Uma coisa que me incomoda: sabemos que as crianças conseguem facilmente 'olhar tudo como se fosse a primeira vez', esse é seu diferencial . Mas como problematizar isso em Teoria da História? Seria 'Duração'? ou 'Epifania'?
Tentemos algumas definições pessoais rasas para esses conceitos:
*A idéia de 'infância' pode ser facilmente relacionada à 'duração' - que seria a união das camadas de tempo - passado, presente e futuro- em um só momento...Isso está teorizado em Bergson e seu conceito de ‘Durée’ , e também está em Benjamin –sem tanta conceituação- que a explicou como sendo um relâmpago em uma noite escura que, por alguns segundos, ilumina tudo: o que veio o antes, o que está acontecendo agora e também o que virá depois... eis uma boa alegoria sobre a condensação das camadas temporais!
*A 'epifania' é um comportamento usual de crianças, pois seria o momento do contato com o divino, o superior que, em literatura, aparece sempre que se experimenta uma surpresa que funciona como alguma espécie de suplência...isso está em Rosa o tempo todo: a manifestação de algo divino é sempre uma suplência em relação ao mundo histórico, e essa mediação costuma ocorrer pelo uso de formas da cultura popular.Isso está em Bosi! Mas para a expressão da linguagem das crianças, podemos identificá-lo no uso recorrente da ‘palavra mágica’ , que é quando elas começam a perceber que falando sobre seus desejos, eles acontecem (de ter a mãe perto,de comer, de brincar...), como se fosse uma “encantação mágica”, como teorizou Todorov. Assim, para as crianças, as relações entre o vivido no tempo e o percebido por elas ultrapassam a simples ficcionalização da qual falou Costa Lima (e eu adoro)...
Na minha dissertação sobre Tutaméia, eu chamei o tempo problematizado dos textos de Rosa de "não-história": um momento do tempo onde o próprio tempo fica em suspenso. Tem muito pano pra manga nisso aqui... é um doutorado! (rs)
Certo, e o que isso tema ver com o Elomar?
Como eu jpa tinha escrito aqui, quando eu tinha treze anos (uma criança!), ouvi pela primeira vez a "cantiga de arrumação" e fiquei morrendo de medo daquela música! Era estranha, assustadora, rude...e eu queria ouvi-la mesmo assim, muitas vezes, ouvir a "música do feijão" - que era a única palavra que eu entendia na letra... Vamos ouvi-la novamente:
Hoje em dia, eu sempre estou dizendo e pensando que gostaria muito de ouvir essa música “como eu a ouvia das primeiras vezes”: com todo aquele ar de estranhamento, porque é ouvindo Elomar agora - quando eu conheço bem a canção e até consigo cantar-, sinto vontade de ouvi-la "como se fosse a primeira vez", que era como eu a ouvi quando criança.
Será que é essa a busca do adulto que se volta ao olhar infantil? Reencontrar essa sensação? Poxa, isso é deveras interessante, não acham?
2 comentários:
nossa, que lindo isso tudo!
(que lindo é o conhecimento/questionamento).
(:
Pois é, querida... essas maluquices lindas eu penso quando falo um pouquinho com nosso Professor Elias... você sabe do que eu tô falando!
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