Iniciei mil vezes o diálogo. Não há jeito.
Tenho me fatigado todos os dias
Vestindo, despindo e arrastando amor
Infância, sóis e sombras.
Vou dizer coisas terríveis à gente que passa.
Dizer que não é mais possível comunicar-me.
(Em todos os lugares o mundo se comprime.
Não há mais espaço para sorrir ou bocejar
De tédio).
As casas estão cheias. As mulheres parindo
Sem cessar, os homens amando sem amar
Ah, triste amor desperdiçado
Desesperançado amor, serei eu só
A revelar o escuro das janelas, eu só
Adivinhando a lágrima em pupilas azuis
Morrendo a cada instante, me perdendo ?
Iniciei mil vezes o diálogo. Não há jeito.
Preparo-me e aceito-me
Carne e pensamento desfeitos. Intentemos,
Meu pai, o poema desigual e torturado.
E abracemo-nos depois em silêncio. Em segredo.
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