Ontem assisti a ultima parte do concurso para a vaga de professor titular na cadeira de Teoria da História da USP. Apesar de não ter assistido a aula ministrada (que teve como tema a narrativa humorística da história e pelo que soube sintetizou o conteúdo do curso de pós em história que eu assisti no ano passado), trouxe algumas pérolas...
Primeiro a definição de "Teoria da história" como sendo um exercício que torne possível o despertar para a historicidade do conhecimento. Isso deve acontecer quando o professor consegue diminuir ao máximo a diferenciação entre ensino e pesquisa na aula, pois reflete e faz os alunos refletirem a respeito da sobrecarga de informações rápidas com as quais estamos crescentemente submetidos com o advento de novas mídias como a internet. Este ritmo desenfreado acaba produzindo uma espécie de anulação da duração no processo de educar, já que só é possível educar quando se respeita o ritmo e o tempo dos educandos pois a própria idéia de conhecimento não tem relação com a percepção imediata, mas sim com a reflexão e discussão do mundo, a cada novo instante. Isso leva tempo, tempo que já não temos mais. Se pensar é selecionar o que pode ser esquecido, o educador deve executar e treinar para que este processo se efetue bem. Pois alguém já disse que não se ensina o que se sabe, mas se ensina o que se é.
Como eu sempre me enxerguei mais como uma pesquisadora que estava dando aulas do que como uma professora (não encaro isso como uma diferenciação hierárquica, mas apenas como uma diferenciação de sensação), me senti menos culpada, mesmo que eu mesma não estive imitando diretamente nenhuma receita, apenas refleti sobre as realidades com as quais entrava em contato... como professora de humanas no Estudo Orientado,sentia que o que se pedia de mim era muito menos os conteúdos do que de uma postura, um discurso, um acolhimento e assim consegui algum resultado.
Em momentos como os que eu vivi ontem eu percebo que aquele professor que agora é titular executou muito bem a sua tarefa, pois eu recebi seus estímulos como aluna e quando mudei de posição e comecei a educar, acabei não saindo muito do que eu percebi ser a forma como ele executa sua função, mesmo que eu não tenha executado essa relação direta em nenhum momento antes de ontem, quando eu redescobri porque eu ainda encontro prazer na academia, pois foi lá que eu achei um lugar de tensão, conforto e discussão que ainda satisfaz meu cérebro pensante... assim vou tentar seguir meu rumo, respeitando meu tempo, pois um discurso riquíssimo como o que eu ouvi ontem só foi possível depois de uma vida toda de respeito as durações do aprender e do educar, quem sabe daqui umas décadas, não é?
6 comentários:
Camila, gostei muito da sua reflexão, principalmente quando você, ao falar da historicidade do conhecimento, lembrou da importãncia da duração no ato de educar.
Um abraço.
Oi Halem,
Então, este texto não trás reflexões minhas, eu apenas reproduzi aquilo que eu entendi que o candidato a titulação (meu orietador de mestrado) apresentou no concurso ontem.
As idéias do Elias são maravilhosas mesmo. Na lida com Teoria da História ele trata muito da questão da duração,no curso, na minha dissertação sugeriu que eu lesse Bergson (já que minha pesquisa está na área de Teoria da História), etc...É maravilhoso mesmo, tanto que ele foi aprovado no concurso com nota máxima :)
A única parte que é reflexão minha são os dois últimos parágafos, onde eu explico que mesmo sem saber, eu acabei praticando os ensinamentos indiretos que este ele acabou me passando. Digo indireta porque nunca eu tinha ouvido ele falar disso em relação ato de lecionar, mas eu aprendi o que ele ensinou e acabei botando em prática, mesmo sem pensar muito que estava fazendo isso.
Abração
Ca
Minha cara,
Fomos acostumados sempre a separar a pesquisa do ensino, mas eu acho o ensino só se atinge plenamente quando acompanhado dos pressupostos da pesquisa.
Por isso, se você é uma ótima pesquisadora, como o é, será sem dúvida uma ótima educadora quando o quiser!
beijos
camila,
obrigada por nos ter relatado tal reflexão. infelizmente eu não pude ir - estava dando aula - e adorei o que você escreveu.
besos
Ale querido,
Muito obrigada por suas palavras gentis. Vindo de você, que sabe exatamente do que eu estava falando quando citei minha experiência no estudo Orientado, me deixa mais contente. Quem sabe aind não nos encontramos para esducarmos... temos muitos cérebros e corações que precisam disso!
Abraço
Ca
Querida Gaciete,
Pena nãoter podido ir, foi muito emocionante (eu até levei bronca do mestre porque "não é para chorar, é para rir" rsrsrsrs e eu respondi que eu também choro de rir, não tem jeito kkkkk
Beijão
Ca
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