"O Baile da Betinha é o símbolo da liberdade feminista endossada pela voz de Erasto Vasconcelos. O clip utiliza a boneca de Mestre Saúba." (legenda do Youtube)
domingo, 21 de dezembro de 2014
sábado, 20 de dezembro de 2014
Adeus ao Carlos Vilaró, o dono da "casa que não era"
Lendo a lista de mortes de 2014 soube que em fevereiro o artista plástico uruguaio Carlos Vilaró morreu aos 94 anos. Vocês sabem que a músca "A Casa" foi originalmente composta pelo Vinicius e as filhas do artista na casa dele, que depois virou um hotel.
A história da música é contada no livro Histórias de canções: Vinicius de Moraes., de Wagner Homem e & Bruno De La Rosa:
Tudo começou durante o período em que Vinícius de
Moraes trabalhou na embaixada brasileira em Montevidéu e tornou-se amigo do
artista uruguaio Carlos Vilaró, que, em 1958, havia começado uma construção
pouco convencional. Inicialmente era apenas uma casa de lata. Com o tempo foi
acrescentando novas partes, todas com formas arredondas e pintadas de branco
para contrastar com o azul do céu. O espaço, conhecido como Casapueblo, tornou-se um hotel com mais
de setenta quartos, que levam os nomes de seus hóspedes mais ilustres. [....]
Nas suas estadias na Casapueblo,
Vinícius brincava com as filhas do anfitrião dizendo, “Era uma casa muito
engraçada, não tinha teto não tinha nada” e terminava com os versos “Mas era
feita com pororó [termo indígena que significa palavras ocas; lega-lega]/ Era a
casa di Vilaró”. Os versos finais da letra foram substituídos na gravação por
“Mas era feita com muito esmero/ na rua dos bobos, número zero”. (HOMEM; ROSA,
2013, p. 172-3)
Está um pouco atrasado, mas deixo meus agradecimentos ao Vilaró por tudo e,em especial, por ter inspirado a melhor definição de infância que eu já ouvi: "não tinha teto, não tinha nada ..".mas era tudo!
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sexta-feira, 19 de dezembro de 2014
Instrucciones para subir una escalera al revés - Julio Cortázar
Instrucciones para subir una escalera al revés
En un lugar de la bibliografía del que no quiero acordarme, se explicó alguna vez que hay escaleras para subir y escaleras para bajar; lo que no se dijo entonces es que también puede haber escaleras para ir hacia atrás. Los usuarios de estos útiles artefactos comprenderán, sin excesivo esfuerzo, que cualquier escalera va hacia atrás si uno la sube de espaldas, pero lo que en esos casos está por verse es el resultado de tan insólito proceso. Hágase la prueba con cualquier escalera exterior. Vencido el primer sentimiento de incomodidad e incluso de vértigo, se descubrirá a cada peldaño un nuevo ámbito que, si bien forma parte del ámbito del peldaño precedente, al mismo tiempo lo corrige, lo critica y lo ensancha. Piénsese que muy poco antes, la última vez que se había trepado en la forma usual por esa escalera, el mundo de atrás quedaba abolido por la escalera misma, su hipnótica sucesión de peldaños; en cambio, bastará subirla de espaldas para que un horizonte limitado al comienzo por la tapia del jardín, salte ahora hasta el campito de los Peñaloza, abarque luego el molino de la Turca, estalle en los álamos del cementerio y, con un poco de suerte, llegue hasta el horizonte de verdad, el de la definición que nos enseñaba la señorita de tercer grado. ¿Y el cielo? ¿Y las nubes? Cuéntelas cuando esté en lo más alto, bébase el cielo que le cae en plena cara desde su inmenso embudo. A lo mejor después, cuando gire en redondo y entre en el piso alto de su casa, en su vida doméstica y diaria, comprenderá que también allí había que mirar muchas cosas en esa forma, que también en una boca, un amor, una novela, había que subir hacia atrás. Pero tenga cuidado, es fácil tropezar y caerse. Hay cosas que sólo se dejan ver mientras se sube hacia atrás y otras que no quieren, que tienen miedo de ese ascenso que las obliga a desnudarse tanto; obstinadas en su nivel y en su máscara se vengan cruelmente del que sube de espaldas para ver lo otro, el campito de los Peñaloza o los álamos del cementerio. Cuidado con esa silla; cuidado con esa mujer.
Julio Cortázar
Escrever, criar, parir ...
