Em 2016, em meio às
atividades do meu pós-doutorado sobre as crianças de Pedro Bloch, muito
interessada em pedagogias libertadoras no século XX, assisti a um curso
de sobre a trajetória do médico e educador judeu
polonês Janusz Korczak (1878 - 1942), ministrado por Sarita Mucinic
Sarue e seu interessantíssimo trabalho com as crianças, em pleno contexto
da segunda guerra Mundial.
Tendo
trabalhado pela emancipação da criança, e gerenciado os orfanatos para
crianças judias Dom Sierot e Nasz Dom, em
Varsóvia, estes que eram geridos pelas crianças e
desenvolvido uma estratégia pedagógica que serviu como pontapé inicial ao que
depois chamaríamos de "educação democrática" (ideia linda, que eu
amei desde sempre e que executei quando ministrei palestras sobre Guimarães
Rosa na Escola Lumiar entre 2003 e 2004) e que, infelizmente, acabou
sendo duramente perseguido. O mais tocante da história é a morte do
professor, que nunca abandonaria seus alunos em uma situação difícil, a ponto
de aceitar seguir com eles até a câmara de gaz onde todos acabaram morrendo no
Campo de Extermínio de Treblinka, num desfecho que a humanidade ainda não
engole com facilidade.
Foi muito
difícil para mim acompanhar este curso, nele eram apresentados vídeos,
contavam-se histórias, mostravam-se fotos das mais terríveis sobre a degradação
humana, lembro que eu sempre virava o rosto para a janela e observava o
verdejante campus Butantã em sua calma e beleza, pois o conteúdo apresentado
não era nada intragável, era um bom exemplo do que de pior o ser humano
produziu!
Era terrível e
tudo mais, mas era um acontecimento histórico, servia para nos alertar, não era
ainda uma realidade na nossa vida cotidiana de brasileiros, como tememos
vir a ser neste momento eleitoral de 2018.
Um candidato a
presidência atual assume ideário fascista (que deu origem àquele
absurdo), é preconceituoso, faz apologia a tortura, a violência, à
intervenção militar e a quebra de nossa recente democracia se eleva em primeiro
lugar nas intenções de votos.
E o pior é que
o problema não está apenas no candidato, mas
também no seu eleitorado, que aceita seu ideário retrógrado a ponto declarar
intenção de votar nele, afinal existe uma identificação. Muito triste!
Como
historiadora, por muitas e muitas coisas, eu grito #EleNão...mas hoje, como pesquisadora
da área de História da Infância e Juventude, eu faço isso em honra à memória
de Janusz Korczak, mais uma das inúmeras vítimas do nazifascismo no século
XX, cuja história deveria servir para aprendermos que aquelas ideias são as
erradas, para internalizarmos que não devemos querer aquele inferno
acontecendo de novo .
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