domingo, 3 de abril de 2011

O non sense em Ana Cristina César e Marcos Siscar, por Annita Costa Malufe


No dia 01 de abril eu e o Caio estivemos assistindo a palestra de Annita Costa Malufe na Casa das Rosas, muito interessante... Ao ouvir Annita falar eu senti que entrava novamente na mágica EXPERIÊNCIA DOS POEMAS. Não sei ainda se eu consegui entender tudo, mas pelo que me lembro, ela disse muitas coisas interessantes, como atentar para os os póprios momentos daquela escritura (contemporaneidade) refletem experiências posteriores àquelas que Otávio Paz chamou de "tradição da ruptura" e escrevem contra a idéia de poesia excessivamente colada a significação, porque se interessam pela desmontagem da função comunicativa da linguagem, porque é uma escritura que podemos ler como formada por lapsos e silêncios que devemos ler como quem puxa fios de possibilidades (o que nos aproxima do estado da vertigem, onde o leitor se entrega ao poema) , que é diferente de fazer uma leitura de decifração, que é mais ligada ao referencial, que foge do non sense e procura a lógica da verdade.
Por exemplo, quando Ana Cristina César retira conteúdos substantivos das frases, ela instaura a entrelinha e olaso do não-dito, que são lapsos que a nada se remetem pois são silêncios irredutíveis a nomeação também diminui a possibilidade de expressar significação e clareza. No caso de Marcos Siscar, identificamos uma espécie de pulso que desautomatiza e vai dando vida própria a linguagem, como quando, pela repetição, as palavras, referências e idéias entram em um esvaziamento de seu significado, então entramos num abismo que leva ao silêncio e a vertigem, pois podemos ver tudo como se fosse a primeira vez, onde as referências não importam mais pois o poema nos leva a um estado de instauração de sentido RENOVADO novamente, onde já não é preciso acionar o processo de ressignificação.
Claro que tudo isso pode ser melhor compreendido na leitura do livro Poéticas da imanência...
Para mim foi tudo muito imporante, de qualquer forma! Para terminar esta breve descrição, vamos ler um poeminha de cada poeta abordado nos quais lemos reflexões sobre suas poéticas, primeiro o Marcos Siscar:
Psicanálise caseira
há coisas de sobra que não dizem
há coisas que sobram no que se diz
nossa miséria é uma alegria de palavras?
E, para Ana Cristina César, destaco este aqui:
discurso fluente como ato de amor
incompatível com a tirania
do segredo

como visitar o túmulo da pessoa
amada

a literatura como clé, forma cifrada de falar da paixão que não pode ser nomeada (como numa carta fluente e 'objetiva').

a chave, a origem da literatura
o 'inconfessável' toma forma, deseja tomar forma, virar forma

mas acontece que este é também o meu sintoma, 'não conseguir falar' =
não ter posição marcada, idéias, opiniões,fala desvairada.
Só de não-ditos ou de delicadezas se faz minha conversa, e para não ficar louca e inteiramente solta neste pântano, marco para mim o
limite da paixão, e me tensiono na beira: tenho de meu (discurso)
este resíduo.

Não tenho idéias, só o contorno de uma sintaxe (= a ritmo).

EU ADOREI, E VOCÊS?

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