Na sexta, 20 de setembro de 2019 , estaria passando "Era uma vez em Hollywood" do Tarantino no Cinesala (a preços populares), filme que eu assisti assim que foi lançado, e eu queria ir ao cinema, mas como nunca revi um filme do Tarantino inteiro, deixei a oportunidade para outros assistirem e fui ao Cinecesc, como de costume, sem saber o que ia assistir, chagando lá vi que a última sessão seria Bacurau (Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles), ai já comecei a me preparar psicologicamente pra ADORAR , porque a pressão para que a gente goste (vinda de pessoas que admiramos) é muito forte, então me perguntava "e se eu não gostar? Sobreviverei?". Havia a possibilidade, enfim.
Sai do cinema pensando que, numericamente, Bacurau tem muito mais mortes do que o novo do Tarantino (que neste último estava mais leve), mas a catarse é a mesma: o cinema todo (inclusive eu), em algum momento, acabou critando "morre FDP"
Foi impossível não sair de alma lavada do cinema, é uma resposta para o Brasil atual, com mensagens diretas e claras, mas também com um simbolismo complexo, que alguns não conseguiram ou não quiseram perceber.
Depois de assistir, vi alguns, não muitos, vídeos sobre no Youtube, gostei muito deste do Spartakus Santiago, ou esse do Meteoro e do canal Mixido. Mas uma crítica muito rasa que eu eu encontrei no texto "Bacurau:: Celebração da barbárie" , de Eduardo Escorel, que precisei comentar.
Em principio, eu também me senti pressionada a amar acriticamente o filme antes de ver, vai que eu não tivesse gostado? Boas colocações , mas do jeito como está ali, acho essa crítica muito rasa. É verdade que a violência extrema assusta (o que me fez lembrar o velho Tarantino, e nem sei se essa é a melhor opção para um filme, mas como é que alguém que escreve uma crônica em uma revista como a Piauí, não faz nenhuma menção às lutas da história do povo nordestino (que , como toda história. não é lá , muito pacifica), como esquecer da história de Lampião e da imagem icônica das cabeças do grupo expostas pelo Estado como exemplo do que não fazer ? Como falar de guerra sem violência?
Cabeças dos cangaceiros expostas em Santana do Ipanema/AL Fonte: Livro " Lampião e as Cabeças Cortadas, pg. 204, Antonio Amaury e Luiz Ruben. |
Será mesmo que, ao abordar esse tema , os diretores de Bacurau querem só fazer filme para inglês ver, e não há nenhuma justificativa para tanto? Tantas perguntas as de uma historiadora que lê, e leu muita história, muita literatura (de Guimarães Rosa a Graciliano Ramos), ouviu muitas canções brasileiras, das singelas às mais bélicas...
Sobre a trilha sonora de Bacurau, falam muito da bela canção Réquiem para Matraga , de Vandré, mas para mim ela sempre estará relacionada ao filme para a qual a música foi composta, A Hora e a vez de Augusto Matraga, de Roberto Santos (1965), e para mim é à melhor adaptação de Rosa para o cinema, Mas em Bacurau, logo no começo do filme, quando a gente ainda nem sabe realmente do que se tratará, ai toca "Objeto não identificado" nesta versão quase inteirinha... uma as canções mais fofas ever, eu me deliciei demais ...só depois ficamos sabendo que o buraco é mais embaixo... de qualquer forma, achei esta a cena mais bonita do filme.
Um último comentário : Tantas vezes foi oferecido aos forasteiros que visitassem o Museu Histórico de Bacurau. Acho que devem ter se arrependido das negativas. A história pune.
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