domingo, 24 de fevereiro de 2013

Música clássica para crianças

Ontem comprei dois CDS de música clássica para crianças para usar na minha pesquisa.
Um deles chama-se "Meu primeiro disco de Mozart"

Ele contém uma seleção de 12 trechos originais, na interpretação da Capella Istropolitana... a coisa é serinha, mas para aliviar, no encarte tem uma mini biografia do compositor;joginho dos 5 erros e desenhos de Mozart para colorir;


 
 O outro  é "Baby Bach", e trata-se uma exemplar da série "Baby Einstein"
 
Dos estúdios Disney, ali temos uma seleção de 17 trechos musicais de Bach inspirados e "adaptados" às crianças, o que no encarte explicam ser "uma suave experiência de música clássica para seu bebê", que seria " a música de Bach nos lembra complexas melodias e baixos com fortes linhas musicais. Em Baby Bach, deixa de existir as sombrias e pesadas notas do órgão. Seu filho descobrirá o melódico e harmonioso movimento das mais famosas composições de Bach."
Achei que são duas tentativas louváveis de levar a música clássica às crianças, gostei de ambas, especialmente porque em nenhum dos discos temos qualquer referência direta a preconceituosa ideia do 'Efeito Mozart", ou algo assim... destas maneiras, acho ótimo iniciar as crianças a diferentes sonoridades.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

São só dois lados da mesma viagem ...

Já falei aqui sobre uma verdade que sempre nos causa estranhamento: O amor acaba. E isso nunca  nos parece natural, já que  nascemos para amar, dependemos disso tanto quanto do ar para respirar então é inconcebível que ele também acabe, e acaba mesmo muitas vezes na vida. Pensar nisso é bastante asfixiante. Já perguntava  Drummond:
 
"Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
amar e esquecer,
amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar? "
 
 
Mas os relacionamentos acabam, a gente acha que o amor acabou, mas talvez ele só tenha que se renovar, em outras direções com outras pessoas.Isso acontece no espaço do mundo. No meu caso pessoal, existe pelo menos um lugar na cidade onde eu posso identificar claramente esse movimento: a esquina das ruas Clélia e Turiassu na Pompéia. Foi lá que, anos e anos atrás, aconteceu o meu primeiro beijo, e também foi lá que (ocasionalmente?), ontem aconteceu o beijo de despedida da  história de amor mais recente que vivi: O espaço do encontro é também o da despedida... por isso que minhas últimas  palavras, apesar da situação de final, apontavam para um futuro, não porque o amor tinha acabado completamente, mas porque ele apenas mudaria de direção : "tchau meu amor, seja feliz"
 
Um dia a gente aprende que, apesar da sensação de estar em 'terra arrasada' que nos coloca o fim de uma relação, ela acaba fazer o amor renascer , é inevitável... e isso pode ser no mesmo lugar (a tal terra arrasada)  e tempo (o presente radical onde morreu) : são só dois lados da mesma viagem...
 

sábado, 16 de fevereiro de 2013

Wisnik fala sobre Abraçaço


O texto doJosé Miguel Wisnik está diponível neste link. Colo aqui:

