Surpreendendo muita gente, uma das questões do ENEM 2017 problematizava uma música dos Racionais MC's. Fim de Semana no Parque é talvez a música mais conhecida dos Racionais e hoje eu ainda me pergunto como foi que eles conseguiram tocar tanto no rádio (sim, no fim dos anos 1990 se ouvia rádio) e essa popularidade com essa música tão não comercial, tão questionadora, tão difícil de ouvir ? Acho um fenômeno ainda sem explicação. É como se houvesse uma força da natureza que dissesse que todo mundo ia ouvir e gravar na memória esse som que "ninguém gosta". E que é assim mesmo, não é feito para agradar.
Já faz tempo que os grandes processos seletivos como vestibular e ENEM abordam a canção popular no Brasil, não é para menos, afinal essa é quase uma instituição nacional e seria muito mais dificil do que já é entender esse país sem passar por ela. Mas agora falamos de outra coisa, bem diferente: Não se trata mais apenas de problematizar a "instituição" canção no Brasil, aliás é muito ao contrário disso: Vamos problematizar também esse retorno propositadamente difícil de ouvir, como diz ESTE TEXTO marcante de Maria Rita Kehl é cheio de consoantes que pipocam no ouvido como tiros de balas, sem tantas vogais melódicas com as quais sempre adoramos nos identificar. Acho um marco, quase tão inexplicável quanto o fato de lembrar que quem era adolescente na época e que não ouvia RAP como eu, ainda saberem de cor Fim de Semana no Parque, mais de vinte anos depois.
Ano passado se falou muito do Nobel de literatura ganho por Bob Dylan por suas canções e passou-se a perguntar que se agora canção também é literatura, quem devia ganhar no Brasil? Ai surgiam aqueles nomes de sempre Chico Buarque, Cartola, Tom Jobim, etc...todos esses que já aparecem nas provas, com toda a legitimidade. Me lembro bem que eu e poucas pessoas dissemos na lata: Mano Brown devia ganhar! Sim, Mano Brown dos racionais mesmo (não aquele delicioso de Boogie Naipe e black music) ! Pensei no Brown justamente porque aquilo que ele faz é música, mas não é canção, é o seu oposto, é um texto que canta não mais lirismo, mas sons duros e quase impossíveis de escutar , acessa locais não muito doces, incomoda e literalmente joga na nossa cara tudo que a gente rejeita mas também é o que somos como brasileiros, por isso precisamos escutar e guardar. Acho arrepiante a força que isso tem. Este também é o som da resistência dos negros no Brasil atualmente e também é o que somos, apesar do quão difícil é reconhecemos isso!
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