Não cortem o cordão que liga o corpo á criança do sonho.
O cordão astral à criança aldebarã,
não cortem o sangue, o ouro.
A raiz da floração coalhada com o laço
no centro das madeiras negras.
A criança do retrato revelada lenta
às luzes de quando se dorme.
Como já pensa, como tem unhas de mármore.
Não talhem a placenta por onde o fôlego
do mundo lhe ascende à cabeça.
A veia que a à morte.
Não lhe arranquem o bloco de água abraçada
aonde chega braço a braço.
Sufoca.
Não limpem o sal na boca.
Esse objecto asteróide,
Não o removam.
A árvore de alabastro que as ribeiras
Frisam, deixem-na rasgar-se:
Das entranhas, entre duas crianças, a que era viva
E a criança do sopro, suba
Tanta opulência.
O trabalho confuso:
Que seja brilhante a púrpura
Fieiras de enxofre, ramais de quartzo,
flúor agreste nas bolsas pulmonares.
Deixem que se espalhem as redes da respiração
desde o caos materno ao sonho da criança.
Exacerbada.
Única!!!
Arranca-se o nervo ao espelho.
arranca-se a veia à palavra: não fica
o rosto, a criança não fica no abismo sonoro.
Herberto Helder. Última Ciência. 1996
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