segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

O taxista e a leitora de Julio Cortázar



Como sabem, estou sendo uma  leitora apaixonada de Cortázar, não é? Ele e a vida literalmente em movimento está me sensibilizando muito... tanto que nesse fim de semana, voltando de um sensacional  show do Tom Zé, peguei o metrô até a Barra Funda, me sentei e uma estação depois entrou e ficou em pé, perto de mim, um jovem rapazinho com a camisa do SPFC, time que  tinha jogado aquele dia e tal. Era um  moço muito tipo são paulino mesmo e não se sentou no assento especial, preferiu ficar em pé, até que apareceu uma  senhorinha falante, com sotaque espanhol, ele então abriu espaço para ela se sentar no  assento especial. Ela começou a conversar com ele, que respondia sempre com muita paciência as perguntas que ela fazia, isso foi algo que me chamou a atenção. Eles dois iam desembarcar na República e ela pediu que ele abrisse o caminho para ela sair, quando ele foi fazer isso ela, que poderia ser uma espécie de reencarnação feminina de Cortázar, se virou para mim e perguntou: "esse moço é bonito, não achou?" rsrsrs
Eu confirmei: Sim, muito bonitinho! E ela: vocês tem que se comunicar mais, não é? 

Ai o trem parou e eles desceram conversando animadamente (muito provavelmente ela comentou com ele que eu tinha confirmado que ele era bonitinho, mas ele não virou nenhuma  vez para mim... acontece, não era para ter sido). Mas a noite não tinha acabado, ainda. Na Barra Funda eu fui pegar um táxi  para casa, não era nem meia noite (eu ainda não tinha virado abóbora) e eu queria mesmo era voltar para casa e desfrutar de toda a energia que Tom Zé tinha me dado... no ponto de táxi  havia uma moça loira sentada, esperando e assim que eu perguntei se os táxis estavam demorando muito ela me respondeu: olha ele ai...
Eu perguntei primeiro a ela: você não vai? Ela fez que não com a mão e eu agradeci  e , enfim, olhei para o taxista, que já me perguntava, como se precisasse dessa informação para confirmar se ia ou não me levar:  "vai para onde, moça?"


A questão é que, assim que eu olhei para ele - que estava realmente preocupado com outras coisas -  senti um grande baque: o cara era jovem e  LINDO! De uma tal forma que minha reação foi absolutamente inusual para mim: abri a porta traseira (eu sempre gosto de sentar na frente, ao lado dos taxistas, porque eu sou conversadeira - o que faz com que eles achem que eu tô dando mole, e os assédios se repetem sempre, independente das cidades -, mas eu me retrai muito essa noite. Expliquei o percurso e mantive um silêncio brutal, porque estava sentindo muitos estímulos simultâneos que me calaram (coisa muito inédita): além de jovem e bonito, ele também era cheiroso e ouvia um som totalmente inesperado para mim : Hip Hop...

 ia ouvindo a música e sentindo tudo que estava acontecendo, uma piração total... deve ter demorado muito (sei porque já estávamos bem longe da Barra Funda) quando ele, enfim, falou comigo, queria saber se eu voltava do trabalho (rsrsrs de decotão, as 23:00, só se fosse um trabalho um tanto alternativo, né? rsrs) . Respondi tranquilamente, ainda que ele tenha me tirado de uma espécie de transe ... olhei as mãos, sem aliança (básico de taxistas), ai ele perguntou com quem eu tinha ido ao show, e quando eu disse que fui sozinha, e ele se surpreendeu... eu então fiz a única pergunta da noite: "você  passa a noite trabalhando agora? ...  Ele respondeu que sim, que não costumava trabalhar de noite, mas estava fazendo uma hora extra por causa da inflação e como  não ganhou na Mega Sena, nem se casou com uma mulher rica...  eu só pensei: como eu queria ser rica agora! Fiquei com peninha do moço, ui ui  rsrsrs
Enfim parei em casa, já devia ter virado abóbora, mas , ao contrário do são paulino bonitinho, fiquei um tempão olhando o táxi ir embora com o homem mais interessante que eu tinha encontrado aquela noite, sem dúvidas.


