Capa do livro de contos de L.F. Verissimo |
Em 2013 Luis Fernando Veríssimo lançou "Os últimos quartetos de Beethoven e outros contos",um livro diferente dos que estava acostumado a escrever, pois deixou um pouco de lado a crônica humorística do cotidiano e investiu em contos literariamente mais elaborados, mas a forma de escrever leve, se mantém sempre. Alguns contos desse livro ficaram muito marcados na minha memória, especialmente o que deu título ao volume, mas aqui vou falar de outro, um que nos é fundamental nesse momento do Brasil de 2019, trata-se do conto "A Mancha". Vou comentar rapidamente e espero não fazer muito spoiler, vamos ver como eu me saio.
A narrativa conta a história de Rogério, um ex militante que havia sido perseguido e torturado na ditadura, que nos anos 90 ou 2000 vivia atormentado por pesadelos, tinha mas se reerguido financeiramente, pois depois que voltou do exílio "enriqueceu" comprando prédios antigos, que reformava ou demolia e reconstruía para revender por preços exorbitantes, era "o demolidor".
Certa vez, trabalhando, visita um prédio antigo e feio que estava à venda, no qual encontra uma sala com um carpete com uma mancha de sangue que lhe é muito familiar: era a sala onde havia sido torturado e aquele sangue só podia ser dele. Era a marca do passado. O que fazer ? "comprar o passado, renovar, vender e enriquecer mais. Ou comprar o passado, destruir, e pensar no que fazer com o vazio"(p.119)?
Essa dúvida, se estendida para a História do Brasil, é aquela que a gente não resolveu ainda, e agora está cobrando a dívida com a impensável louvação à ditadura militar de 1964.
O passado sempre deixa uma marca, mesmo que tentemos apagá-lo, alguma coisa sempre sobra e vem cobrar nossa dívida.
Recomendo a quem puder, leia esse conto, é bem perturbador, eu cito numa aula que eu curto muito ministrar sobre o tema "história e memória".
Sou uma profissional da História e me orgulho muito disso, às favas o governo federal e seu discurso "burrocrata".
Nenhum comentário:
Postar um comentário