sexta-feira, 3 de julho de 2009

Tropicália: Alegoria alegria


Comecei a ler um livro queue tenho faz muito tempo, já havia começado a leitura, mas desistia logo no começo, não sei bem por qual motivo, mas esses dias eu o encontrei novamente, é o que originalmente foi uma dissertaçãode mestrado em filosofia, sob orientação de Olgária Matos, em 1979 (coicidentemente o ano que eu nasci!)o livro chama-se Tropicália alegoria alegria, de Celso Favaretto. Eu penso que talvez eu não estivesse prepaparada pa ler esse livro quando o comprei, mas decobri agora, com muito encanto, que este autor fez, ou tentou fazer, com a interpretação da obra dos tropicalistas, algo semelhante ao que eu também tentei fazer coma de Guimarães Rosa: perceber que as possíves críticas e conteúdos mais fortes estão mais presentes na composição formal, do que nas mensagens diretas expressas pelos artistas.

No caso de Rosa, por exemplo, ao meu ver é uma opção ingênua e pobre querer estabelecer ligações diretas entre texto e contexto, porque a riqueza está presente muito mais fortemente no trabalho intenso com a liguagem!

Logo na introdução do seu texto, Faveretto explica que no contexto dos festivais da canção, as melhores classificadas foram Ponteio,de Edu Lobo e Roda Viva, de Chico Buarque de Holanda -


"músicas mais conteudísticas e mais próximas do gosto e dos
critérios do sistema dos festivais, em que o arranjo servia de acompanhamento ou
reforço de uma 'mensagem'. "


[Celso Favaretto. Tropicália alegoria alegria. P.23]


Mas frente no livro, elee xplica por qual motivo o Tropicalismo representou uma forma de composição que trouxe a canção popular o status de grande interpretadora da realidade brasileira (e também externa), mas ainda no começo nos deparamos com trechos belíssimos como:


"Procurando articular uma nova linguagem da canção partir da tradição da música
popular brasileira e dos elementos que a modernização fornecia, o trabalho dos
torpicalistas configurou-se como uma desarticulação das ideologias que, nas
diversas áreas artísticas, visavam a interpretar a realidade nacional, sendo
objeto de análises variadas - musical,literária, sociológica, política. Ao
participarem de um dos períodos mais criativos da sociedade,os tropicalistas
assumiram as contradições da modernização, sem escamotear as ambiguidades
implícitas em qualquer tomada de posição. Sua resposta à situação distiguia-se
de outras da década de 60,por ser auto-referencial, fazendo incindir as
contradições da sociedade nos seus procedimentos. Empregava as produções
realizadas ou em processo, pondo-as em recesso, deslocando-as de um modo a
subtrair sua prática à redução a um momento particular do processo de evolução
das formas existentes, com o que fica marcada uma posição de ruptura."


[Celso Favaretto. Tropicália alegoria alegria. Pp.25-6]


Além disso, ele trouxe um recorte de uma fala de Caetano , de 1968,que eu achei maravilhosa:

"Não posso negar o que já li,nem posso esquecer onde vivo. Nego-me a folclorizar meu subdesenvolvimento para compensar as dificuldades técnicas."

Como sempre, Caetano de tirar o ar! Os tropicalistas são de quem eu mais gosto, Gilberto Gil, Tom Zé e sobre todos CAETANO VELOSO!

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