domingo, 11 de novembro de 2012

(Im) Possível retorno do vovô Anshel


Dois momentos do livro "Ver: Amor" de David Grossman, onde o garotinho Momik expressa seu grande desejo de resgatar o ser que acreditava existir ainda no velhinho que ele chamava de vovô Anshel (um sequelado vindo de campo de concentração ). Me emociona muito, porque tantas vezes eu me sinto como  Momik nos últimos tempos ...


"Esses números realmente o deixavam doido, porque não estavam escritos com caneta e não saiam com água ou cuspe. Momik tentou de tudo quando lavava os braços do avô, mas o número permanecia e, por causa disto, Momik começou a pensar que talvez fosse um número escrito não por fora, mas  por dentro; por isto ficou até mais convencido de que  talvez existisse mesmo alguém dentro do vovô (...) e teve uma sensação realmente forte de que a qualquer momento vovô abriria totalmente, se abriria no meio e ao comprido como uma vagem  de ervilha amarelada e se fenderia assim em dois, uma espécie de vovô pintinho, um avô pequeno, sorridente e de bom coração e que gostava de criança saltaria dali, isto não aconteceu, mas de repente Momik sentiu um aperto no coração e uma tristeza estranha, levantou-se, aproximou-se  deste seu avô, abraçou-o com força, e sentiu  como ele era quente, exatamente como um forno, então vovô parou de falar sozinho, e durante talvez meio minuto ele se calou, as mãos e o rosto repousaram, e ele pareceu prestar atenção a  todas as coisas que havia dentro de si, mas, como se sabe, era-lhe proibido deixar de falar por muito tempo.  " p. 17-18


"Então Momik pode jogar a mochila, despir o vovô do casaco grande e velho de papai, cheirá-lo um pouco bem rápido, sentá-lo à mesa e esquentar a comida para os dois. Para a vovó Heni era preciso trazer a comida na hora do almoço até o quarto dela, porque sozinha ela não descia da cama, mas vovô come com ele, e isto lhe é agradável, como se ele fosse um avô  verdadeiro com o qual é possível conversar e tudo mais." P.33

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