segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

História social da criança e da família, de Philippe Ariès

Capa na 2a, ed. brasileira, de 1981.


Vamos falar de um  clássico:  "História Social da Criança e da Família" de Philippe Ariès, que foi primeiro escrito em francês e publicado na França em 1960 (Ariès, Philippe. (1960)  'L'Enfant et la vie familiale sous l'Ancien Régime', com trad. inglesa: Centuries of Childhood. New York, 1965). No Brasil só foi traduzido a partir da terceira edição francesa e publicado em 1978. Ainda que aqui  no Brasil o livro tivesse sido mais recente, e que não se pensa mais, de forma alguma, em fazer uma história da criança usando exclusivamente esse modelo, não podemos deixar de destacar seu pioneirismo, e uma coisa que importa muito ao meu trabalho: trata-se de um livro que expressa ideia não podemos deixar passar que ele é um material pioneiro e que expressa ideia, interesses e mentalidades da década de 1960. Sobre ele nos conta Peter Burke em seu livro sobre a "Nova História":

"'L'Enfant et la vie familiale sous l'Ancien Régime' é um livro polêmico e foi mesmo criticado por muitos historiadores, justa e injustamente. Especialmente na Idade Média econtraram evidências contra suas generalizações excessivas sobre o período. Outros historiadores criticaram Ariès por estudar a evolução européia, apoiando-se eclusivamente em evidências quase que exclusivamente limitadas à França, e por não distinguir com clareza entre as atitudes dos homens e das mulheres, das elites e do povo comum. Pelo sim, pelo não, foi uma contribuição de  Ariès colocar a infância no mapa histórico, inspirar centenas de estudos sobre a história da criança em diferentes regiões e períodos, e chamar a atenção de psicólocos e pediatras para a nova história. (Neste e nos  trabalhos posteriores de P.Ariès)  se encontram a mesma audácia e a mesma originalidade, o mesmo uso de uma ampla variedade de evidências, que inclui literatura e arte, mas não as estatísticas, e a mesma vontade de não traçar categorias regionais ou sociaisde diferenças."
BURKE, Peter. "A Escola dos Annales 1929-1989 : a revolução francesa da historiografia".  Trad. Nilo Odalia. São Paulo: Editora da UNESP, 1997, p. 82-3



sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

No metrô, com Julio Cortázar

NO METRÔ COM CORTÁZAR  :
"...A regra do jogo era aquela, um sorriso na vidraça da janela e o direito de seguir uma mulher e esperar desesperadamente que sua conexão coincidisse com a decidida por mim antes de cada viagem ; e então - sempre, até agora - vê-la tomar outro corredor e não poder segui-la, obrigado a voltar ao mundo de cima e entrar num café e continuar vivendo até que, pouco a pouco, horas ou dias ou semanas , a sede de novo reclamando a possibilidade de que tudo coincidisse eventualmente , mulher e vidraça da janela, sorriso aceito ou rejeitado, conexões de trens e então finalmente sim, então o direito de aproximar-se e dizer a primeira palavra , espessa de tempo estacado, de inacabável pilhagem no fundo do poço entre as aranhas de cãibra." 

Julio Cortazar - "Manuscrito achado num bolso", in "Octaedro", p. 43.


(a caricatura é de Loredano)

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Esse é o famoso 16 toneladas ... Noriel Vilela

