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quinta-feira, 28 de outubro de 2021

Encontro da APCG : Vocês não imaginam o prazer de estar de volta aos estudos genéticos


 

Eu realmente gosto muito de estar nos congressos de Crítica Genética, esse ano estive em um organizado pelos geneticistas do Piauí, que acompanhei com paixão, assistindo a tudo, se não estivesse em casa (minha mãe estava fazendo exames pré cirurgicos), acompanhava via celular, não perdi nada, como comento aqui.

Sendo assim, foi com muita alegria que escrevi o resumo expandido para participar deste pequeno encontro virtual nos dias 28 e 29 de outubro, como uma introdução para o encontro presencial planejado para outubro de 2022 em La Paz. É sempre ótimo estar entre pesquisadores discutindo sobre literatura.

Entretanto agora estou em um outro momento, voltando a treinar, estou no período de três meses de retorno, tentando não faltar, o que me deixa  sempre muito ocupada e cansada. Na manhã do dia da apresentação eu ainda fui treinar antes de almoçar, quando começamos a mesa, confesso, queria mesmo estar descansando, mas foi só começar que voltei a ficar animada. Mas não tanto para apresentar, como fui a primeira, não teve aquecimento, demorei para engrenar, mas foi um prazer.

Como aqui o resumo expandido aprovado da minha apresentação:

FUNDO JGR: UM  PROJETO LITERÁRIO, UMA PROPOSTA DE  BRASIL

Camila Rodrigues

Doutora  História FFLCH/USP

Para problematizar o papel do arquivo literário como espaço de trabalho de pesquisadores, não apenas da Crítica Genética (PINO; ZULAR, 2007), mas também de outras humanidades, apontamos que o material ali contido nos permite esboçar propostas de Brasil, materializadas em literatura, o que tomamos como autêntica  zona de reflexão e  intervenção dos escritores.  No início do século XXI o historiador Carlo Ginzburg (2002, p. 114) propôs que, para abordar as relações entre História e Literatura no novo século, caberia ao pesquisador deixar a análise do produto literário final,  para concentrar-se em suas fases preparatórias, o que legitimou metodologicamente  a consulta a esse tipo de acervo por historiadores afim de  problematizar tempo e narrativa. Seguindo esta aborgem foi desenvolvido em extenso estudo (RODRIGUES 2009;2014) em História Cultural (HUNT,1995)  tomando como fontes documentos disponíveis no Acervo de João Guimarães Rosa, o Fundo JGR, disponível no Instituto de Estudos Brasileiros (IEB), com aproximadamente 20.000 documentos sobre as funções deste autor  na vida pública, como literato e diplomata (LANNA et al. (org.), 2010). Deste montante, centramo-nos na análise de um recorte de cerca de 3987  documentos que correspondem ao seu meticuloso trabalho de criação literária, através de correspondências, anotações, diários, cadernos, cadernetas, pastas com folhas avulsas, entre outros; a partir dos quais adentramos os “bastidores daquela criação”(WILLEMART,1999) , para  ver esboçadas as linhas de força do projeto literário das"estórias" (ROSA,1962 ; 1967). Sob este viés,  foi feita uma consulta  aos seus Cadernos de Estudos, nos quais o tema oralidade destacou-se nos registros de elocuções, pausas (M%) e ritmos  (RODRIGUES, 2014); conforme foi apresentado em 2013,  no XI Congresso Internacional da APCG  (RODRIGUES, 2015). Dando continuidade a esse estudo, em 2021, trazemos uma face complementar, com alguns textos de recepção dos livros, selecionados e arquivados pelo próprio autor, e que mostram resultados daquele  projeto  literário, nos quais  a escrita x oralidade é discutida  por críticos literários e formadores de opinião e  escritores como Josué Montelo (1962),que observou nas estórias a marca da crise da linguagem;Tristão de Ataíde (1967), que destacou que tanto valor ao que se ouve poderia causar estranheza no leitor; ou  mesmo Carlos Osmar (1962), que comemorou a utilização de novos sons e a busca de “melodias verbais” e por fim Paulo Mercadante (1967), que esboçou um histórico da separação entre fala e escrita na literatura brasileira à época, mostrando como tais obras contribuiram para a História da Literarura e das ideias de seu tempo. Dialogando com o crescente interesse pela análise dos Fundos Pessoais como espaço de debate sobre os Estudos Brasileiros (UMATTI; NICODEMO,2018) e novas  possibilidades de escrita da História do Brasil, salientamos que nesta seleta crítica  também encontramos posicionamentos de intelectuais como Temistocles Linhares (1963),observando  que, para além do trabalho com a linguagem, a narrativa das estórias mostra a vida de outro ângulo; já Carlos Lacerda (1967) lamenta que a linguagem aprimorada  poderia esconder “o movimentos da vida”nas estórias; enquanto Léo Gilson Ribeiro (1962) comemora o advento da produção escrita  de Guimarães Rosa, que resgata séculos de cultura oral  e  Antonio Olinto (1967)  conclui que “fazendo em sons e sentindos”,  Rosa também  “faz um Brasil que é palavra e coisa”. Resgatar estas fontes nos mostra  que, mesmo em seu lançamento, as estórias rosianas foram enxergadas e discutidas como uma proposta  de Brasil e  resgatar tal debate faz emergir face do meio intelectual brasileiro na década de 1960 a partir daquela literatura fincada na escuta e na inventividade. 