"Recorda Cortázar que, enquanto escrevia os capítulos mais difíceis de O jogo de amarelinha, trabalhava em tal estado de porosidade e de desamparo, sentia-se tão frágil e exposto que, como uma criança, dependia da mulher para fazer as coisas mais banais. "Ela me dava colo, me levava para tomar um pouco de sopa", recorda. "Eu estava completamente dominado. Comer, tomar uma sopa, eram as atividades literárias. A outra coisa - a literatura - era o verdadeiro."
Texto publicado no livro A literatura na poltrona, de José Castello e postado no Facebook por Eduardo Lacerda.
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domingo, 14 de dezembro de 2014
Crianças de 9 religiões diferentes desenham Deus
A matéria está na TV Folha, o link é esse aqui:
http://www1.folha.uol.com.br/serafina/2014/12/1560920-criancas-de-9-religioes-diferentes-desenham-seu-jeito-de-encarar-deus.shtml
http://www1.folha.uol.com.br/serafina/2014/12/1560920-criancas-de-9-religioes-diferentes-desenham-seu-jeito-de-encarar-deus.shtml
sábado, 13 de dezembro de 2014
Retrospectiva de 2014 :O ano que fui reaprendo a ver !
(Esse texto pode ser alterado até o final do ano).
Faz tempo que eu não fazia uma retrospectiva do ano, né? Nesse aqui, que foi monstro, eu nem ia fazer, mas tentei e saíram coisas bacaninhas (já tive anos melhores, mas foi o que teve)... vamos lá:
Comecei o ano marcando consulta
no oftalmologista logo no dia 2, mas não seria ainda essa a data de ter novos
óculos mágicos. Em janeiro eu me apaixonei mais e mais pelo Julio Cortázar e,
como ainda estava terminando a tese, pesquisei muito sobre
Vinicius de Moraes, o poetinha, e o seu lindo livro/disco “A Arca de Noé” me fez
descobrir a Biblioteca Infantil Viriato Correa: muito amor.
Em fevereiro eu estava na versão
hard de ESCRITA FINAL DA TESE,e já habitava outra das minhas outras casas,
que é a Biblioteca de Ciências Mário Schenberg, muitas emoções e os óculo, ainda
velhos, se mostravam tão mágicos! Em fevereiro, por causa do Facebook, soube
que uma orquestra brasileira levou o som sensacional do Tom Zé a Alemanha,
coisa finíssima! E assisti uma elucidativa entrevista do Antonio Prata sobre
como foi adquirir o que ele chamou de “sotaque
infantil” para escrever seu “Nu de botas”, apesar da tensão, foi bem legal
fevereiro.
Novamente comecei o mês no
oftalmologista, desta vez não para mudar os óculos, mas porque machuquei os olhos e não pude usar lentes de contato
por 90 dias, o que me levou a ficar muito em casa, vendo vídeos e ouvindo
rádio. Nessas vi o depoimento de Haroldo de Campos sobre o Rosa e achei de
arrepiar! No rádio, o programa Supertônica, do Arrigo Barnabé, me proporcionou ouvir uma linda
entrevista do Rodrigo Campos, e viciei no disco dele São Mateus não é assim
tão longe. Mas também tivemos coisas não tão boas, vi os vídeos sobre os
exilados no Chile em 1971, muito fortes os depoimentos de pessoas como o Frei
Tito (a violência injusta e intragável
sempre), da "Dodora" (centrada, bonita,
mas que teve fim terrível). Naquela época eu ainda não sabia que iam cogitar a
volta da ditadura militar nas ruas no fim do ano, vejam vocês!.
Comecei abril, de óculos velhos,
discutindo um texto no então inaugurado Grupo de Trabalho (GT) História da
Infância e Juventude da ANPUH SP, muito bacana. Também em abril eu li o último
livro de Robert Darton Poesia e polícia e ele já foi citado na tese, que ainda
estava em andamento. Em abril eu publiquei meu primeiro artigo científico na
Revista Manuscrítica, sobre os
Cadernos de Rosa. Também em abril o Gabo
deixou este plano, o que me levou a fazer uma retrospectiva de seus livros,
muito bom saber que ele vai sempre estar aqui com as histórias que contou. Em abril, pela primeira vez, ouvi a voz do Guimarães Rosa, que
emoção!
MAIO
Maio foi o mês do depósito da tese, tensão maior não há. E
logo eu comecei a assistir os vídeos disponibilizados pelas Comissões da Verdade,
e foi muito emocionante, claro. Nesse mê eu comecei, verdairamente, meu período de
letargia, onde ainda me encontro. Osso.
