Xangô e Oxum |
Oxum fica pobre por amor a Xangô
Oxum era conhecida como amante
ardorosa. Tinha um corpo belo, de formas finas. Sua cintura deixava-se abraçar
por um único braço. Por muitas noites Oxum teve em seu leito amantes, aos quais
proporcionava momentos de raro prazer.
Oxum teve muitos amores, de quem
ganhou presentes preciosismos. Oxum era rica. Tinha joias, ouro, prata,
vestidos maravilhosos, batas que causavam inveja, e mais, pentes de marfim,
espelhos de madrepérola, e tantos berloques e panos-da-costa.
Um dia chegou à aldeia um jovem
tocador de tambor. Era Xangô, um belo homem, que desde logo atraiu o desejo de
Oxum. Inescrupulosamente, ofereceu-se a ele, mas foi prontamente rejeitada. Usando
de todos os artifícios, Oxum foi se aproximando de Xangô, até que um dia ele a
tomou numa calorosa relação sexual. Mesmo assim Xangô não deixou de humilhar e
desdenhar a linda jovem.
Tempos depois, a fama e a fortuna de Xangô lhe fugiram das
mãos e ele se viu empobrecido e esquecido, ainda que continuasse a ser um
excelente alabê[1]. Envergonhado ele fugiu
dali. Foi viver longe do lugar e longe do som dos atabaques. Mas continuava o
glutão de sempre, a viver com conforto e prazeres.
Oxum seguiu sendo sua amante e o
consolou, sacrificando por ele tudo o que tinha. De tudo se dispôs Oxum, para o
conforto de Xangô. Primeiro as joias, depois
os vestidos, as batas, depois os pentes, os espelhos, de tudo foi se
desfazendo Oxum. Restou-lhe nada mais que seu vestido branco.
De tudo de se desfez Oxum pelo
amor de Xangô. Ficou pobre por amor a Xangô. Restou a Oxum apenas um vestido
branco. Que era tudo o que tinha para vestir. Mas todo dia no rio lavava Oxum a
veste branca. De tanto lavar a única peça que lhe restara, a roupa branca
tornou-se amarela. Desde esse dia, Xangô amou Oxum.
Reginaldo Prandi. Mitologia dos
Orixás, p. 335-6
[1] Dono
da navalha, encarregado das escanificações, rituais, no Brasil, ogã,tocador de
atabaque, chefe da orquestra do candomblé.
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