segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Bob Marley e uma perceptiva mais calma na vida ...


ANDO OUVINDO MUITO BOB MARLEY (só isso, ok?) porque acho o som muito bom e me lembro desse trecho do romance de Schertenleib, mas acho que não sou (ou não estou) tão sensível a ponto de me "mover de maneira mais mole e leve" (rs), mas que é um alívio sonoro, isso é ... e ai, nada é tão sério assim, sacam? 

"Por reggae eu nunca tinha me interessado, nem mesmo durante meus anos de haxixe; naquele tempo, eu ouvia um complicado jazz rock, que andava no encalço de meus pensamentos como o cão faz com o gato. O riso sardônico que se escancarou em meu rosto quando toquei o CD de Marley pela primeira vez me mostrou que eu havia encontrado o que tanto tempo estivera procurando: sossego, serenidade. Não ouvia mais nada diferente, apenas reggae; comecei a  me mover de uma maneira mais mole, leve, enquanto meus ossos pareciam mais pesados, mais arredondados. Tornei-me o flâneur sereno a vaguear dentro da própria casa. Deixava o telefone tocar, desliguei a secretária eletrônica e acompanhava com o ouvido as batidas desaceleradas do meu coração.
Será que todos os papagaios odeiam reggae? O  papagaio Vian em todo caso se punha a dar gritos estridentes e pulava para cima e para baixo batendo as asas assim que começava a tocar Bob Marley. Como  isso, no caso, acontecia praticamente dia e noite, o pássaro levava uma vida difícil  : o que mais lhe agradava era estar no alpendre ao lado da porta de entrada, lá ele se via a salvo de Marley. E eu de seus berros. Comecei a usar a porta dos fundos para evitar o pássaro magoado e seu olhar triste. A mim a música fazia bem. Eu sorria, zombava. Sem razão? Isso é coisa para os outros quebrarem a cabeça, dizia a mim mesmo e, com minha alegria, deixava perplexos vizinhos incapazes de desfrutar da sua."
Hansjörg Schertenleib "A orquestra da chuva", p. 73-4 

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