Defendi meu mestrado ontem. Parece que a cerimônia foi agradável, e os amigos mais queridos assistiram e devem ter gostado, pois foi engraçada e densa. Fui aprovada pelo trabalho com Guimarães Rosa, mas saí pensado em Drummond e não quis comemorar como comemorei tanto as defesas de outros...
"Saí pensando na morte, mas a morte não chegava.
Andei pelas cinco ruas, passei ponte, passei rio,
visitei vossos parentes, não comia, não falava,
tive uma febre terçã, mas a morte não chegava.
Fiquei fora de perigo, fiquei de cabeça branca,
perdi meus dentes, meus olhos, costurei, lavei, fiz doce,
minhas mãos se escalavraram, meus anéis se dispersaram,
minha corrente de ouro pagou conta de farmácia.
Vosso pai sumiu no mundo. O mundo é grande e pequeno."
Como a morte não chegava, ao invés de um bar com companheiros, "comemorei" na academia , fazendo esteira até não conseguir mais, para dormir e deixar que o novo dia chegasse, mesmo que com brilho fraco, e para não abandonar Drummond, em nome dos amigos queridos que estiveram comigo fisicamente ou não, lembro do Elefante, que é um dos meus favoritos:
"E já tarde da noitevolta meu elefante,
mas volta fatigado,
as patas vacilantes
se desmancham no pó.
Ele não encontrou
o de que carecia,
o de que carecemos,
eu e meu elefante,
em que amo disfarçar-me.
Exausto de pesquisa,
caiu-lhe o vasto engenho
como simples papel.
A cola se dissolve
e todo o seu conteúdo
de perdão, de carícia,
de pluma, de algodão,
jorra sobre o tapete,
qual muito desmontado.
Amanhã recomeço."
Recomeço? Não sei...
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