"Desde a segunda metade do século XX, no Rio de Janeiro, o médico foniatra e escritor Pedro Bloch (1914-2004) realizou um importante trabalho no sentido de resgatar a voz de seus pacientes pequenos tanto no sentido literal, ao ajudá-los em suas dificuldades na fala, como no sentido social, ao reconhecê-los como sujeitos interlocutores legítimos, donos de uma sabedoria original. Para divulgar seu “achado” passou a escrever e publicar enunciações infantis que revelavam aquelas originais interpretações de mundo" (RODRIGUES, 2019, p. 3).
terça-feira, 29 de setembro de 2020
Viva o humor das crianças
segunda-feira, 28 de setembro de 2020
"Akasha", Sudão, 2018, direção Hajooj Kuka
Sinopse
Adnan é um
revolucionário sudanês, um herói de guerra e ama seu rifle AK47 como ama
sua namorara Lina. Por ter se atrasado no retorno a unidade militar depois dos dias
de folga da guerra civil, passa a ser perseguido pela kasha, ai foge com seu
amigo Absi, se envolvendo nas maiores trapalhadas e mostrando a vida e as
ideologias de um Sudão controlado por rebeldes de forma muito humorística.
Lembrando que, nesse
momento em que o filme está sendo apresentado na Mostra, seu diretor,
artista ativista, Hajooj
Kuka estava sendo perseguido e foi preso e, claro, o publico da Mostra
se mostrou empático e ajudamos a pressionar a Embaixada do Sudão no Brasil -
fomos um dos países que mais mandou emails pressionando esta prisão por
motivos políticos.
O Filme
No
começo do filme lemos uma explicação que nos alerta para o fato de estarem
tratando de um país em guerra civil e ela tem algumas regras:
“Durante a época das chuvas, a guerra civil sudanesa para devido à lama. Para os rebeldes,é hora do cultivo, família e amor. Depois a chuva para...”
A fita começa com uma comemoração tradicional, de onde um casal sai sorratiramente, tratam-se de Adnan, com seu rifle nas costas e sua linda namorada Lina, que seguem para a tenda dela, para desfrutarem e Lina desfruta momentos prazerosos
Adnan
faz muitas promessas a Lina, de torná-la rainha e ela parece mesmo uma nobre junto
a ele
em frente a ele, até descobrir que Nancy o nome que o namorado deu ao rifle e fica com ciúmes, porque pensa que este só pode ter sido o nome de alguma mulher com quem ele se envolveu.
Na cena da briga do casal, o rebelde é expulso da casa, com as calças caindo e a bela Lina fica muito brava, mas também muito triste com a inconstância do namorado
Mas como a garota fica com a arma e o namorado passa a ser perseguido pela kasha, justa-se ao amigo Absi e os dois seguem se escondendo dos "melhores" jeitos
Seguem em uma moto, vestindo saias, sutiã e carregando um bebê, em cenas engraçadíssimas
Em um dos momentos mais especiais do filme eles chegam em uma caverna onde Absi passa a tocar uma linda música tradicional
para ouvir os conselhos de uma sabia ânsia ela tenta impedir que Adnan com uma flor rosada, mas consegue em partes, tanto que a partir daí ele fica todo marcado da magia da flor, com quem conversa
Gostei muito de assistir esse filme, porque ele me apresenta uma África que a gente até espera ver retratada - cheia de guerras civis- , mas também mostra que, apesar disso, os africanos e africanas se envolvem nos mesmos problemas (inclusive afetivos ) que nós, mas as saídas que encontram são bastante inusitadas e divertidas. Assistindo a esse filme, me lembrei muito do meu queridinho da primeira temporada da Mostra, o Yellen, e toda a magia que envolve o modo de alguns africanos enxergarem a vida, conversando com flores, cantando e tocando músicas, apesar da infindável guerra civil, o horizonte é sempre um retorno ao estado de nobreza, de onde essa gente veio. Eu AMO MUITO ISSO.
