quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Antropologia e a revisão do conceito de Cultura

 
Antes que alguém me diga que essas coisas são mais do que conhecidas para os cientistas sociais, digo que tenho plena ciência de que isso deve ser o B+A = BA  para eles,  mas para mim, confesso,  são perspectivas novas e interessantes para mim:

 "A partir da década de 1960 (...) Na revisão do conceito de cultura, os antropólogos, ao invés de tomá-la como algo empiricamente observável e delimitado, cada vez mais abdicam de falar em costumes, valores, crenças para frisar que o que que de fato interessa está mais embaixo.Ou seja, não são os valores ou crenças que são os dados culturais, mas aquilo que os conforma. E o que os conforma é uma lógica particular, um sistema simbólico acionado pelos atores sociais a cada momento para dar sentido a suas experiências.Ela não é mensurável,  portanto, e nem detectável em um lugar apenas -é aquilo que faz com que as pessoas possam viver em sociedade compartilhando sentidos, porque eles são formados a partir de um mesmo sistema simbólico."


Clarice Cohn. Antropologia da criança,p. 19

Os planos não realizáveis do Xico Sá!

O texto original está aqui. Mas eu roubei e copiei aqui:

Plano bom é plano não-realizado

26/12/12 - 11:09


Trilha para os últimos dias do mundo que não acabou
Nas espumas flutuantes de mares e cervejas crepusculares, reflito:
Plano bom é plano não-realizado.
Cronicamente inviável e repetitivo vos digo, como a cada fim de ano: nossos planos são muito bons, como na canção dos Doces Bárbaros, nossos planos são recicláveis, como os de mil novecentos e antigamente…
Nossos planos são os mesmos que se arrastam desde século seculorum, nossos planos são tão conhecidos, tão íntimos, eles nos acompanham há tanto tempo que viraram nossos amantes, nossos melhores amigos.
Nossos planos renascem a cada fim de ano como os nossos melhores cúmplices.
Nossos planos sabem que se os realizássemos à risca a vida perderia a graça, seríamos perfeitos demais, estávamos todos magérrimos, malhados, gozando a saúde dos deuses ou dos imortais da ABL, seríamos todos um bando de Davids Beckhans e Giseles.
Nossos planos são muito bons, mas sinto muito por eles, coitados, mais uma vez não serão cumpridos na íntegra no ano da graça de 2013.
Cumpriremos, no máximo, os 10% da humaníssima cota do possível, os 10% do garçom, justa medida.
Nossos planos são muito bons e nunca foram atrapalhados por crise alguma. O que nossos planos enfrentam para valer é uma invencível guerra interna nos fracos juízos repletos de defeitos de fábrica.
Nossos planos são muito bons, mas, como sempre, ainda temos o benefício da dúvida, ainda temos a complacência e, se, por acaso, faltar alguma conversa fiada no estoque, botamos a culpa nos outros –nosso inferno mais próximo.
Nossos planos mal devoraram a ceia do Natal, nossos planos famintos, nossos planos eivados pela fome histórica de todos os semi-áridos e Jequitinhonhas, e lá estão nossos planos a dormir a mais preguiçosa das siestas espanholas.
Nossos planos estão dengosos, como nunca, para o ano novo, nossos planos querem colo, nossos planos odeiam uma academia de ginástica, um cooper às cinco da matina, uma dieta saudável…
Nossos planos não têm medo do colesterol e muito menos da gordura trans, nossos planos adoram uma costelinha de porco, como aquela que Maria fez ainda no Paraíso, costelinha com cerveja preta.
Ah, nossos planos lamberam os beiços, mesmo não sabendo o que seríamos de nós dali a duas voltas do sol no eixo da existência.
Nossos planos não se desgastam à toa, não vivem de estresse, não andam de automóvel na cidade de SP, nossos planos são eternos pedestres e adoram uma rede depois do almoço.
Nossos planos são do interior do mato e ruminam um capinzinho entre os dentes manchados pelo cigarro brabo do tempo.
Nossos planos se espreguiçam, estralando todas as juntas e costelas, quando ouvem falar outra vez de novos planos.