Acabou Chorare em meu 2024
Em outubro é meu aniversário e esse ano eu ganhei meu presente favorito: Livros! Dentre eles esse sobre o disco Acabou Chorare (1972), que comentei ter visto na loja do Sesc Consolação e me chamou a atenção porque a proposta era esmiuçar a influência do João Gilberto nesse álbum tão importante!
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João Gilberto: palavra mágica |
E foi mesmo uma delícia de leitura,entre 27 de outubro e 1 de novembro, atiçando meu instinto de historiadora da canção popular brasileira, com forte interesse em música instrumental.
Algumas postagens durante a leitura
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Introdução |
Já na introdução Márcio Gaspar destaca a mudança instrumental que geriu aquele sim que a gente ainda ama. Mais história impossível.
Aí eu quis ouvir o disco anterior dos novos baianos,o Ferro na boneca (1970), um disco mais rock, parecia um do Tim Zé daquela época e foi muito impressionante perceber a diferença (história ) entre um e outro. A mão de Midas de João Gilberto passou por ali .
Continuando a leitura, no dia 28/10 comentei como Gaspar nos coloca como o disco foi recebido naquela época de repressão e radicalização no país
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Surpreendente |
Foi tudo muito lindo ... E em 1 de novembro escrevi um emocionado post final, que copio pq é um texto grande demais pra printar:
"ACABOU CHORARE: Terminei de acabar a leitura do livrinho,gostei bastante. Conhecendo a estrutura da série bem documental "Discos da música brasileira" , trata -se de uma coletânea de depoimentos e fatos da época, sempre organizados por Lauro Lisboa, terminando com um comentário sobre o legado deixado pelo álbum para artistas. Antes desse eu tinha lido desta série o "África Brasil" do Jorge Ben, que foi escrito pela jornalista Kamile Viola e traz em si o peso da entidade Jorge Ben, por se tratar de um artista de carreira longuíssima, é normal que o volume tenta o dobro de páginas do Acabou Chorare, tem muito mais material e vários depoimentos emocionantes de personagens de peso para a música e a cultura negra brasileira de tempos diferentes. No caso do Acabou Chorare, um diferencial é que ele foi escrito por Márcio Gaspar, alguém que viveu aquela loucura dos anos setenta e isso empresta um tempero delicioso ao texto. Foi uma delícia "entrar" naquela comunidade onde se fazia música, filhos e futebol. "Descobrir" como a batida do João Gilberto foi o verdadeiro toque de Midas,que fez os baianos, que como todo mundo na época, estavam tão ligados a música internacional Janis Joplin, Jimmi Hendrix, etc, também apostassem em sua brasilidade. Nas palavras do Paulinho Boca de Cantor: " a chegada do João nos fez DESENCAIXOTAR bumbo, pandeiro, cavaquinho (...) o importante é que João nos fez ENXERGAR que a gente trazia uma bagagem de música brasileira " (46).
Ler esse livro me fez ouvir mais e melhor Novos Baianos, não só esse álbum, ouvir os instrumentos, atentar para os arranjos e as batidas. Também me levou a ouvir outros baianos que sempre amei, como Tom Zé, A cor do som e babar muito muito muito o amado Pepeu,meu novo baiano favorito 😍
Depois vou escrever mais no Pequenidades sobre esse livro, a presença iluminada de João Gilberto ♥️ e sobre Pepeu, ourives de pegada muito particular que "transformava aquela brasilidade numa coisa internacional" (Luiz Bueno, do DuoFel, p.75)
Mas por hora, termino com um poeminha lindo que no encarte do disco (que adoraria ver) :
"Eu não sei se o sonho acabou/eu não sei se o sono acabou/eu não sei se o som acabou/mas acabou Chorare" Augusto de Campos ♥️
Amo muito esse disco, toda vida!"
Eis aqui a prometida postagem, destacando 3 pontos João Gilberto, Pepeu Gomes e Baby Consuelo.
João Gilberto é a força motriz desse livro e da música brasileira no século XX, como eu vinha percebendo desde a Bossa Nova. Tem um capítulo só sobre ele "E pela lei natural dos encontros, eu deixo e recebo um tanto",pois, nesse livro ,ele é o destaque. Comenta-se até o documentário "Filhos de João",de Henrique Dantas, sobre esse tema, cujo diretor comenta
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História da música 😍 |
Sobre Pepeu, meu Novo baiano favorito, também tem um capítulo só pra ele, "Pepeu, cabeludo danado!", destacando sua personalidade em tocar guitarra,único Hendrix (que conheceu com um disco que ganhou do Gil e absorveu total) e herança musical brasileira. Se João foi influência fundamental, Pepeu, guitarrista e arranjador, foi o responsável por executar a junção rock e samba no disco. AMEI
No final do volume, na parte do legado, algumas cantoras,como Marisa Monte e Tulipa Ruiz, comentam a herança dos Novos Baianos para seu trabalho. Mas o que realmente importou pra elas foi a figura de Baby Consuelo, a cantora que chegou menina depois, de consolidadas as grandes vozes,como Elis Regina, Gal Costa ou Maria Bethânia, e veio com seu jeitinho, se formando como única mulher num grupo de homens : "de um lado ouço desaforo e diz o meu nariz arrebitado, não levou pra casa" . Baby Consuelo brilhou como mãe, menina, cantora, artista e referência para as mulheres, mesmo que depois tenha virado Baby do Brasil e se convertido ao cristianismo, o Legado de Consuelo é inesquecível.
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Baby Consuelo e Luiz Galvão |
Na minha infância, nos anos 80, eu lembro de amar a Baby Consuelo, ela era uma fadinha que cantava com Moraes Moreira a minha músicas favorita, não nos Novos Baianos, mas no grupo Pirlimpimpim, a maravilhosa Lindo Balão Azul, de Guilherme Arantes
Tudo isso, História, música, memórias, a leitura desse livro me trouxe! Grande disco, grande livro, AMEI !