sábado, 26 de setembro de 2020
Resgate da dissertação
Ontem fiz uma live bate papo com o Fernando Costa no Instagram. Falei um pouco da minha trajetória como pesquisadora, como leitora e como ouvinte. Dentre outras coisas mostrei minha dissertação de mestrado, trabalho que salvou minha vida em 2005, mas que depois da defesa em 2009 eu sempre rejeitei. Coloquei na cabeça que não foi tão bem feito como foi a tese, que eu não sabia escrever, etc. O fato é que sobre ela não publiquei nada, ela ficou escondida. Agora em outubro, 11 anos depois, vou ministrar um minicurso online sobre ela na Semana de História da Unesp/Assis e estou pesquisando aquele trabalho. É sobre Guimarães Rosa,mas é profundamente histórico, ou melhor, historiografico e, nas condições que foi feito (tive que inventar uma metodologia para falar de História a partir de um escritor que a renegava o tempo todo e, além disso, havia muita instabilidade de saúde), hoje acho que o resultado foi um primor. Como os humilhados um dia serão exaltados, mostro ela aqui, nessa encadernação vermelha lindíssima, pois tenho orgulho de tê-la escrito.
sexta-feira, 25 de setembro de 2020
Live com Fernando Costa no Instagram
quarta-feira, 23 de setembro de 2020
"O Enredo de Aristóteles", Camarões/UK , 1996, direção Jean-Pierre Bekolo
cartaz em francês |
Sinopse
Em uma cidade africana, um grupo de pretensos fora da lei se reúnem para assistirem filmes no que chamam Cinema África todos os dias, o dia todo, inúmeros filmes de aventura estrageiros. Seus nomes, apelidos, são retirados desses filmes - Cobra, Bruce Lee, Nikita, Van Damme, etc – e sua vida gira em torno dessa prática cinematográfica.Certo
dia retorna à cidade um cineasta, que havia ido estudar na França (coisa muito comum
entre os realizadores africanos) e ao voltar não se enquadra ao tipo de gente
em torno do cinema em seu país, então inicia uma busca para mobilizar o governo
para diminuir as importações de Hollywood feitas pelo Cinema África, “substituindo
Schwarzenegger por Sembène”.
O Filme
O
narrador do filme (o diretor?) explica que contou ao seu avô que foi convidado
para produzir uma narrativa sobre os cem anos de cinema, o que de fato aconteceu
com Bekolo
que foi convidado pelo British Film Institute BFI a produzir um documentário
sobre os cem anos do cinema, abordando o
cinema africano, que na época tinha apenas 30 anos de idade. Achando
desnecessário produzir um documentário
tradicional, Bekolo produz uma narrativa cheia de humor, sarcasmo, aventura
para pensar a ideia de “cinema
africano”.
E.T. |
E.T. - Para isso se
escorou na ideia de narrativa mais clássica, a defendida na Poética de
Aristóteles, e criou seu protagonista, Essomba Tourneur, ou E.T., um cineasta
revolucionário, que foi preso por “se recusar a ser uma marionete” e por isso
era visto como um artista maldito,mas ele mesmo achava que era um anjo, só que na
verdade ele era mesmo UM ESPÍRITO AFRICANO, e só isso “explica o interesse de
Deus nele”. Perseguido pela polícia, uma polícia caricata, era considerado um
gangster e sobre ele o narrador nos alerta que :
“a melhor ferramenta para os fora da lei é sempre o cinema”, mas E.T. era um cineasta, ou seja, um “fora da lei que não tem personalidade para ser gangster”. Ele era “uma força poderosa que seu país precisava”, e quando voltou não entendeu nada, porque seu povo substituíram a realidade pelas histórias dos filmes e se identificava mais com Clint Eastwood do que com Kocobo em conflito com os espíritos. E como E.T, entendia de espíritos e de contradições,resolve declarar guerra aos pessoal do Cinema África, que atrapalhavam o seu trabalho.