Referências bibliográficas

GINZBURG, Carlo.Decifrar um espaço em branco.In: Relações de Força: História, retórica, Prova. Trad.Jonatas Batista Neto. São Paulo: Cia das Letras. 2002. Pp. 100-17.

HUNT, Lynn (org). A Nova História Cultural. São Paulo: Martins Fontes, 1995.

IUMATTI, Paulo Teixeira; NICODEMO, Thiago Lima. Arquivos pessoais e a escrita da história no Brasil: um balanço crítico.Revista Brasileira de História. São Paulo, v. 38, nº 78,p.97- 120, 2018. 

LANNA, Ana Lúcia Duarte; ROSSI, Fernanda da Silva Rodrigues ; RIBAS, Elisabete Marin (org.). Guia do IEB: o acervo do Instituto de Estudos Brasileiros. 2010. (Editoração/Catálogo).

PINO, Claudia Amigo & ZULAR, Roberto. Escrever sobre escrever – uma introdução à crítica ge nética.São Paulo: Martins Fontes, 2007.

RODRIGUES, Camila. A respeito dos Cadernos de Guimarães Rosa e o questionamento da Hisória.In: Romanelli, Sérgio. Compêndio de Crítica Genética: América Latina. Vinhedo, Editora Horizonte, 2015, p. 169-173.

_____. Escrevendo a lápis de cor: Infância e História na Escritura de Guimarães Rosa.Tese de dou toramento na área de História. USP, 2014.

_____.Mãos vazias e pássaros voando: Memória, invenção e não-história em “Tutaméia: Terceiras 

estórias ”, de João Guimarães Rosa. Dissertação de mestrado na área de História. USP, 2009.

_____. Poemas para ouvir : Uma interpretação dos Cadernos de Estudos para a obra de Guimarães Rosa. Manuscrítica (São Paulo), v. 25, p. 95-106, 2013.

ROSA, João Guimarães. Primeiras Estórias. Rio de Janeiro. José Olympio Editora, 1962.

_____. Tutaméia: Terceiras Estórias.Rio de Janeiro. José Olympio Editora, 1967.

WILLEMART, Philippe. Bastidores da criação literária. São Paulo: Iluminuras, 1999.

Referências de Arquivo

ATHAÍDE, Tristão.Fabulógico Guimarães Rosa. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro,19 de ago de 1967.  (Arq.IEB/JGR R 12,3,40)

LACERDA, Carlos.Cartão de agradecimento por Tutaméia. Rio de Janeiro, 01 de ago de 1967. ( Arq.IEB/JGR R 12,3,37)

LINHARES, Temistocles. Significação do conto. O Estado de São Paulo, São Paulo, 26 de jan de 1963.(Arq.IEB/JGR R 7,38) 

MERCADANTE, Paulo.Alivio/ Escrever bonito. Correio da manhã, Rio de Janeiro, 29 de julho de 1967. (Arq.IEB/JGR R 12,3,24)

MONTELO, Josué. Tendências atuais da prosa brasileira IV (trecho).Jornal do Comércio.[S.l.],6 de dez de 1962.(Arq.IEB/JGR 7,52)

OLINTO, Antonio. Tutameia, tutameemos. O Globo, Rio de Janeiro, 26 de ago de 1967. (Arq.IEB/JGR R12,03,041)

OSMAR, Carlos. Guimarães Rosa conta as suas ‘Primeiras estórias”. Gazeta de notícias.[S.l.],30 de set de 1962.(Arq.IEB/JGR R 7,121)

RIBEIRO, Léo Gilson (org).Panorama do mundo. Jornal de Letras.[S.l.],05 de out de 1962. (Arq.IEB/JGR R7,104)

No simpósio "Arquivos: práticas e perspectivas de um campo em expansão" eu dividi a mesa, organizada pelo Cléber Araújo Cabral, meu velho conhecido dos eventos na UFMG, com mais três pesquisadores, um é o Lueldo Teixeira, conhecido geneticista do Piauí que pesquisa o arquivo do  piauiense Fontes Ibiapina; o outro é o erudito pesquisador Jonatas Guimarães, que pesquisa o arquivo de  Autran Dourado; a quarta participante é a jovem Ana Beatriz Teixeira, que participa de um interessante projeto de tradução de uma peça do irlandês W. B. Yeats.