Em junho eu redescobri um grande amor: Benjamin traduzido por João
Barrento me fez ver o mundo mais colorido, ter mais vontade de estudar, de
crescer e pesquisar. Tentei conhecer
gente nova, até consegui um pouco, mas nada de muito sério, porque Saturno
estava na área, olhando tudo, já era. Também em junho começou a Copa do mundo, que
delicia essa cidade cheia de homens como nunca dantes! Me diverti pacas ouvindo OEAAA!
JULHO
No começo de julho a Copa
continuava e o Brasil perdeu, com a mais vexatória derrota de sua história: 7 a
1, para nunca mais esquecer, mas naquela mesma noite, eu e minha amiga Giuliana
, afogamos as mágoas num show histórico : Som
Imaginário, comemorando só 50 anos
de carreira, super Buena Vista Social Clube... muito emocionante. Tive uma
experiência linda com os professores de
Educação Infantil, da CEI Vila Calu em Cajamar, muito emocionante. Assisti e amei o filme Paulo
Vanzolini: Um homem de moral, letargia me dominava. Mas ainda assim, a Ana
Carolina me levou ao cinema para assistir Que Estranho Chamar-se Federico – Scola Conta Fellini
. No final do mês, em um fim de tarde bem gélido, e vestida a caráter, assisti ao fantástico show do
violeiro Noel Andrade, ótima surpresa.
Mês da defesa, que não foi como
eu planejei que seria por conta do clima pesado, pois perdemos o professor Nicolau Sevcenko, todos
ficamos muito abalados. Não foi fácil e o Julio Cortázar me ajudou a
superar o clima ruim. Agradeço de
coração aos amigos que me apoiaram naquele momento, em especial a Fernanda
Duarte e Fabio Flora, que me fizeram chorar de emoção pois eles me enviaram
lindas rosas vermelhas.
SETEMBRO
Em setembro mergulhei na história de Inês Etienne Romeu e admirei profundamente aquela mulher de coragem. Tom Zé, como sempre, se manifestou positivamente em relação à situação da USP, esse nunca me decepciona. Em setembro eu ia viajar para Minas, meu sonho, mas tive virose e não deu certo, apesar disso escrevi um artigo bem legal, que ainda está em fase de apreciação, mas nunca vou esquecer as condições que o escrevi (diarreia e febre), um horror. Nos dias doentinha a Fernanda Duarte e o Fábio Flora me deram mimos, me enviaram o livro Ver: amor e outras fofuras que não tem preço.Quando melhorei, acompanhei o Workshop Escritas de ouvido, com a professora Marília Librandi-Rocha (Stanford University), e foi bom porque confirmei que as ideias da minha tese são as que estão bombando no mundo sobre escrita da fala. Em setembro (re)descobri que ainda tenho um coração para amar e ser amado, mas ainda no campo das hipóteses.
Outubro foi o mês mais literário,
além do Kawabata, que me arrebatou, teve
mais Cortázar, Hilda Hilst, David Grossman... muita música com Geraldo Azevedo e Pequeno Cidadão e a música para as ciclovias. Tivemos eleições e foi show de horror, credo, mas sobrevivi ao meu aniversário e aos tempos ruins desta vez com a ajuda da minha amiga de infância Cassia, e dos colegas que me animaram no aniver como o Thiago, a Aninha, a Vera, a Martha, a Sonia e todo mundo mais. Tivemos o chopps e o brigadeiro de colher que esparramava da colher, coisa de louco!
Mês do Gabo, novamente. Memória de minhas putas tristes me
arrebatou, me levou aos contos, a Grimm, a Grossman e a vida até que foi
difícil, mas tem coisas legais também. Em
novembro, enfim, fiz novos óculos mágicos, e com ele vi o cara mais inacreditavelmente lindo que já vi em busão, um Criolo de verdade. Amei alguns historiadores, tanto da
social quanto da econômica, que estiveram em congressos na USP, e senti que é legal estar entre os pares. Fui leitora relatora de um texto do GT sobre
história da juventude, legal pacas. E teve a cereja do bolo do ano : Show Vira
Lata na Via Lactea do Tom Zé, que teve seus 78 anos aplaudidos de pé, porque o
mundo é bão, Sebastião.
Foi o mês de pesquisar mais sobre
Pedro Bloch. Vários livrinhos, artigos científicos, anedotários e o fabuloso
livro Os irmãos Karamabloch, de
Arnaldo Bloch, que foi uma leitura rápida, útil e muito agradável. Na expectativa do dia 23, quando Saturno se
movimenta para outro signo e, espero, saio da letargia.
