Escrevendo o projeto de pesquisa de doutorado, coloquei claramente uma grande questão proposta na apresentação do livro "Os intelectuais na História da infância" : Sendo um trabalho de história, ao estudar o tema infância na obra de Guimarães Rosa eu deveria especificar claramente no projeto se se trata de uma proposta de trabalho sobre "História da Infância"- então me debruçaria sobre a concepção ou a representação que os adultos fazem sobre o que foi vivido pela criança ou sobre "História da criança"- que seria a história da relação das crianças entre si e com os adultos, com a cultura e a sociedade... entretanto, esclareci que não estou propondo a investigação de ‘crianças’ ou ‘infâncias’ reais, mas de representações delas feitas pela obra rosiana, que parece se encaixar em ambas as formas ...
Mas porque é tão importante a representação?
Vamos considerar duas formas de representação de crianças em evidência: O filme da Xuxa "Mistério da feiurinha"; e o novo CD da Adriana Calcanhotto Partimpim 2 ... quero escrever agora sobre eles, porque ainda não ouvi completamente o CD, e o filme ainda não assisti... depois de entrar em contato com ambos, volto a falar sobre eles- caso me sejam interessantes...
Em princípio, um parece ser o oposto do outro: Xuxa, ao pensar em um filme sobe o livo do Pedro Bandeira, está decodificando e entregando nas mãos da criança todo o universo de antigas tradições infantis - o dos contos de fadas - e elas vão gostar (etimologicamente, infância diz respeito a seres que ainda não tem poder de decisão sobre seu destino ou gosto) - e podemos lembrar das palavras de Alice, de Lewis Carrol:"de que serve um livo sem figuras nem diálogos?", então o filme de Xuxa estaria "reforçando" essas questões?Não sei... penso que não, que as crianças gostarão de tudo, porque tudo é mágico para elas, mas não saberão, por enquanto, que tendo acesso a essas coisas, estarão perdendo a oportunidade de fazer aquilo deveriam ser incetivadas a fazer tempo todo : Criar!
Já no disco da Adriana, tomando pelo excelente site do disco - no qual somos incentivados a criar o tempo todo - e um pouco pelo primeiro Partimpim e pelas quatro músicas do novo que eu já ouvi, a representação caminha por caminho oposto:Mergulha-se fundo no universo de significados e sonoridades das crianças, trazendo à tona os animais como a gatinha manhosa,o cotidiano como musicando o Alface, componente de todo almoço, da afetividade quando o amor é destaque da canção "Menino menina" e fazendo a relação desses temas tão "História da criança", a representação introduz o tema da História da Infância, com a música "O Homem deu nome a todo os animais"... dando nome, inseriu-os na narrativa.
O texto que eu mais gostei desde que e enveredei pelos caminhos da decifração da infância foi a apresentação de Sebastião Salgado para seus Retratos de Crianças do Êxodo, que eu postei na íntegra aqui...
O texto- assim como as fotos - não representa crianças ou infâncias, as apresenta não como seres tolos e fofinhos, mas sim como seres que estão vivendo e sobrevivendo a dores insuportáveis até a homens adultos...para nos aproximarmos delas é preciso mais sensibilidade. Como diz meu orientador - que não é um partidário de nenhuma concepção política nem da esquerda, nem da direita- não vamos resolver todos os problemas da Epistemologia ou da História Social, antão porque não apostar em novos olhares, menos duros, se for o caso?
Guimarães Rosa, para quem, segundo Luiz Costa Lima,"o mundo é mais do que crueldade" escreveu em "Pilimpsiquice", que "Representar é aprender a viver além dos levianos sentimentos, na verdadeira dignidade."
Esse é o meu autor e eu sei que tudo isso que eu penso ainda está confuso, mas estou apenas no começo do raciocínio ainda...
O que você acham?
Vamos considerar duas formas de representação de crianças em evidência: O filme da Xuxa "Mistério da feiurinha"; e o novo CD da Adriana Calcanhotto Partimpim 2 ... quero escrever agora sobre eles, porque ainda não ouvi completamente o CD, e o filme ainda não assisti... depois de entrar em contato com ambos, volto a falar sobre eles- caso me sejam interessantes...
Em princípio, um parece ser o oposto do outro: Xuxa, ao pensar em um filme sobe o livo do Pedro Bandeira, está decodificando e entregando nas mãos da criança todo o universo de antigas tradições infantis - o dos contos de fadas - e elas vão gostar (etimologicamente, infância diz respeito a seres que ainda não tem poder de decisão sobre seu destino ou gosto) - e podemos lembrar das palavras de Alice, de Lewis Carrol:"de que serve um livo sem figuras nem diálogos?", então o filme de Xuxa estaria "reforçando" essas questões?Não sei... penso que não, que as crianças gostarão de tudo, porque tudo é mágico para elas, mas não saberão, por enquanto, que tendo acesso a essas coisas, estarão perdendo a oportunidade de fazer aquilo deveriam ser incetivadas a fazer tempo todo : Criar!
Já no disco da Adriana, tomando pelo excelente site do disco - no qual somos incentivados a criar o tempo todo - e um pouco pelo primeiro Partimpim e pelas quatro músicas do novo que eu já ouvi, a representação caminha por caminho oposto:Mergulha-se fundo no universo de significados e sonoridades das crianças, trazendo à tona os animais como a gatinha manhosa,o cotidiano como musicando o Alface, componente de todo almoço, da afetividade quando o amor é destaque da canção "Menino menina" e fazendo a relação desses temas tão "História da criança", a representação introduz o tema da História da Infância, com a música "O Homem deu nome a todo os animais"... dando nome, inseriu-os na narrativa.
O texto que eu mais gostei desde que e enveredei pelos caminhos da decifração da infância foi a apresentação de Sebastião Salgado para seus Retratos de Crianças do Êxodo, que eu postei na íntegra aqui...
O texto- assim como as fotos - não representa crianças ou infâncias, as apresenta não como seres tolos e fofinhos, mas sim como seres que estão vivendo e sobrevivendo a dores insuportáveis até a homens adultos...para nos aproximarmos delas é preciso mais sensibilidade. Como diz meu orientador - que não é um partidário de nenhuma concepção política nem da esquerda, nem da direita- não vamos resolver todos os problemas da Epistemologia ou da História Social, antão porque não apostar em novos olhares, menos duros, se for o caso?
Guimarães Rosa, para quem, segundo Luiz Costa Lima,"o mundo é mais do que crueldade" escreveu em "Pilimpsiquice", que "Representar é aprender a viver além dos levianos sentimentos, na verdadeira dignidade."
Esse é o meu autor e eu sei que tudo isso que eu penso ainda está confuso, mas estou apenas no começo do raciocínio ainda...
O que você acham?
2 comentários:
Oi Camila,
Parabéns por seu excelente texto e por suas argumentações convincentes. Marcou-me estas frases:
"as crianças gostarão de tudo, porque tudo é mágico para elas, mas não saberão, por enquanto, que tendo acesso a essas coisas, estarão perdendo a oportunidade de fazer aquilo deveriam ser incetivadas a fazer tempo todo : Criar!"
Acredito que a televisão brasileira tem colaborado em muito para o desestímulo à leitura e a criatividade.
Obrigada pelo seu comentário
Abraço
Ca
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