É foda

O fim do mundo segundo Octavio Paz e o último disco de Caetano Veloso A crença no fim do mundo com base nas predições do calendário maia encontra esclarecimentos inesperados na nova edição do livro clássico de Octavio Paz sobre poesia, chamado “O arco e a lira”. É que o ensaísta mexicano foi quem mais pensou, até onde sei, as diferentes formas de imaginação do tempo nas culturas ocidentais e orientais, antigas e modernas. Para os povos que alimentaram uma visão cíclica de tudo, como os maias e os astecas, o começo e o fim do mundo eram figuras incontornáveis para se conceber o giro do tempo. Segundo Paz, os astecas temiam o fim do mundo a cada 52 anos. E os maias, que não poderiam viver sem datar o fim do mundo, quando a data chegou, o mundo deles já tinha acabado desde muito tempo. A modernidade converteu o tempo circular numa visão linear e progressiva, culminando no Futuro. O tempo moderno, em linha reta, é um tempo idealmente sem fim. Esse mito prevaleceu do século XVIII até certa altura do XX, mas o Futuro, tal como era concebido, como o depositário privilegiado do progresso, também morreu. Sem dispor da imagem do tempo, nem cíclica nem linear, a não ser como resíduos de um tempo extinto, nós, contemporâneos, somos assaltados de novo pelo anúncio da catástrofe cósmica na forma “atroz e grotesca do Acidente”, que ataca como ameaça real e como bobagem. Porque essa volta do fim do mundo não é uma confirmação circular do sentido do tempo, como nos antigos, mas um índice da falência do sentido, enquanto vai se configurando um talvez outro sentido — extraído do fundo desse tempo sem figura, cujo transe estamos vivendo. Só a tolice e a perplexidade explicam a ânsia de encontrá-lo nas extravagâncias de Nostradamus, num códice perdido, num cálculo cabalístico, num antigo calendário. O mundo já acabou muitas vezes, sempre defasado das profecias. Octavio Paz fala dessas questões como poeta, num apêndice de “O arco e a lira” que se chama “A nova analogia: poesia e tecnologia”, escrito em 1967. Para ele, o poema é linguagem rítmica, o ritmo é o fundamento de tudo quanto existe, e a poesia é intuição, encarnada na palavra, das configurações do tempo, seus dilaceramentos e suas conciliações, dentro da história e para além dela. É nessa hora que eu vou dar um salto, para o qual peço a licença do leitor, se parecer brusco demais. Mas é que estou pensando também, todo o tempo, numa situação poética especificamente contemporânea: a do último disco de Caetano Veloso, que completa a trilogia iniciada com “Cê”, sem esquecer o “Recanto” com Gal. Como é sabido, desde “Cê” Caetano adota a sonoridade mais seca e contundente da banda, que lhe abre novos públicos e desagrada a outros que lhe eram cativos. Independentemente disso, o que me interessa dizer envolve a composição: as melodias são mais retas, as linhas melódicas mais repetitivas e menos expandidas, as letras ou muito diretas e desmetaforizadas ou alusivas, enigmáticas e, no limite, ostensivamente charadísticas, embora ainda assim inteligíveis. O projeto começou com a ideia de escrever como um outro: Caetano ia lançar “Cê” sob a autoria de um heterônimo pseudônimo. O disfarce acabou não se dando literalmente, mas pôs de fato em circulação um heterônimo cancional, isto é, uma dicção diferente daquela a que se estava acostumado. O que trazem essas escolhas rítmicas potentes, esses timbres crus, essas melodias descarnadas, embora várias vezes pungentes no grão da voz, e essas palavras que criam equações semânticas cheias de incógnitas de vários graus, mesmo quando condensadas em frases que são gestos nítidos, como “a bossa nova é foda” ou “o império da lei há de chegar no coração do Pará”? Com esse desilusionismo poético e sonoro Caetano está mergulhando fundo e como nunca no coração do niilismo. Isso pode ser a expressão de uma experiência pessoal, mas nunca num poeta como esse a pessoalidade deixa de arrastar consigo o sentimento e a intuição do mundo. Há um “cansaço do eterno mistério”, uma entrega do destino ao “grão-senhor” que é o acaso, e uma relativização pragmática do poder sublimador da arte. “Tédio, horror e maravilha” fazem seu giro perturbador em torno da recorrente pergunta banhada na tristeza: “por que será que existe o que quer que seja?”( “Estou triste”), que ecoa “viver é um desastre que sucede a alguns” (“Tudo dói”). Mas a percepção da raça humana indecodificável, que enfrenta a falência do sentido, desde dentro, é expressão daquele transe trágico de que eu falava antes, onde já se engendra outra coisa, extraída do fundo desse tempo sem uma clara figura do tempo. “Quem e como fará/ com que a terra se acenda/ e desate seus nós?” As canções finais vão se encaminhando para as afirmações contingentes e absolutas do amor. Sempre. Um abraçaço. Leia mais sobre esse assunto em O Globo .

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Kaleidosfone

“Buscar, na história, momentos em que a oralidade foi ampla em significados parece ser, das tarefas do historiador, uma das mais difíceis de realizar. Se esta for alcançada, a segunda etapa, aquela que envolve compreensão e interpretação, também não se mostrará das mais fáceis. Esses desafios se fazem ainda mais evidentes se levarmos em consideração a especificidades que tornam possível os intercâmbios orais : trata-se, grosso modo, de uma experiência sonoro-auditiva que se desenvolve sempre de forma única, espontânea e imersa em tradições. A partir do momento em que esta experiência é transformada em código escrito, o princípio intrínseco da oralidade é destruído. O que nos resta, então, é ou a reconstituição memorialística de uma experiência oral ou um discurso interpretativo sobre esta reconstituição. Nas muitas situações de pesquisa em que a única fonte disponível  ao historiador é e origem textual, torna-se oportuno lembrar uma colocação feita por Maria Odila Silva Dias (Prefácio. FERNANDES, Paula Porta S. Guia dos documentos históricos da cidade de São Paulo)  : ‘as palavras tem sua historicidade; através do estudo e da contextualização histórica de suas sucessivas camadas de sentido pode-se dissecar a semântica do dominador e chegar ao sentido das palavras dos oprimidos, contextualizadas em suas práticas cotidianas’”     
Aprobato Filho, Nelson. Kaleidosfone. São Paulo: Cia das Letras, 2008, p. 344-5

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Um instante lendo Bolle com Luiz Costa Lima ...