Um ano meio sem graça, o qual comecei invocando "Bem vindo 2015", mas passei por ele confiante e sempre querendo VER MELHOR, isso que importa,
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quarta-feira, 10 de dezembro de 2014
Presidente Dilma recebe o relatório da Comissão Nacional da Verdade em 10 de dezembro de 2014
Nesta manhã a CNV entregou a presidente o Relatório da investigação a respeito das sérias violações dos direitos humanos cometidas pelo Estado em regimes ditatoriais no Brasil do século XX. Na ocasião a presidente se emocionou, como podemos ler nesse link. Nas palavras da presidente :
"Nós, que acreditamos na verdade, esperamos que esse relatório contribua para que fantasmas de um passado doloroso e triste não possam mais se proteger nas sombras do silêncio e da omissão. Na cerimônia de instalação da Comissão Nacional da Verdade em maio de 2012 eu disse que a ignorância sobre a história não pacifica, pelo contrário, mantém latente mágoas e rancores, disse que a desinformação não ajuda a apaziguar, apenas facilita o trânsito da intolerância . Afirmei ainda que o Brasil merecia a verdade, que as novas gerações mereciam a verdade, e sobretudo , mereciam a verdade aqueles que perderam familiares, parentes, amigos, companheiros e que continuam sofrendo (pausa e aplausos) como se eles morressem de novo e sempre a cada dia ..." Dilma Rousseff 10 de dezembro de 2014
Mas merecemos a verdade mesmo. Enquanto eu estava na graduação em História entre 1999 e 2003, o tema ditadura era ao mesmo tempo presente - até porque pessoas que tinham vivido intensamente aquilo ali se encontravam
presentes-, mas também era assunto velado tantas vezes como tema de debate ou mesmo de aulas, salvo especialmente as inesquecíveis aulas da professora Maria Aparecida de Aquino. Talvez aquele silêncio se deva ao fato de que ainda havia pouca produção sobre isso e a história, como processo, requer algum distanciamento mínimo, mas o fato é que eu só fui saber mais sobre o tema (que me interessou sempre) depois de formada, e independentemente da ligação com a minha instituição de origem, a USP. Com as informações divulgadas pela CNV, eu e todos os brasileiros, temos a chance de corrigir esse lapso em nossa formação.
É possível saber mais e até mesmo baixar o relatório no link da CNV.
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sábado, 6 de dezembro de 2014
A viagem no tempo de Lélio, que viu a molha na velhinha ...
Corpo de Bale e de temporalidades ... aqui a viagem do tempo de Lélio, coisa muito linda:
"(...) A chã, por onde ia, descambava; Lélio pensou 'Daqui vou dar numa vereda..."
Andou embebendo tempo.
E vai, a solto, sem espera, seu coração se resumiu: vestida de claro, ali perto, de costas para ele, uma moça se encurvava, por pegar uma coisa no chão. Uma mocinha. Ela também escutara seus passos, porque se reaprumou, a meio voltando a cara, com a mão concertava o PANO VERDE NA CABEÇA, E - só a voz - baixinho ao natural, como se estivesso conversando sozinha, num simples de delicadeza : - '... goiabeira, lenha bôa: queima mesmo verde, mal cortada da árvore...' - mas a voz diferente de mil, salteando co uma força de sossego. Era um estado - sem surpresa, sem repente - durou como um rio vai passando. (...) Lélio não se sentia, achou que estava ouvindo ainda um segredo, parece que ela perguntava, naquele tom requieto, que lembrava um mimo, um nino, ou um muito antigo continuar, ou o a-pio de pomba-rola em beira de ninho pronto feito: - 'Você é arte-mágico?...Viu riso, brilho, uns olhos - que tivessem de chorar, de alegria,só era que podiam... -; e mais ele mesmo nunca ia saber, nem recordar ao vivo exato aquele vazio de momento .(...) E era nela que seus olhos estavam.
Mas ela era uma velhinha! Uma velha ... Uma senhora." A Estória de Lélio e Lina – João Guimarães Rosa .
"(...) A chã, por onde ia, descambava; Lélio pensou 'Daqui vou dar numa vereda..."
Andou embebendo tempo.
