trama.
Por ser um produto audiovisual, vale destacar que esse enredo forte é contado no ambiente lindo, colorido, limpo, plástico e artificial dos anos 1950, o que reforça o contraste com a violência que não permite indiferença em nenhum momento. Nesse aspecto contraditório, destaco a trilha sonora pontual e cirúrgica, que funciona como pequenas pontadas necessárias.
O conteúdo sobrenatural aparece desde o início, primeiro em flashes, depois com o surgimento de alguns "fantasmas", cada um ligado a um dos protagonistas. Eles representam um passado racista daquele lugar, ancorado em um imaginário religioso cristão de séculos anteriores, que separava “us” (brancos divinos) e “them” (negros malignos). É uma espécie de maldição que retorna quando o racismo já havia desgastado profundamente o psicológico da família. Ainda assim, nada se compara ao terror real dos episódios de violência racial extrema, que infelizmente sabemos não serem apenas ficção.
No fim, há uma luta e uma vitória possível, e a personagem Lucky, a mãe negra devastada por tragédias e traumas, é a única que encontra força para reagir e resgatar a família, entre mortos e feridos. É uma história verdadeira no sentido emocional, sem romantizar racismo ou sofrimento. Uma verdadeira aula de terror psicológico, tão intensa que muita gente comentou ter ficado um pouco traumatizada com o peso dos episódios. Eu dou nota 10 para a temporada.
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| Segunda temporada: clichês de terror |
"THEM": o medo -segunda temporada
O mais difícil de séries è quando se tem uma primeira temporada excelente e a expectativa da segunda é alta. No caso a história mudou , agora gira em torno da detetive negra Dawn Reeve (Deborah Ayorinde) que, em 1991 em Los Angeles, investiga uma série de assassinatos chocantes (cenas fortes de corpos deteriorados 😱)
Paralelamente, acompanhamos a história de Edmund Gaines (Luke James, que, sozinho ,salva a temporada!), um ator negro solitário com dificuldade de encontrar papéis, por isso ganha a vida como personagem de parque infantil. Sem me estender muito, as tramas de Dawan e Edmund se encontraram, inclusive na referência à primeira temporada que, infelizmente, merecia uma continuação melhor. Se na primeira acharam senso comum uma família perseguida por fantasmas; nessa ,apesar do subtítulo MEDO ,o conteúdo é bem mais leve (eu achei, deu pra assistir tudo sem pausa pra recuperação),o racismo é bem mais leve, e o terror psicológico virou um roteiro de filme de terror dos anos 1980, com vários clichês : seriam kiler, psicopata, exorcismo, decapitação, terror com brinquedos e palhaços palhaços : Tudo junto ! Dela só destaco novamente a atuação de Luke James, que quase até o fim, eu não sabia se era bom, mal, farsante ou vítima! Cada olhar era uma surpresa! Muitas palmas a ele, porque o resto é apenas um exemplo de como destruir uma ideia fantástica, como a da série Them.