Em uma resenha do livro "Grandesertão.br" escrita em 2005, Luiz Costa Lima nos diz:
 
"Willi Bolle tem seu mérito, muito raro entre os estudiosos da mesma direção, de reconhecer a função do ficcional. Permanece, contudo, fundamentalmente ligado à abordagem documentalista que tem marcado a literatura e os estudos literários latino americanos e brasileiros, desde o XIX. Por isso não estranha que o paralelismo com os mais famosos 'retratos' do país reduza o romance rosiano a colaborador de seus resultados"
LIMA, Luiz Costa. Riobaldo: culpa e luto. Revista USP no. 65, março/maio2005, pp.189-93
Quando li esta resenha eu estava começando o mestrado e tinha me alimentado demais do livro de Bolle. Uma das questões que eu coloquei na época foi  : Por que Bolle  problematiza várias possibilidades de diálogo entre o romance de Rosa e as  vertentes mais recentes da historiografia, como a Micro História - se afastando da tradicional narrativa da História -  e até  dá um super salto (mortal?) lendo,com a profundidade de um especialista, o romance a partir da historiografia de  Walter Benjamin - que seria uma perspectiva ainda mais avançada -,  para no final todo aquela obra literária monumental que é o Grande sertão : veredas  (com suas referências, sons, imagens, ficcionalidade...) ser resumida a  mais um Retrato do Brasil?
 
Como podem ver, Costa Lima me deu a resposta na citação acima e, de quebra, me mostrou caminhos dificultosos de serem trilhados por interpretes de literatura; além disso, também apontou  caminhos a serem trilhados que percorro até agora, com o de destacar o caráter ficcional no texto rosiano e, a partir disso,falar de História ...
 
O cara é um mestre mesmo!

sábado, 2 de fevereiro de 2013

"Música de Brinquedo" de novo e sempre !

"Ouvir uma coisa que você conhece muito bem e aquilo ter um frescor..." ... é que aqui elas também foram tocadas pelas  crianças ... isso que foi levado ao extremo por este projeto e que condiz com as ideias  nas quais se acredita hoje em dia  nos estudos sobre infância (da diluição até o máximo possível da separação entre adulto e criança e na aposta de que ambos atuam na configuração da realidade e na produção de culturas que não são nem "de criança" nem "de adulto", são híbridas e legítimas). É caro que hoje temos projetos de MÚSICAS PARA CRIANÇAS MARAVILHOSOS (que respeito é aquele da dupla Palavra Cantada pelas temporárias limitações infantis, pela estrenheza com a qual elas recebem o mundo? É louvável e deve existir para sempre). Mas estou falando de outras coisas, outras frentes que se abriram, e incluíram a criança (e tudo o que ela é, não s´o que pode vir a ser...) como elemento de sua composição, como neste disco do Pato Fu e todo seu frecor. Isso não tem  em discos infantis  como o Par ou Ímpar, do   Kleiton e Kledir,  mas não tem mesmo... ali só temos  músicas inéditas, só que a sonoridade é de um grande "mais do mesmo",  apesar do esforço em se voltar ao público infantil, ao ouvir ninguém tem dúvidas de que se trata da boa e velha dupla Kleiton e Kledir, como se o contato com o mundo infantil não tivesse interferido em nada ...
É certo que as crianças continuam sendo crianças, como sempre foram, mas a maneira que   nós as  entendemos e como lidamos com elas   mudou e muda (tem historicidade). Acho que estamos em outro momento, onde não mais cabe, sem certo estramento, apresentar a elas (seres em formação) discos completos, fofos e lindos feitos "para crianças" (onde a particiapação delas limita-se a ouvir), estes já  nos soam tão... ultrapassados, tão coisa pré era digital... e olha que tudo apareceu assim tão rápido (o disco Adriana Partimpim é de 2004, nem tem ainda uma década completa) e já estamos respirando outros ares, não tão tatibitati, mas de maior interatividade com os infantes e as coisas produzidas para eles. Não cabe mais  ver a  criança como se ela  fosse "apenas alocada em um sistema de relações que é anterior a ela e deve ser reproduzido eternamente" (COHN, Clarice. Antropologia da criança, p. 28), não permitindo que ela  interaja na construção do seu meio...  Será que é isso mesmo?

Música Da Antiguidade

Estas são músicas que eu ouvi numa aula sobre Cultura Popular no meu último semestre de graduação em 2003. Muito perturbadoras estas sonoridades rituais de um tempo tão antigo ... coisas da etnomusicologia, (etnografia da música, de Seeger em 1992), que estuda instrumentos e sonoridades perdidas no tempo. Legal é que os sons ainda causam estramento e até certo pavor...às vezes estudar História é tão legal!