A Companheira Luiz Tatit

A Companheira

Luiz Tatit

Eu ia saindo, ela estava ali
No portão da frente
Ia até o bar, ela quis ir junto
"tudo bem", eu disse
Ela ficou super contente
Falava bastante,
O que não faltava era assunto
Sempre ao meu lado,
Não se afastava um segundo
Uma companheira que ia a fundo
Onde eu ia, ela ia
Onde olhava, ela estava
Quando eu ria, ela ria
Não falhava
No dia seguinte ela estava ali
No portão da frente
Ia trabalhar, ela quis ir junto
Avisei que lá o pessoal era muito exigente
Ela nem se abalou
"o que eu não souber eu pergunto"
E lançou na hora mais um argumento profundo
Que iria comigo até o fim do mundo
Me esperava no portão
Me encontrava, dava a mão
Me chateava, sim ou não?
Não
De repente a vida ganhou sentido
Companheira assim nunca tinha tido
O que fica sempre é uma coisa estranha
É companheira que não acompanha
Isso pra mim é felicidade
Achar alguém assim na cidade
Como uma letra pra melodia
Fica do lado, faz companhia
Pensava nisso quando ela ali
No portão da frente
Me viu pensando, quis pensar junto
"pensar é um ato tão particular do indivíduo"
E ela, na hora "particular, é? duvido"
E como de fato eu não tinha lá muita certeza
Entrei na dela, senti firmeza
Eu pensava até um ponto
Ela entrava sem confronto
Eu fazia o contraponto
E pronto
Pensar assim virou uma arte
Uma canção feita em parceria
Primeira parte, segunda parte
Volta o refrão e acabou a teoria
Pensamos muito por toda a tarde
Eu começava, ela prosseguia
Chegamos mesmo, modesta à parte
A uma pequena filosofia
Foi nessa noite que bem ali
No portão da frente
Eu fiquei triste, ela ficou junto
E a melancolia foi tomando conta da gente
Desintegrados, éramos nada em conjunto
Quem nos olhava só via dois vagabundos
Andando assim meio moribundos
Eu tombava numa esquina
Ela caía por cima
Um coitado e uma dama
Dois na lama
Mas durou pouco, foi só uma noite
E felizmente
Eu sarei logo, ela sarou junto
E a euforia bateu em cheio na gente
Sentíamos ter toda felicidade do mundo
Olhava a cidade e achava a coisa mais linda
E ela achava mais linda ainda
Eu fazia uma poesia
Ela lia, declamava
Qualquer coisa que eu escrevia
Ela amava
Isso também durou só um dia
Chegou a noite acabou a alegria
Voltou a fria realidade
Aquela coisa bem na metade
Mas nunca a metade foi tão inteira
Uma medida que se supera
Metade ela era companheira
Outra metade, era eu que era
Nunca a metade foi tão inteira
Uma medida que se supera
Metade ela era companheira
Outra metade, era eu que era

domingo, 19 de janeiro de 2014

Lilia, por João Bosco

No disco em comemoração aos 40 anos de cerreira de João Bosco, de 2012, esta é a minha faixa favorita... para mim ela mostra que João Bosco é MESMO a outra face da mesma  moeda do Clube da Esquina, e que esta moeda (música mineira) é de ouro! Muito bom demais...

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Os rolezinhos e o "Grande Sertão: veredas"

Guardando as devidas propoções,  com todo este incômodo causado pelos "rolezinhos" eu  não pude deixar de lembrar do catrumanos - os miseráveis do Grande Sertão: Veredas -, e especialmente o medo absurdo que Riobaldo sente deles:

"E de repente aqueles homens podiam ser montão,montoeira, aos milhares mis e centos milhentos,vinham se desentocando e formando, do brenhal, enchiam os caminhos todos, tomavam conta das cidades. Como é que iam saber ter poder de serem bons, com regra e conformidade, mesmo que quisessem ser? Nem achavam capacidade disso. Haviam de querer usufruir depressa de todas as coisas boas que vissem, haviam de uivar e desatinar." 
João Guimarães Rosa. Grande Sertão: Veredas, p. 553"

Diante deste medo tão profundo de que, de repente, os miseráveis saíssem das margens, tomassem a cidade, os espaços sempre negados a eles,  o jagunço chegou a declarar que nunca mais ia rir na vida... Sobre este medo de Riobaldo - que seriao grande medo do brasileiro -  Ettore Finazzi-Agrò falou no Seminário em homenagem aos 50 anos do romance em 2006, texto que foi publicado com o título "Pós tudo : banimento e abandono no Grande Sertão", na revista do IEB no. 44, p. 159-172

