Novamente eu fui ao show do Tom Zé na Virada Cultural. Desta vez eu fui equipada por todo meu amor de fã: não hesitei um momento em passar três horas e meia na fila para entrar no Teatro Municipal - enquanto rolavam outros shows que eu nunca tinha visto e gostaria muito de ver também, como o de Geraldo Azevedo -, já começaram anunciando que eu era uma tomzémaníaca. E sou.
Tinha visto o show "Estudando a Bossa" de Tom Zé no dia 15.03, no SESC Pinheiros, então eu ainda estava mais ou menos nutrida da energia que os shows dele sempre passam, e sabia que na Virada ele a apresentar o show de "Grande Liquidação", de 1968, que significa que eu ia ver a remontagem de um show projetado onze anos antes de eu nascer... uma historiadora não resiste a esses "detalhes", não é?
Fui esperando duas coisas: 1- Viajar no tempo até antes de eu sequer existir; 2- Como era um show do Tom Zé - aquele ritual energético- então também queria aquela descarga descomunal de coisas boas de sempre...
O que eu obtive na hora?
Tive uma descarga de informações históricas (digo a respeito de "depoimentos" sobre a sensação e ideário da Tropicália. Isso foi reforçado pelos protestos violentos que aconteceram durante o show, como se estivessem dizendo a ele, tanto anos depois, que sua intervenção ainda não era completamente aceita por algumas mentes ... pobres mentes, mal sabem o que estão perdendo!) era um passado, mas estava acontecendo ali eu estava participando! Isso acontece com poucas pessoas, e aconteceu comigo! Para meu primeiro desejo saí completamente satisfeita.
Mas sobre meu segundo desejo, não saí plenamente satisfeita na hora. Encontrando Neusa (sua esposa) ao final do show comentei com ela rapidamente que aquilo não tinha sido propriamente um "show do Tom Zé" como sempre tinha sido... não saí com a típica vontade de dançar na rua com os transeuntes, etc...Não senti que outras pessoas tivessem tido tal sensação. Por que será?
Primeiro eu pensei que talvez tivesse sido pela idade do espetáculo, mesmo que ele ainda despertasse protestos... eu tenho 29 anos e aquele show era mais de uma década mais velho que eu, então aquela energia, aquela sonoridade, que na época podia ter despertado várias coisas, pode também ter enfraquecido...
Mas Tom Zé é uma máquina de criatividade, ele trabalhou para "rejuvenescer" sua obra, em modificações nos arranjos e nas letras. Eu gostei e não gostei dessas mudanças.
Se aquele disco não é o que eu chamaria de "super conhecido" hoje em dia, alguma coisa sempre se ouve sobre ele e quando esse resíduo é radicalmente modificado, as pessoas não se sentem tão imersas no clima.
Eu falo isso porque quando assisti no cinema o documentário "Fabricando Tom Zé" no cinema eu vi uma das coisas mais sensacionais que eu tinha visto: Quando exibiram um trecho do show no qual ele tocava "Parque industrial", as pessoas levantaram das poltronas e começaram a DANÇAR NO CINEMA! Eu pensei : Esse é o cara!
Pois no show ao vivo ele fez tantas (e ótimas claro) modificações que a sensação era de que a gente não estava naquele ambiente. Sensação. Mas ela ficou evidente para mim quando ele apresentou a música na forma tradicional no Bis e aí, sim, as pessoas se levantaram das poltronas ...Tom Zé não ia decepcionar, claro!
Outra coisa que eu gostaria de comentar foi a aparência cada vez mais jovial dele! Cada vez mais somos presenteados com piruetas e cambalhotas contagiantes! No dia seguinte ao show da Virada saiu uma foto na imprensa que me emocionou, porque não é a imagem de um músico de 72 anos, mas sim a de um menino que se fantasiou pra brincar de polícia e ladrão! Especialmente pela luz que saem dos seus olhos:
Sobre Tom Zé eu penso: É isso que eu queria para mim... produzir criatividade em uma constância que fosse capaz de me manter verdadeiramente viva por muito tempo, como ela está mantendo meu querido Tom Zé!
Em breve volto a comentar meu próximo show do Tom Zé, como boa tomzémaníaca que sou!
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