Capa de "O tempo, Camila- mini contos", de Elias José (1971) |
Estranho,mas esses mini contos de Elias José, que achei certa vez na biblioteca da FFLCH, juntamente com outros autores (as) como Hilda Hilst, Manuel Bandeira e Clarice Lispector,ajudaram a formar a Camila mulher ali na passagem do século XX para o XXI! E outras narrativas que já não me servem mais, naquele momento foram fundamentais, como algumas canções "femininas" de Chico Buarque, a paixão de Maria Bethânia, a solidão poética do livro filme A Ostra e Vento de Moacir C. Lopes, tal qual sua adaptação para o cinema de Walter Lima Junior e sobre todos, Almodóvar e a solidão crônica de seu Fale com ela, a quem devo a honra de soltar meus cachos sempre, doa a quem doer <3 span="">3>
Sobre tudo, nesse meu momento atual, só lembro do fim de Elogio da Sombra, de Jorge Luis Borges :"Agora posso esquecê-las. Chego a meu centro"
Mas antes, vamos ao mini conto de Elias José:
Camilamor
Camila, mande à merda a tristeza. Me possua, me destricha, faça de meu corpo sala e quarto, onde se entra e sai quando quer. E, no ato da posse, esqueça tudo. Vamos resumir o mundo em nossos corpo se em cada movimento nosso o mundo se movimentará; em cada sorriso teremos a certeza de que a vida ficou mais bonita. Vamos singularizar nossos sonhos e você verá como cabem aqui. Não mais distâncias. Seremos gêmeos, nascidos num só corpo. E os homens, vendo nossos corpos unidos, pensarão em fantasmas, bichos anormais, metade peludo, metade sem pelo. Nós vamos rir dos homens. Um riso grande de duas bocas fundidas numa só.Camila? Por que Camila? Poque se for mulher é Camila. Se não for Camila nem é mulher.Os russos vão a Marte. Os americanos voltam à Lua. Eu me desliguei do mundo e faço, calmo, a eterna viagem no que no corpo de Camila.
Elias José
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