UMA BOA NOTÍCIA: Já é o segundo ano que me inscrevo nos cursos de verão online da FFLCH, mas porque é muito concorrido, nunca fui sorteada. Dessa vez me inscrevi em quase todos os de humanidades, psicanálise e literatura, e desde a semana passada recebo avisos que não fui agraciada.
Em 3 de fevereiro eu soube que fui sorteada para o curso "Lendo a poesia de João Cabral de Melo Neto".
Para mim a mensagem do universo é clara: fui sorteada não para assistir um curso sobre um tema "necessário" ,mas sobre literatura, para meu bel prazer😍 Eu mereço passar duas semanas de fevereiro me lambuzando de palavras! ❤️
Comentários sobre o curso, aula a aula
17 de fevereiro
CURSO DE VERÃO (aula 1-Um refresco): Tive minha primeira aula do curso "Lendo a poesia de João Cabral de Melo Neto", e como imaginei,foi uma delícia. O professor Marcos Vinicius Ferrari, é um doutorando antenado, aprendi muito. Falando do início da trajetória de Cabral, amei o título do primeiro livro "PEDRA DO SONO" (1942), que une a "evane vêcencia" (eu precisava ouvir um vocabulário mais poético ♥️) do sono e a dureza da pedra)! Vimos um jovem Cabral que se aproxima de referências, mas ainda não "encontrou a sua dicção. Aquela que depois vai "conquistar a duras penas" (a expressão significa esforço,mas as palavras isoladas , "duras" e "penas",são tão contrastantes quanto pedra e sono. Dei uma viajada KKK
Me identifiquei super com Cabral desta fase, onde o eu lírico,quando aparece , é pra dizer que não está! Fase em que ele "frequenta" lugares,mas sabe que ali não é o seu lugar : Muito eu na vida toda! AMEI 💕
Que refresco pra minha alma esse curso! Obrigada Deus e Orixás!
19 de fevereiro
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Comentários pré aula |
Segunda aula do curso de verão FFLCH USP (petrificar): "Lendo a poesia de João Cabral de Melo Neto", com professor Marcos Vinicius Ferrari.
Hoje não estava tão calor, nem eu estava tão solar,nem a aula foi tão alegre. Entramos no Cabral petreo, que procura a ordem que vemos na pedra, que permanece, nada gasta, resistência máxima ao imponderável pelo tempo : a pedra silenciosa" tentação cabralina"! Esse poeta " sem plumas", como um cão. Chegamos perto do Capibaribe, mas não mergulhamos nele, como quem perde aquilo que nem tem. Até segunda, pretendo estudar essas duas aulas. Tô amando!
24 de fevereiro
TERCEIRA AULA do curso de verão FFLCH USP (múltiplos de 4): "Lendo a poesia de João Cabral de Melo Neto", com professor Marcos Vinicius Ferrari.Hoje o tempo virou, choveu e nossa jornada pela poesia cabralina se tornou mais complexa, falamos de intensas ligações com as artes plásticas, de linhas, camadas de tempo e corrosão, das águas do Capibaribe, tão espessas quanto a vida, e isso é resistência. Mas também falamos de amor na poesia , pela ótica da sensualidade, a partir de Quadrena (1959), em poemas estupendos como "Rio e/ou poço" onde a mulher se dá a ver em suas linhas essenciais, comparada a diferentes águas: se em pé, em suas atividades cotidianas, ela seria leve e superficial como a água de riacho; deitada, se pareceria com a água de um poço muito profundo que para conhecer é preciso imergir. Eu acho que adentrar na poesia cabralina desse jeito é muita coisa para uma leitora tão prosaica quanto eu, só arranho entender, mas estou adorando, pena que quarta o curso termina 😢!!