Os fora da lei do Cinema África |
Eu gostaria muito de
entender mais de cinema africano, de ter visto mais filmes, para entender
melhor as falas e as citações, acabei só entendendo mais as menções aos filmes
americanos ou europeus e, sobretudo, a Aristóteles. Sim, pessoal, nossa cabeça
é ocidental, para tentarmos entender a África é preciso um longo caminho. Como eu tenho sempre a esperança de que um dia
vocês ainda poderão ver esse filme, não vou dar mais spoiler do final, só
lembrar que o fim me remeteu um dos filmes africanos mais incríveis que vi na
mostra do ano passado, o Espadas, é bem surpreendente. Mas sobre “O Enredo de
Aristóteles”, quero transcrever uma fala questionadora, quase ao final , quando
o narrador se afasta de o enredo de Aristóteles para falar do cinema africano
e volta a se lembrar de seu ancestral
mais presente, seu avô, que o acompanha desde o começo, então ele diz essas
fortes palavras:
“O que é uma cerimônia de iniciação? Crise, confronto, clímax e revolução , som histórias, imagens, narração, ritmo. Tem alguma coisa ai, no cinema, que não seja africano? (...) Fantasia, mito, nós temos. Walt Disney, nós temos. O Rei Leão, nós temos. Sexo,ação, violência, nós temos. Massacres nós temos. Comédia, música, nós temos. Paul Simon, nós temos. Aristóteles, catarse, noz de cola, nós temos. O que não temos? Por que não temos uma Hollywood africana? Provavelmente porque não queremos produzir nosso cinema fora da vida, porque quando se está fora da vida está morto. É como um parto de risco: Quem você escolheria, a mãe ou o filho? A vida ou o cinema? Por que quando o cinema se torna a sua vida, você está morto. Cinema está morto. Estamos todos mortos.” (Jean-Pierre Bekolo . “O Enredo de Aristóteles”, Camarões 1996)
Por último um story que fiz no Insta assim que terminei de ver o filme:
sexta-feira, 18 de setembro de 2020
"Fronteiras" , Burkina Faso, 2017, direção Apolline Traoré
cartaz de Fronteiras |
Sinopse
Apolline Traoré |
No filme dirigido pela jovem e consciente cineasta Apolline Traoré, de Burkina Faso apresenta uma viagem de ônibus entre o Senegal e a Nigéria, Adjara (Senegal), Emma (Costa do Marfim), Sali (Burkina Faso) e Visha (Nigéria) quatro mulheres se encontram e conhecem umas às outras e à si mesmas ao tentar ultrapassar muitas fronteiras físicas, simbólicas e legais numa travessia por dentro da África, sua geografia, costumes, seus dramas e humor, em um filme feminino e emocionante, com uma música tema bem linda, um pouco árabe, me encantei.
Mas
claro que o enredo, ambientado nesses locais (África/ônibus), centra-se em
algumas personagens que se destacam, quatro mulheres incríveis. Para evitar dar
muito spoiler,não vou contar o que acontece exatamente com cada uma delas, pois espero que um dia vocês
possam assistir ao filme, mas quero fazer um comentário geral sobre cada uma.
Adjara
ADJARA |
O filme começa com essa imagem da linda senegalesa Adjara (Amélie M’baye), cabelos ao vento, desfrutando um sopro de liberdade de dentro do ônibus. Com sua brilhante pele negra, Adjara é tão linda que a gente quase nunca consegue desviar os olhos dela enquanto ela aparecer na tela. É um banquete da beleza negra. Embora Adjara, que está em sua primeira viagem para para fazer comércio, pareça ser ingênua no começo, aos poucos vamos percebendo que, embora bondosa com todos, ela também é esperta para se safar de situações mais difíceis. A mim chamou a atenção o figurino africano da personagem, muitas cores, do laranja ao azul claro , e em todos a beleza de Amélie M’baye se destaca, extasiante:
ADJARA |
EMMA |
De início a personalidade de Emma (Nicky Sy Sauaré), uma senhora da Costa do Marfim, parece ser o oposto da de Adjara, pois se trata de uma bela senhora africana de mais idade, também viajando sozinha a trabalho no comércio entre as fronteiras, mas que não se dispõe a ajudar ninguém, nem parece aberta a ser ajudada também. Muitas coisas mudam para ela durante a viagem e essas mudanças vão transformando sua personalidade, até que ao final podemos ver o belíssimo sorriso de Nicky Sy Sauaré quando sua personagem ,aos poucos, vai se abrindo para compartilhar sua experiência com as amigas, em um belo movimento fraternal.