E vai, a solto, sem espera, seu coração se resumiu: vestida de claro, ali perto, de costas para ele, uma moça se encurvava, por pegar uma coisa no chão. Uma mocinha. Ela também escutara seus passos, porque se reaprumou, a meio voltando a cara, com a mão concertava o PANO VERDE NA CABEÇA, E - só a voz - baixinho ao natural, como se estivesso conversando sozinha, num simples de delicadeza : - '... goiabeira, lenha bôa: queima mesmo verde, mal cortada da árvore...' - mas a voz diferente de mil, salteando co uma força de sossego. Era um estado - sem surpresa, sem repente - durou como um rio vai passando. (...) Lélio não se sentia, achou que estava ouvindo ainda um segredo, parece que ela perguntava, naquele tom requieto, que lembrava um mimo, um nino, ou um muito antigo continuar, ou o a-pio de pomba-rola em beira de ninho pronto feito: - 'Você é arte-mágico?...Viu riso, brilho, uns olhos - que tivessem de chorar, de alegria,só era que podiam... -; e mais ele mesmo nunca ia saber, nem recordar ao vivo exato aquele vazio de momento .(...) E era nela que seus olhos estavam.
Mas ela era uma velhinha! Uma velha ... Uma senhora." A Estória de Lélio e Lina – João Guimarães Rosa .
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Para dar significado para uma longa vida inteira o escritor tem que ser maior, como Rosa - o que escrevia para 700 anose há 35 anos fazendo viver, apesar de "toda a coisa ruim que acontece acontecendo" :
"E então Migulim saíu. Foi ao fundo da horta, onde tinha um brinquedo de rodinha-d'água - sentou o pé, reventou. Foi no cajueiro, onde estavam pendurados os alçapões de pegar passarinhos, e quebrou todos. Depois veio, ajuntou os brinquedos que tinha, todas as coisas guardadas - os tentos de olho-de-boi e maria-preta, pedra de cristal preto uma carretilha de cisterna, um besouro verde com chifres, outro grande, dourado, uma folha de mica tigrada, a garrafinha vazia, o couro de cobra-pinima, a caixinha de madeira de cedro, a tesourinha quebrada, os carretéis, a caixa de papelão, os barbantes, o pedaço de chumbo, e outras coisas, que nem quis espiar - e jogou tudo fora, no terreiro. Queria ter mais raiva. Mas o que não lhe deixava a ideia era o casal de tico-ticos-reis, o macho tão altaneirozinho bonito – upupava aquele topete vermelho, todo, quando ia cantar. Migulim tinha inventado de pôr a peneira meia em pé, encostada num toquinho de pau, amostrara arroz por debaixo, e pôde ficar de longe, segurando a pontinha de embira que estava lá amarrada no toquinho de pau, tico-tico-rei veio comer arroz, coração de Migulim também, também, ele tinha puxado a embira... agora chorava. " Campo Geral – João Guimarães Rosa
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sexta-feira, 5 de dezembro de 2014
Natural de criança é criar !
Creche retira brinquedos e crianças inventam um mundo à parte com o que lhes restou disponível... isso é típico de crianças. Confira neste texto retirado do Catraca Livre, disponível no link.
"Jardim de Infância na Noruega retira brinquedos das salas; o resultado foi crianças mais criativas
Redação em
Um jardim de infância norueguês decidiu eliminar todos os brinquedos das salas. O resultado foi crianças muito mais criativas para brincar e criar.
As crianças tinham a disposição apenas caixas de papelão, mantas, tecidos, as almofadas do sofá, mesas e cadeiras. No lado de fora, apenas os aparelhos doplayground e a natureza.
Logo depois da mudança observou-se que as crianças usaram mais a imaginação para criar adereços que precisavam durante as brincadeiras. As agulhas se transformaram em espadas, caixas de papelão eram barcos e folhas eram dinheiro.
Outro ponto foi que os conflitos entre as crianças reduziram e se tornou mais fácil para todas as crianças brincarem. Afinal, se tudo era imaginado, ninguém era dono de nada.
O projeto foi tão bem sucedido que a creche vai provavelmente continuar a ter períodos livres de brinquedo. Especialmente do lado de fora das classes.
As crianças não reclamaram da experiência nem expressaram saudades do brinquedo, segundo a diretora."
É natural de crianças criar e recriar o mundo em que vivem, como sabemos. Não me espanta a principal reação de acolhimento delas a proposta.Que elas não tenham reclamado eu não estranho, mas pelo meno se espantado era de se esperar... mas não sei como funciona o esquema de propaganda para as crianças lá, aqui seria impensável que nenhuma reclamasse...
De qualquer forma, fica a dica.
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Uma leitura de pintura de Van Gogh...
"Mesmo exausto, tomo o metrô para a cidade vazia e, da estação central, subo no primeiro bonde para o Van Gogh Museum, onde me defronto com a tela pintada em vésperas da morte do artista: aves negras que preenchem galhos secos e dão vida à árvore. Mas, nas extremidades, uns primeiros corvos alçam vôo, mostrando o vazio do outono." Arnaldo Bloch. "Os irmãos Karamabloch", p. 25
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