26 de Fevereiro
CURSO DE VERÃO: Teremos nossa última aula logo mais. Nesses quatro breves encontros, lendo a poesia de João Cabral de Melo Neto, fiquei mais seduzida e amedrontada com a dureza eruditíssima desta obra e deste poeta, só ponto de ficar tão perdida que assumi ser demais para mim (sozinha não encaro esse terreno pedregoso). Mas com as leituras na aula, foi muito bom ! Mais tarde faço um comentário sobre a aula final com fotos, como de costume 😝
QUARTA AULA do curso de verão FFLCH USP (múltiplos de 4): "Lendo a poesia de João Cabral de Melo Neto", com professor Marcos Vinicius Ferrari.
Neste encontro final ainda estava muito calor e estava com um misto de indisposição e lamento: ao mesmo tempo que me sentia um tanto indisposta,por ter consumido tantas coisas densas, passadas em apenas quatro encontros seguidos, sobre os quais não tive tempo de repensar ou digerir, eu também não queria que acabasse. Agora é o tempo da assimilação, de rever, reler, rememorar. Depois,bem depois, voltarei a escrever sobre o curso. Ontem mesmo comentei que ler os poemas de Cabral é como se atirassem pedras na minha cabeça. Pois bem, por hora posto a estrofe final do poema "Graciliano Ramos", no qual o eu lírico (que é Cabral, simulando a voz de Graça) se dirige ao seu leitor ("com quem falo"), dizendo que a intenção daquela poesia deve ser justamente a de provocar um solavanco, desmontar qualquer conforto, provocar um despertar, como um soco.
Para mim acho que deu certo. A cada poema ,um ataque revelador...
Reverberações...
Depois da última aula em 26 de fevereiro :
" DESPERTADOR: Venho dizendo a cada aula do curso "Lendo a poesia de João Cabral de Melo Neto" que ler cada poema cabralina é uma pedrada. Hoje, aula final ,eu recortei esse trecho onde ele se dirige ao leitor, o qual deseja despertar com socos na porta! Está aí um escritor que não deseja agradar o leitor. E consegue muito!
Em 19 de fevereiro
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Levei a postagem ao professor e conversamos sobre em 19 de fevereiro |

Foi muito bom assistir esse curso, agora já tenho todo instrumental pra estudar e ler melhor a poesia cabralina ! Pena que foi num período conturbado do ano, tempestades, carnaval, auto sabotagem... pelo menos concluí o post sobre ele!
SALDANDO DÍVIDAS: Tanta coisa aconteceu no fim do mês passado, depois veio o carnaval e eu quase ia esquecendo de montar um post sobre minhas impressões do curso de verão "Lendo a poesia de João Cabral de Melo Neto", que acabou em 26 de fevereiro. Hoje, 13 de março, acabo de receber o certificado e ,enfim, copiei e colei aqui as impressões escritas nas redes, aula a aula. Obrigada universo por esse presente de mergulhar em poesia tão densa!
SUSPEITAS: Sobre Cabral, tempos depois, acho que tem muitas angústias de poeta arquiteto, que foi "menino de engenho" e que não sabe, e nem sempre tem legitimidade em se aproximar dos populares. O professor do curso salientava não haver intenção de escrever poemas musicais,não há intenção rítmica para tanto (como se vê na prosa rosiana). Mas eu acho que há sempre uma tentativa, às vezes inconfessada, de serem poemas para vozes. Ainda que tenha escrito poemas encomendados para o teatro (como Morte e vida Severina), são sempre difíceis de encenar,muitos nunca chegaram a ser... Mas,me parece, isso foi sempre um desafio oculto, um nem sempre assumido desejo de ser um poema ao qual se empresta o corpo. A história de "Os três mal amados", que seria um poema dando vozes aos personagens (eu lírico) de "Quadrilha" de Drummond. Cabral escreveu lindamente as falas dos mal amados João (que foi para os EUA), Raimundo (q morreu de desastre) e Joaquim (q se suicidou ). Não deu voz a J. Pinto Fernandes porque esse não tinha entrado na história. Mas, segundo o professor Marcos, Cabral não conseguiu dar voz a Teresa (q foi pro convento),Maria (q ficou pra tia) ou Lili (q casou com um sobrenome). Teria travado. Dois enigmas para o poeta da pedra : o de dar vozes (corpo) e o da mulher. Suspeitas...