Na conversa pós apresentação Kléber colocou algumas provocações e sugeriu livros  - como "Algo Infiel: Corpo Performance Tradução", de Guilherme Gontijo Flores e "Escrever de ouvido: Clarice Lispector e os romances da escuta ", de Marília Librandi - ,  que, em tempo, devo visitar. É sempre uma alegria voltar aos estudos literários.  

 Se for do seu interesse, assista a mesa: 


Vocês não imaginam o prazer de estar de volta aos estudos genéticos  ! 

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quinta-feira, 12 de abril de 2018

Campanha presidencial vitoriosa de Lula no cinema

Estudando a minha pesquisa de mestrado, fiz uma atividade de geneticista e abri as pastinhas coloridas que eu fiz para cada capítulo da dissertação e no meio dos textos xerocados e rascunhos, achei esse panfleto de 2004,  às vésperas do período mestrado propriamente dito(2005-2009), e que divulgava de um lado o emocionante filme Peões, de Eduardo Coutinho, e do outro o filme  Entreatos, de João Moreira Salles, ambos tratando da campanha e da  figura de Luiz Inácio Lula da Silva em 2002, cada um a seu modo.
Lembro bem como esses filmes, lançados praticamente juntos,  causaram grande repercussão na FFLCH e que eu assisti ambos no que se chamava Espaço Unibanco de Cinema na rua Augusta,um verdadeiro batlocal para encontrar os fflechianos naqueles tempos... 
Claro que ter achado esse panfleto guardado há tanto tempo nesse momento drástico da nossa vida política e também para o Lula é muito importante, porque mostra que faz tempo que ele vem sendo objeto de reflexão da minha parte e por isso também serve para contar uma parte da minha história, da história da minha geração, que estudou na USP entes e durante era Lula e tem dela uma visão determinada. Enfim.



sexta-feira, 11 de março de 2016

"A respeito dos Cadernos de Guimarães Rosa e o questionamento da História" Camila Rodrigues

Enfim eu escaneei meu artigo "A respeito dos cadernos de Guimarães Rosa e o questionamento da História" que foi publicado no livro "Compêndio de Crítica Genética na América Latina" (2015) . Escaneei porque quero usá-lo como um dos textos de apoio para o minicurso que ministrarei em junho. Eu tenho ele em PDF, mas para socializar, tentei colocar em imagens no blog, se ficar muito ruim de ler, por favor solicitem a versão PDF. Grata! 

sábado, 31 de março de 2012

Lidar com manuscritos: Questionamentos éticos!

“... na cultura contemporânea que a questão dos limites se faz ainda mais necessária diante do desejo de transparência, do culto da auto-exposição ou da constância da pergunta "como você escreve?". Quando não há qualquer coisa que seja produzida na intimidade que não alcance um valor mercadológico no instante seguinte (premência que sofrem com muita força os manuscritos de trabalho, as cartas, etc.), seria interessante que o crítico genético se perguntasse pelos limites de sua própria pesquisa. Isto é, o trabalho do geneticista, com mais força do que qualquer outro trabalho crítico, é um trabalho que depende do questionamento constante de seus próprios pressupostos."
Roberto ZULAR. CRÍTICA GENÉTICA, HISTÓRIA E SOCIEDADE.
http://cienciaecultura.bvs.br/scielo.php?pid=S0009-67252007000100017&script=sci_arttext


Eu não sou crítica literária, nem tampouco geneticista, mas também pesquiso produções manuscritas e sempre, sempre me pergunto "qual a minha legitimidade em consultar estes textos produzidos para permanecerem em âmbito privado (como cartas e Cadernos de Estudo) e que agora, eventualmente, já foram até publicados?
Será que me questionar sobre isso quer dizer dar uma super atenção às questões individuais? Sei não...
Ainda na graduação eu estudei um pouco sobre a lida do pesquisador com cartas e me dei conta de que este gênero é bem mais complexo do que parece: se eu leio as cartas escritas, devo ter noção que quem as escreve nunca é diretamente o seu autor, mas um ser fictício que ele criou para se comunicar com seu destinatário naquele momento. Portanto, tem seu alto grau de ficção e isso deve sempre ser levado em conta, só que historiadores costumam ter grande dificuldade em lidar com ficção...
Claro que, à medida que exponho esses meus questionamentos internos, muitos poderão retrucar de imediato. Não me importo. São as marcas do meu processo de pensamento em ação...