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

O Projeto A arca de Noé, de Vinicius de Moraes


No livro  "Histórias e Canções: Vinicius de Moraes", escrito por Wagner Homem & Bruno De La Rosa que foi publicado em 2013 pela editora Leya, há um capítulo só sobre o projeto "A arca de Noé", contando a história que muito me interessa. Interessa a mim, especialmente, este trechinho:
A arca de noé" foi  o último trabalho em disco de Vinicius. Desde 1950, ele escrevia esporadicamente poemas para crianças, eventualmente publicados em jornais. Em 1970  Vinicius reuniu seus poemas infantis no livro " A arca de noé" , dedicado a seus filhos - Susana, Pedro, Georgiana, Luciana e Maria -, pela editora Sabiá, com poemas já publicados e outros inéditos". (p. 169) 

Procurei esta edição nas Bibliotecas da USP, mas só encontrei a da Cia das Letrinhas, dos anos 90 (estranho não?)... no catálogo das bibliotecas públicas de São Paulo encontrei em três delas... vou procurar consultar, porque quero ver demais como foi que a Sabiá editou aqueles poemas para crianças ... no novo (e completíssimo) site do Vinicius temos as seguintes informações :

"A ARCA DE NOÉRio de Janeiro, Sabiá, 1970Mais conhecidos pelo disco feito para crianças, os poemas da A Arca de Noé foram escritos por Vinicius muitos anos antes de sua primeira edição. Eram feitos para seus filhos Suzana e Pedro de Moraes. Por muitos anos, eles ficaram guardados. Só em 1970, o conjunto de poemas infantis ganha o mundo. Seu lançamento ocorre na Itália, país onde a presença do poeta era constante, seja através de diversas visitas e temporadas ou de traduções de sua obra.

É lá, justamente quando Vinicius conhece um amigo de Chico Buarque chamado Toquinho, que o disco com os poemas infantis é preparado. O disco é chamado

É lá, justamente quando Vinicius conhece um amigo de Chico Buarque chamado Toquinho, que o disco com os poemas infantis é preparado. O disco é chamado É lá, justamente quando Vinicius conhece um amigo de Chico Buarque chamado Toquinho, que o disco com os poemas infantis é preparado. O disco é chamado É lá, justamente quando Vinicius conhece um amigo de Chico Buarque chamado Toquinho, que o disco com os poemas infantis é preparado. O disco é chamado É lá, justamente quando Vinicius conhece um amigo de Chico Buarque chamado Toquinho, que o disco com os poemas infantis é preparado. O disco é chamado É lá, justamente quando Vinicius conhece um amigo de Chico Buarque chamado Toquinho, que o disco com os poemas infantis é preparado. O disco é chamado L’Arca. No mesmo ano, seus poemas musicados na Itália são lançados em livro no Brasil. Dez anos depois, dois discos dedicados ao conjunto de poemas infantis de Vinícius também são lançados no país, com o mesmo nome do livro. 
A Arca de Noé tornou-se um dos livros mais populares de Vinicius de Moraes por ter criado um laço com as crianças. Todas as gerações têm nos seus poemas uma porta de entrada no mundo da literatura e da música popular brasileira. Ao mesmo tempo, no âmbito musical, foi o primeiro trabalho que apresentou a ele Toquinho, parceiro até o fim da vida.
            NOTA BIBLIOGRÁFICA
           Capa e ilustrações de Marie Louise Nery"

Inclusive, no site do Vinicius a gente pode ver a capa do livro de 1970 :

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

A Casa de Vinicius de Moraes


Comprei esse livro porque tem um capítulo SÓ SOBRE A ARCA DE NOÉ! Nele são contadas aquelas histórias sobre o projeto que eu já sabia (do fato de, ao final, ter durado 30 anos, etc) e também tem comentários e as historinhas de algumas canções... como a minha preferida A CASA ...
Que a tal casa existe de verdade em Montevidéu, se chama "Casapueblo" e é projeto do artista Carlos Páes Vilaró e depois virou um hotel, com um quarto com o nome de Vinicius de Moraes e o mais interessante: a cantiga foi composta naturalmente, em uma das estadias do poeta, onde ele brincava com as filhas de Vilaró dizendo: "Era uma casa muito engraçada, não tinha teto não tinha nada" e terminava com os versos "Mas era feita com pororó (termo indígena que significa palavras ocas, lenga-lenga)/ Era a casa de Vilaró. " 

Wagner Homem & Bruno de La Rosa - "Histórias e Canções- Vinicius de Moraes", p. 172-3 

Não é fofo demais?