Acho melhor diminuir  a dose de Cotrázar, não ?



Em 24 de janeiro de 2015 : um reencontro muito importante!







Em 25 de janeiro de 2015 eu ganhei de uma grande amiga  um dos 
presentes mais especiais da minha vida: um retrato de Guimarães Rosa feito a lápis! Tem coisa mais a cara de Camila? Emoticon heart
Vou pendurar no quarto Emoticon smile Viva Rosa! Viva a amizade verdadeira! 
Além do retrato de Rosa a lápis,me encheram de mais  mimos... em uma caixinha linda, embrulhada em um papel de presente de rosas versão HARD, eu encontrei uma porção de Trident de Melancia e o livro de Wittgenstein Ludwig da coleção OS PENSADORES , que foi como uma assinatura: foi a Mirella que eu o presente (só podia). Adorei tudo, tudo, vocês imaginam, não é? Mas o mais importante foi mesmo regatar o contato com ela, depois de muitos percalços sérios e duros que nos manteve distante para além das nossas vontades o que me fez chorar tanto, pensando que talvez eu pudesse nunca mais voltar a vê-la, poder encontrar essa grande amiga lá, cheia de amor para mim... isso não tem preço! Me senti muito, muito amada, logo no primeiro mês do ano!

2015 e já show do Tom Zé !!!


O show do Tom Zé que assisti esse fevereiro , ao contrário daquele de novembro de 2014, foi um clássico show do Tom! Com muitas piadas, muitas gracinhas (usou até uma calcinha!), músicas clássicas do repertório dele e terminou com Xique xique... que saudade! Depois de tanto tempo ele tocou até Ogodô, que era meio que uma vinheta dos seus shows ... 
Como eu amo Tom Zé Emoticon heart

Bob Marley e uma perceptiva mais calma na vida ...


ANDO OUVINDO MUITO BOB MARLEY (só isso, ok?) porque acho o som muito bom e me lembro desse trecho do romance de Schertenleib, mas acho que não sou (ou não estou) tão sensível a ponto de me "mover de maneira mais mole e leve" (rs), mas que é um alívio sonoro, isso é ... e ai, nada é tão sério assim, sacam? 

"Por reggae eu nunca tinha me interessado, nem mesmo durante meus anos de haxixe; naquele tempo, eu ouvia um complicado jazz rock, que andava no encalço de meus pensamentos como o cão faz com o gato. O riso sardônico que se escancarou em meu rosto quando toquei o CD de Marley pela primeira vez me mostrou que eu havia encontrado o que tanto tempo estivera procurando: sossego, serenidade. Não ouvia mais nada diferente, apenas reggae; comecei a  me mover de uma maneira mais mole, leve, enquanto meus ossos pareciam mais pesados, mais arredondados. Tornei-me o flâneur sereno a vaguear dentro da própria casa. Deixava o telefone tocar, desliguei a secretária eletrônica e acompanhava com o ouvido as batidas desaceleradas do meu coração.
Será que todos os papagaios odeiam reggae? O  papagaio Vian em todo caso se punha a dar gritos estridentes e pulava para cima e para baixo batendo as asas assim que começava a tocar Bob Marley. Como  isso, no caso, acontecia praticamente dia e noite, o pássaro levava uma vida difícil  : o que mais lhe agradava era estar no alpendre ao lado da porta de entrada, lá ele se via a salvo de Marley. E eu de seus berros. Comecei a usar a porta dos fundos para evitar o pássaro magoado e seu olhar triste. A mim a música fazia bem. Eu sorria, zombava. Sem razão? Isso é coisa para os outros quebrarem a cabeça, dizia a mim mesmo e, com minha alegria, deixava perplexos vizinhos incapazes de desfrutar da sua."
Hansjörg Schertenleib "A orquestra da chuva", p. 73-4