Alguns realizadores de " Quartiers Lointains 6 - Afrofuturismo”! |
Nesta semana assistimos uma seleção de curtas com o tema Afrofuturismo.QUE SELEÇÃO DE FILMES FODA! Queria tanto ter assistido na telona, nossa! Eu amo curtas, são mais difíceis de assistir, contém muitos detalhes, vendo na plataforma, é impossível não voltar e voltar e voltar... São 5 filmes:
1- "E dai se as
cabras morrem", Marrocos, 2019, dir. Sofia Alouí
O filme
conta a história de Abdellah, um jovem pastor que vive nas montanhas e é forçado a buscar comida para as cabras no
mercado para que elas sobrevivam, mas ao chegar à cidade, vê que todos se
refugiaram na mesquita com medo de um fenômeno sobrenatural que teria ocorrido
ali. O filme é esteticamente lindo, com
imagens que adoraria ter visto na telona, mas que até na telinha do computador
enchem os olhos. O fato sobrenatural ocorrido Abdellah vê no celular, mas a gente só sabe o que é no
final do filme, quando uma luzes estranhas invadem o céu das montanhas,
assustando as cabras. Mas ainda na cidade o pastor se questiona: “E se não
estivermos sozinhos no universo? E se tudo o que aprendemos com nossas
tradições estiver errado?” Questões que
a diretora Alouí apontou na live sobre a seleção, como ainda muito pertinentes
ao Marrocos do século XX. E a pergunta que a diretora não respondeu, pois não
era de seu interesse inicial, é se esse
filme seria mesmo afro futurista. De qualquer forma é um filme fantástico.
2-
"Este foi para o mercado”, Quênia, 2017, dir, Jim Chuchu
Uma
artista queniana monta uma estratégia surpreendente para conquistar o mercado
internacional de arte contemporâneo. Em menos de cinco minutos este curta da
série “Nós precisamos de preces” (We need prayers) é uma bomba crítica,
sarcástico,incômodo ao questionar o afro futurismo e como isso se tornou uma
forma de vender a altos preços a ideia de um futuro afro. Na live com os
realizadores, Jim Chuchu, o habilidoso diretor, concordou que a presença deste
filme em uma seleção de Claire Diao não
porque ele é afro futurista como era o filme Pantera Negra, mas porque é uma bem arranjada colocação crítica
sobre o termo cunhado na diáspora americana, vinda da África, apresentando alguns
dos incômodos sentidos no continente ao verem suas crenças, tradições, arte e
cultura, perderem significados originais, moldarem estereótipos e se transformarem em um poço de dinheiro que
nunca volta para a África.
3- “Ethereality”, Ruanda, 2019, dir Kantarama Gahigiri
Um
astronauta perdido no espaço volta à sua terra natal depois de 30 anos e se
questiona sobre o que teria mudado depois de tanto tempo. É um filme bastante
original, traz a tradicional figura do astronauta africano, que já tinha visto
em filmes como Afronautas, mas agora em outra
situação: caminhando pela cidade, sem ser percebido por ninguém, assim como
tantos dos africanos em diáspora que migraram para Europa, por exemplo. Citação
transcrita mais ou menos literalmente “Lar é local onde o ser se sente à
vontade, o país da pessoa e as vezes, para sobreviver, é preciso abandonar o
lar. Diferentes das girafas e elefantes, leões não migram. Muitas pessoas
também não. Mas quando não é possível voltar ao lar,precisam se apegar a algo ,
uma esperança , que é expectativa ou desejo de que algo melhor aconteça
(conseguir trabalho, documentos, etc), mas esse sentimento de confiança não
anula jamais o que o imigrante trouxe de sua terra dentro de si e tantas vezes,
ao voltar ao lar original é encontrá-lo modificado, pois você mudou, os lugares
mudaram.
4- “Hello, Rain”, Nigéria, 2018, dir. C. J. Obasi
Começa
com uma bela epígrafe :
“Mulheres africanas , em geral, precisam saber que não tem problema ser como são, ver sua forma de ser como uma força, e se libertar do medo e do silêncio”. (Wangari Maathai, ambientalista queniana, ativista e Nobel da paz 2004)
Rain é
uma bruxa que, por meio de uma combinação alquímica de juju (magia) e tecnologia de computadores e celulares, cria
perucas que dão a ela e suas amigas Philo e Coco poderes sobrenaturais, que
acaba causando um cenário de destruição e mortes. É o mais divertido e
colorido dos filmes, no entanto tem ares
de filme de terror. Bastante crítico a itens de cultura nigeriana, inclusive a
cinematográfica, como Nollywood: “África, conhece a si mesma”. O filme é
inspirado no romance “Hello Moto” e apresenta três mulheres amigas lindas e poderosas que, depois da experiência mágico
tecnológica das perucas, se tornam violentas e assassinas. Rain é a feiticeira
tecnológica que defende que existe magia na ciência, se veste de azul, mora num quarto azul e tem o
seu namorado que se veste de azul, é ela a responsável pela experiência das perucas
que suas amigas usam para viajar a Paris fazer compras. Philo, a da peruca
verde, vira uma assassina cruel, diz “Eu sou a Besta, sou admirável e linda”, se
acha melhor que todos, de quem arranca dinheiro e rouba-lhes a essência e
assiste filmes de Nollywwod, “a única coisa digna nesse país esquecido por Deus”.
Coco é a que veste a peruca rosa, diz que seu esposo está sempre fora,
trabalhando para ela: “meu corpo é fogo, meu rosto é impecável, meu cabelo é
poder”. Rain tenta, sem sucesso, reverter o feitiço, pois sua intenção com as
perucas era a de que elas gostassem mais de si, não de que virassem assassinas
e sanguessugas, como todas acabaram virando. Na conversa com os realizadores Obasi comentou
que seu desejo era homenagear as mulheres, em homenagem às duas irmãs que
perdeu, e mostrar que são valiosas por ser quem são.
5-
“Zumbis”, 2019, República
Democrática do Congo, Bélgica; dir. Baloji
O filme
é uma viagem alucinante pela noite de Kinhsasa,
enfocando a relação das pessoas com os celulares e a necessidade de estarem o
tempo todo conectados.
No role em
que as personagens vão se divertir , a canção entoada desde a barbearia é:
“as
pessoas não dançam mais, todo mundo tem seu holofote” ... apenas selfies!
Um filme
bonito, com pessoas bonitas dançado. Vejamos algumas imagens
Tudo isso em curtas metragens: Só quis deixar registrado que a cada ano a minha paixão por curtas se justifica!