“Buscar, na história,
momentos em que a oralidade foi ampla em significados parece ser, das tarefas
do historiador, uma das mais difíceis de realizar. Se esta for alcançada, a
segunda etapa, aquela que envolve compreensão e interpretação, também não se
mostrará das mais fáceis. Esses desafios se fazem ainda mais evidentes se
levarmos em consideração a especificidades que tornam possível os intercâmbios
orais : trata-se, grosso modo, de uma
experiência sonoro-auditiva que se desenvolve sempre de forma única, espontânea
e imersa em tradições. A partir do momento em que esta experiência é transformada
em código escrito, o princípio intrínseco da oralidade é destruído. O que nos
resta, então, é ou a reconstituição memorialística de uma experiência oral ou
um discurso interpretativo sobre esta reconstituição. Nas muitas situações de
pesquisa em que a única fonte disponível
ao historiador é e origem textual, torna-se oportuno lembrar uma
colocação feita por Maria Odila Silva Dias (Prefácio. FERNANDES, Paula Porta S.
Guia dos documentos históricos da cidade de São Paulo) : ‘as palavras tem sua historicidade; através
do estudo e da contextualização histórica de suas sucessivas camadas de sentido
pode-se dissecar a semântica do dominador e chegar ao sentido das palavras dos
oprimidos, contextualizadas em suas práticas cotidianas’”
Aprobato Filho, Nelson.
Kaleidosfone. São Paulo: Cia das Letras, 2008, p. 344-5
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