"Não falamos ou pensamos apenas com palavras ou sinais, mas com palavras ou sinais que se referem uns aos outros de uma determinada maneira. (...) Sem uma inter-relação adequada de suas partes, uma emissão verbal seria mera sucessão de nomes, um amontoado de palavras que não encerra proposição alguma. (...) A unidade da fala é uma proposição. A perda da fala (afasia)é, portanto, a perda da capacidade de proposicionar (...) não só a perda da capacidade de proposicionar em voz alta (falar), mas de proposicionar interna ou externamente. (...) O paciente sem fala perdeu-a não apenas no setido popular, de não conseguir se expressar em voz alta, mas no setido completo. Falamos não apenas para dizer a outras pessoas o que pensamos, mas para dizer a nós mesmos o que pensamos. A fala é uma parte do pensamento."
(Hughlings- Jackson, citado por Oliver Sacks em Vendo vozes.p.28)
"Joseph (um surdo) ansiava por comunicar-se, mas não conseguia. Não sabia falar, escrever, nem usar a língua de sinais, e só podia servir-se de gestos, pantomima, além de uma notável habilidade para desenhar.(...) Anteriormente privado de oportunidades - pois ele nunca fora exposto à língua dos sinais, Joseph estava começando a aprender um pouquinho e a ter comunicação os com outros. Isso manifestamente o deleitava; ele queria ficar na escola o dia inteiro, a noite inteira, o fim de semana inteiro, o tempo todo. Dava muita pena ver sua aflição ao sair da escola, pois ir para casa, para ele, significava voltar ao silêncio, retornar a um vácuo de comunicação sem esperanças, onde ele não podia conversar, comunicar-se com os pais, vizinhos, amigos; significava ser deixado de lado, tornar-se novamente um ninguém.
Isso era muito pungente, extraordinário - sem nenhum paralelo exato em minha experiência. Lembrava-me um pouco uma criancinha de dois anos vacilando a um passo da língua - mas Joseph tinha onze anos, era na maioria dos outros aspectos, um menino de onze anos. Lembrava-me um pouco um animal não verbal, mas nenhum animal jamais transmitiu o anseio pela língua como fazia Joseph." Oliver Sacks. Vendo vozes. p.42-3
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