SALI
SALI |
Sali
(Adizelou Sidi) é a mais jovem das
protagonistas, de início aparece no ponto de parada do ônibus em Burkina Faso, trazida
por seu noivo, que a trata com muito carinho e lhe entrega um celular pelo qual
se propõe a vigiar se esta saindo tudo bem com a noiva. Ao contrario de Adjara,
Sali parece inocente e vai se mostrando assim mesmo. Sali é a única das
protagonistas que se veste de forma ocidental e,talvez por isso, pode parecer
muito com uma brasileira. No decorrer do filme a personagem vai ganhando importância
e, ao final, é ela quem mais nos surpreende.
Visha
VISHA |
Visha (Unwana Udobeong) é uma dona de restaurante em que pega o ônibus em Burkina Faso, para retornar à Nigéria, sua terra natal, para o casamento de sua irmã. De início, como Emma, parece intratável, mas logo percebemos que se trata de uma mulher muito sábia, capaz de compreender logo o drama pessoal das outras pessoas. Uma personagem muito bonita. Em torno dela temos uma das mais belas e emocionantes cenas do filme, quase ao final, que não posso dizer qual é para manter a surpresa.
FINAL
MULHERES |
O
importante é saber que essas quatro mulheres protagonizam o filme e que, ao
final, é lido um texto muito bonito, talvez mostrando as ideias de Apolline Traoré
ao dirigir esse filme. Transcrevi todo o texto, pois para mim ele resume a alma
de “Fronteiras”:
"Dizem que uma mulher suporta tudo, precisa suportar qualquer coisa. Dizem que Deus fez a mulher com as costas fortes o suficiente. Sempre nos disseram que no final da paciência está o céu. Mas ninguém fala nada da cor desse céu. Todas essas mulheres nas estradas, que deixam seus filhos, às vezes contra a vontade da família, para desbravar a estrada em busca de um céu que possa ser azul, mas com frequência é preto de dor e medo, ou vermelho de sangue. O ponto nossa jornada, de nossa busca: alimentar nossa família, crescer, sobreviver, tornar-se independente, ou ser um exemplo para nossos filhos.Rapidamente, algo tão simples se torna tão dramático. Nós amamos as coisas simples, mas coisas simples não existem. Em cada coisa que aparenta ser simples, há 300 outras complicadas. Problemas, corrupção, roubo, acidentes, estupro... centenas de mulheres passam por isso todo dia e vão continuar passando. Nós partimos nessa viagem com promessas, mas promessas criam mentiras. Nada acontece como deve, todo mundo está tentando descobrir à medida que segue. Mas, por falta de algo melhor, nos elevamos quando é preciso, e entramos em um ônibus. Você não pode pintar vermelho sobre vermelho,ou branco sobre branco. Somente pintando branco sobre vermelho que a verdade é revelada.
Foi isso que nós aprendemos na estrada. Nós não nos conhecemos realmente até que, o outros param em frente a nós como espelhos. E então nós vemos o nosso próprio medo, nossa própria força, nossa generosidade também. O que você dá aos outros, nós estamos na verdade dando a nós mesmas. É quando tudo termina, nós voltamos para casa, voltamos para nossa rotina, nos perguntando se estamos condenadas. Dizemos a nós mesmas que, em todo caso, temos que ter uma expressão firme para encarar nosso azar, mas ao colocar uma expressão firme, sob o peso de muito azar, um dia vamos explodir" (filme Fronteiras, 2017)
Sobre este filme há esta linda resenha de Ivonete Pinto
segunda-feira, 14 de setembro de 2020
Live do Bloco Lua Vai
Em 13 de setembro tivemos um aperitivinho de carnaval em plena quarentena com a Live do Bloco Lua Vai. Amei demais. Me trabalhei toda pra curtir o pagodinho, quis ficar parecida como estava no carnaval, apesar de estar mais gorda, mas acho que fiquei mais bonita, meu cabelo está maior, gosto assim
Essa foi tema do carnaval 2020, curto muito: