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Eu e o livro |
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efeito moderno |
Como ouvi em algum lugar, esse livro foi muito editado e muita gente teve um exemplar dele, eu mesma me lembro de ter tido dois, que acabaram se perdendo e eu não sabia se tinha lido de fato. Foi começar a ler e percebi que não tinha.
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tive as 2 edições esquerda, li a da direita |
Dessa vez conclui. Sobrevivi a esse texto que, embora bem escrito, me soa um pouco datado, arrogante em tantos momentos.
A trama se passa no contexto histórico da Primavera de Praga no fim dos 1960, a partir da história de quatro personagens : o casal de protagonistas Tomas e Tereza e os amantes Sabina e Franz.
Tomas e Tereza são um casal bem tenso, embora se amem e nunca se larguem, têm até uma dependência mutua. Tomas começa como um cirurgião divorciado na cidade de Praga que, em dado momento, conhece Tereza e a ama imediatamente, se sente responsável por cuidar dela. O problema é que ele, que viveu muito tempo como solteiro, tem, digamos, um admirável apetite sexual, coisa que não consegue controlar. Tereza, que está sempre dependendo de Tomas, é uma mulher incrível de muito potencial, se tornou boa fotógrafa na ocasião da invasão russa em Praga, lê bons romances e ouve Beethoven, hábitos refinados que acha que podem abrir as portas do mundo diferenciado de seu marido. Tereza ama Tomas e chega até a compreender seu apetite sexual, no entanto essas infidelidades a machucam tanto que sempre tem pesadelos com isso. É um sofrimento tamanho que nós, leitores, chegamos a julgar insuportável. Eu desejei tanto que ela, em algum momento, o abandonasse, saísse desse circulo vicioso que estava matando os dois aos poucos, mas não podiam , eles tinham que ficar juntos.
Sabina e Franz são uma realidade diversa. Sabina começou como uma das antigas amantes de Tomas quando ele era solteiro, depois que se casou, virou uma amiga leal. A melhor personagem do romance, na minha opinião, sempre coloca algum questionamento pertinente e sua relação com o amante Franz a faz refletir e explicar o significado do título do romance.
Comecei a leitura no fim de abril, mas só fui terminar mesmo nos primeiros dias de maio, em ocasião do feriado do dia do trabalhador. Não é um livro ruim, merecia mais atenção minha, mas me esgotou tanto que mal posso esperar para terminar essa postagem e concluir essa passagem por ele.
Como é possível que não escreva um texto ligando os pontos do romance, as colocações filosóficas e humanas ao retrato histórico, por hora só consigo reunir as Postagens que fui fazendo nas redes durante a leitura.
22 de abril
NA ÚLTIMA CAPA:
"Hoje, tantos anos depois de sua publicação em 1982,o livro ocupa um lugar próprio na história das literaturas universais : é um livro em que o desenvolvimento dos enredos erótico-amorosos conjuga-se com extrema felicidade à descrição de um tempo histórico politicamente opressivo e à reflexão sobre a existência humana como um enigma que resiste à decifração -o que lhe dá um interesse sempre renovado ."
23 de abril
INSUSTENTÁVEL: "Sublocou um estúdio para Teresa e sua pesada mala. Queria cuidar dela, protegê-la, alegrar-se com sua presença", mas não havia necessidade alguma de mudar o próprio modo de vida. Assim,não queria que soubessem que ela dormia na casa dele. O sono compartilhado era corpo de delito do amor." (18)
24 de abril
INSUSTENTÁVEL - A contradição entre leveza e o peso, é como treinar no graviton na academia: se colocar pouco peso fica INSUSTENTÁVEL...
EU PIRO 😂😂😂🤩
25 de abril
INSUSTENTÁVEL: Embora a escrita de Kundera seja ágil e sempre segure o leitor mais um pouquinho, o livro me desperta uma profunda vontade de abandoná-lo. Acho que não o fiz ainda porque,no fundo, sei que a maioria das coisas (não todas) contadas ali são para mim grandes bobagens salpicadas de "filosofia de botequim" - li essa expressão numa resenha e achei apropriada , pois muitas vezes o livro me lembra aquela pessoa que "cita filósofos" fora de contexto. Aparte isso, até me identifico com alguns trechos como esse:
"Para Tereza, o livro era o sinal de reconhecimento de uma irmandade secreta. De fato, contra o mundo de grosseria que a cercava, tinha uma só arma: os livros que tomava emprestados de uma biblioteca municipal; sobretudo os romances: lia-os em quantidade, de Fielding a Thomas Mann. Eles lhes ofereciam uma chance de evasão imaginária, arrancando-a de uma vida que não lhe trazia nenhuma satisfação, mas tinham também para ela um sentido como objetos: gostava de passear na rua com livros debaixo do braço. Eram para ela o que a elegante bengala era um dândi do século passado. Eles a distinguiam das outras." (P. 50)
A meta é chegar ao menos na metade ... Sigamos!

INSUSTENTÁVEL: "Tereza, Tereza querida, você está se afastando de mim. Aonde quer ir? Todos os dias você sonha com a morte, como se realmente quisesse se ir...", disse-lhe ele, à mesa de um bar.
Era dia claro, a razão e a vontade haviam tomado comando. Uma gota de vinho tinto escorria lentamente pelo copo e Tereza dizia :"Tomas, não posso fazer nada. Compreendo tudo. Sei que você me ama. E bem sei que suas infidelidades não têm nada de dramático..."
Olhava para ele com amor, mas temia a noite, tinha medo dos seus sonhos. Sua vida se partira em duas. A noite e o dia disputavam o poder sobre ela. " P. 60-1
27 de abril
INSUSTENTÁVEL: "...Franz sentiu então uma vontade confusa e irresistível de uma música imensa, de um barulho absoluto, de uma bela algazarra, que englobaria, inundaria, destruiria todas as coisas, que anularia pra sempre a dor, a vaidade,a insignificância das palavras. A música era a negação das frases, a música era a antipalavra! Tinha vontade de ficar com Sabina num longo abraço, de calar, de não pronunciar mais uma só frase e deixar o prazer confluir para o clamor orgíaco da música. Nessa bem-aventura- da algazarra imaginária, ele adormeceu." ( Milan Kundera. "A insustentável leveza do ser", p.94)
Quando não se trata mais de Tomas e Tereza o livro melhora um pouco 💕
28 de abril
INSUSTENTÁVEL: "Era noite e Sabina andava com passo apressado na plataforma da estação. O trem para Amsterdam já estava à espera. Procurava seu vagão. Abriu a porta do compartimento para onde foi conduzida por um funcionário amável e viu Franz sentado num dos leitos. Ele se levantou para recebê-la, ela o abraçou e cobriu de beijos.
Tinha uma vontade terrível de lhe dizer como a mais comum das mulheres: não me deixe, guarde-me perto de você, escravize-me, seja forte! Mas eram palavras que não podia pronunciar.
Quando ele afrouxou o braço, ela disse apenas: 'Como estou contente de estar com você!'. Com sua natural descrição, não podia dizer mais do que isso." P.98
As cenas de Franz e Sabina são bem mais interessantes que as do Tomás e Tereza...
30 de abril
INSUSTENTÁVEL: "Então, de repente, Frans compreendeu com espanto que não estava infeliz. A presença física de Sabina contava muito menos do que ele pensava. O que contava era o traço dourado, o traço mágico que ela havia imprimido em sua vida e de que ninguém poderia privá-lo. Antes de desaparecer de seu horizonte, ela tivera tempo de lhe pôr nas mãos a vassoura de Hércules, com a qual ele varrera de sua vida tudo aquilo que ele não gostava. Essa felicidade inesperada, esse bem estar, essa alegria, que lhe proporcionaram a liberdade e a nova vida, tudo isso era um presente que ela havia lhe deixado.(P.120)
Poxa, isso também não quer dizer amor? Eu, que sei muito bem me deixar ir,confesso que gostaria de ter sempre passado assim pela vida de um homem. Grande Sabina: um traço dourado reavivador 🤩

FOTO DOURADA
FERIADO : Só queria (e merecia) estar lendo um livro floda, mas tô tropeçando de sono com "insustentável..." É o que tem pra hoje e ruim, ruim, não é. As partes que tenho ranço eu leio rapidinho.
Aí se tivesse aí menos um samba...🫡
01 de maio
A INSUSTENTÁVEL LEVEZA DO SER: "O drama de uma vida sempre pode ser explicado pela metáfora do peso. Dizemos que temos um fardo nos ombros. Carregamos esse fardo, que suportarmos ou não, lutamos com ele, perdemos ou ganhamos. O que precisamente aconteceu com Sabina? Nada. Deixara um homem porque quis deixá-lo. Ele a perseguira depois disso? Quisera se vingar? Não. Seu drama não era o do peso, mas da leveza. O que se abatera sobre ela não era um fardo, mas a insustentável leveza do ser." (P.121-2)
A personagem com quem mais me identifico nesse livro é Sabina.

INSUSTENTÁVEL: Estou quase na metade do romance e conformada com os ranços dessa trajetória sem rumo quando soube que Tomas e Tereza, que tornaram tão dificultosa minha leitura simplesmente morreram de acidente! Então pra quê esses personagens? 🤔
Na segunda metade, com Sabina e Franz, personagens mais interessantes, a leitura deve ficar melhor.
INSUSTENTÁVEL: Eu estava esperançosa,mas agora já tô achando que essa segunda parte do livro está pior que a primeira. Não vou negar que achei bom que as personagens Tereza e Tomas tivessem morrido,mesmo que tenha sido meio assim "do nada", é que elas me dão ranço . Mas a narrativa voltou até um pouco antes da morte deles, aquela loucura e o ranço pessoal por eles voltou 😌
Mas agora a História realmente se apresenta na vida deles, a vida do casal é diretamente modificada pelo desenrolar da História. Eles estão ainda mais fora da casinha, chatos!
