"...A regra do jogo era aquela, um sorriso na vidraça da janela e o direito de seguir uma mulher e esperar desesperadamente que sua conexão coincidisse com a decidida por mim antes de cada viagem ; e então - sempre, até agora - vê-la tomar outro corredor e não poder segui-la, obrigado a voltar ao mundo de cima e entrar num café e continuar vivendo até que, pouco a pouco, horas ou dias ou semanas , a sede de novo reclamando a possibilidade de que tudo coincidisse eventualmente , mulher e vidraça da janela, sorriso aceito ou rejeitado, conexões de trens e então finalmente sim, então o direito de aproximar-se e dizer a primeira palavra , espessa de tempo estacado, de inacabável pilhagem no fundo do poço entre as aranhas de cãibra."
Julio Cortazar - "Manuscrito achado num bolso", in "Octaedro", p. 43.
(a caricatura é de Loredano)
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