cartaz do filme no Cina Belas Artes, onde assisti |
Em
23 de janeiro assisti ao filme brasileiro “A vida invisível”, “melodrama
tropical” dirigido pelo cearense Karim Aïnouz. Começando no final da década de
1940, conta a contando a história
das irmãs Eurídice (Carol Duarte), então
com de 18 anos e Guida ( Júlia Stockler), então com 20 anos, jovens cariocas que carregam seus sonhos , a
mais jovem de ser pianista, a mais velha de viver um grande amor. Muito unidas,
ainda no começo do filme, as irmãs
acabam sendo separadas pelo pai, fato determinante para que cada uma tente viver
sua própria vida sozinha na cidade do Rio de Janeiro.
arte divulgação do filme |
Guida,
definida pelo diretor aqui
como uma "pipoca cheia de alegria", foge de casa para viver um grande amor no estrangeiro,
porém mantém, por quase a vida toda, o hábito de escrever para a irmã longas
cartas contando sobre como a sua sobrevivência como mãe solteira no contato
público da cidade.
Guida, usando os brincos da avó |
Na noite de fuga para um baile, apressada ,
Guida perde um dos brincos que tomou “emprestado” de sua falecida avó no jardim
de casa. Esse par de brincos dourados é a grande metáfora da relação das duas
irmãs, tanto que e é muito significativo
que Guida não deixe de usar apenas um brinco sem par por boa parte do resto do
filme. Durante todo o filme, são muitas as cenas memoráveis envolvendo Guida,
separei duas das mais bonitas e significativas, quando ela tem que se levantar
para cuidar de si mesma após um parto solitário, em um hospital público.
A
outra é quando, depois de anos de rejeição da família paterna, ela reencontra
ocasionalmente o pai, que a expulsou de casa grávida, num restaurante e
consegue vê-lo através de um aquário cheio de peixes coloridos
peixes: cores e movimento |
Já
Euridice (nome da musa das músicas de Orfeu), que é mais introvertida, é pianista e , embora tenha ajudado a irmã a sair de casa
para ir ao baile, não entende o motivo dela não ter voltando mais, abandonado-a
sozinha com os pais. Naquela noite, porém, ela acaba encontrando no jardim , o
brinco perdido pela irmã e dele não se separa, chegando a usá-lo como pingente
de um colar por muito tempo. Depois da partida da irmã, Euridice acaba se
casando com Antenor (Gregório Duviver), um marido padrão do patriarcado, tomando
posse se seu corpo, às vezes violentamente, controlado-o como queria, interessando -se pouco pelos
reais desejos da esposa e, sobretudo, rejeitado com força o seu desejo de reencontrar a irmã
desaparecida.
Eurídice vê o seu próprio reflexo, com o a imagem do marido ao fundo |
Algumas das
cenas mais emocionantes do filme são as onde a pianista debruça-se sobre seu
instrumento e a música que produz consegue dizer tudo o que as palavras não são
capazes a respeito da sua “vida invisível”.
piano : a voz de Euridice |
Trata-se de um filme pesado, que fala do amor entre duas
irmãs, simbolizado pelo par de brincos, mas é também uma história de tantas mulheres e a invisibilidade de seus
desejos e corpos na sociedade patriarcal. Recomendo vivamente que assistam ao
filme
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