INSUSTENTÁVEL: Sabina torna o livro mais interessante, novamente! Vejamos como ela interpretou a carta noticiando que Tereza e Tomas, que teve que deixar de ser cirurgião e se tornara caminhoneiro, haviam morrido:
"Mais uma vez pensava neles. De vez em quando iam à cidade vizinha e passavam a noite num hotel. Esse trecho da carta a impressionara. Demonstra que eram felizes. Revia Tomas como se fosse uma de suas telas: no primeiro plano, Don Juan como um cenário falso pintado por um pintor primitivo; através de uma fenda do cenário se percebia Tristão. Ele morrera como Tristão, não como Don Juan." (P.124)
Morreu como realmente era? Talvez...
(Na foto a personagem Sabina no filme de 1988)
comentário
Que interessante: Sabina é personagem que representa a leveza na narrativa, ela se coloca como "traidora", elemento contestador de todas as relações consolidadas pesadas ( familiares, casamento) e tem orgulho disso . No entanto, o romance nos deixa ver além da aparência, o que ela realmente precisa para de sustentar é de algum peso. O narrador diz que ela não sabe porque deixou Frans quando o amante realmente rompeu o casamento (o peso), mas a narração já havia dito:ela perdeu o interesse nele porque ele era good vibes demais. Sabia que mesmo que ela tivesse coragem de lhe dizer o seu real desejo no sexo (de que ele a tomasse,prendesse, "escravizasse"-usa esse termo!), ele nunca faria isso, era "fraco" pra tanto. Seu conflito pessoal era com essas duas Sabinas, a leve e o desejo de ser pesada. Talvez por isso tenha desenhado tão bem os conflitos de Tomas, um Tristão que se mostrava Don Juan ... O que vcs acham?
Acho que descobri, a personagem Sabina me mostrou, pq o romance começa com essa história do Tomás e Tereza: eles servem pra desenhar melhor a grande questão humana e seu conflito entre o leve e o pesado.
02 de maio
INSUSTENTÁVEL: Esse livro foi a pior cia para um feriadão! Não é um livro ruim, inclusive é muito bem escrito e bom ao abordar a História, mas fora isso é um pouco soberbo, chato e trata temas de forma um tanto desnecessárias. Ele só não me dá tédio porque eu peguei ranço dos protagonistas Tomas e Tereza, aí a leitura vai na força do ódio! Passei bastante da metade e agora é questão de honra acabar logo, ainda que não apareça mais a Sabina, única personagem que depois vou me lembrar desse livro. 😞
Preferia estar lendo um do Jorge Amado !
INSUSTENTÁVEL :"Se a excitação é um mecanismo com que o Criador se diverte, o amor, ao contrário, é o que só pertence a nós e por que escapamos ao Criador. O amor é nossa liberdade. O amor está além do "tem que ser assim". (P.232)
Tomas parece um animal no cio, às vezes tem umas sacadas dessas, mas logo volta a pirar com seu apetite sexual sem fim...
03 de maio
INSUSTENTÁVEL: Acabei! Missão cumprida. Depois comento melhor. Alguém disse que esse livro muita gente teve, mas pouca gente leu de fato, não posso negar que faz sentido, eu tive dois exemplares, mas só fui ler de cabo a rabo e na força do ódio esse da biblioteca. Posto três imagens de edições . As duas primeiras eu tive mas não li, a terceira, edição de bolso, emprestei da biblioteca e concluí a leitura.
Nossa, que leitura imensa eu fiz deste romance ! Fui o mais imparcial que consegui, mas li e li intensamente!
Comentario geral para grupos de leitura :
"A INSUSTENTÁVEL LEVEZA DO SER, de Milan Kundera.
A trama se desenvolve no contexto da Primavera de Praga, no fim da década de 1960, a partir da história de quatro personagens: o problemático casal de protagonistas : Tomas (o que "viveu como D. Juan,mas morreu como Tristão ") e Tereza (a leitora membro da "irmandade do livro", com quem Tomas iria "compartilhar seu sono" até o fim); e os coadjuvantes questionadores da trama principal :Sabina (melhor personagem do livro,uma artista crítica que definiu a "insustentável leveza do ser") e Franz (contraponto dos desejos da pintora). É um livro muito conhecido desde o fim do século passado, mas que provavelmente poucos realmente leram por completo, até porque tem uma versão para o cinema quase tão famosa quanto ele próprio. Como sou do partido do livro,o filme nunca vi (nem tenho vontade) e confesso que tive dois exemplares do livro,mas só fui ler de fato o exemplar da biblioteca. Mesmo admitindo que é um texto muito bem escrito e que aborda da História de forma realista e envolvente, não posso dizer que gostei imensamente dele, achei uma leitura pesada, arrogante e às vezes datada (conta algumas coisas que hoje já são bobagens, mas salpicadas de "filosofia de botequim").De qualquer forma é um livro perturbador,como deve ser a boa literatura. Mas não recomendo a todos...