segunda-feira, 9 de novembro de 2020

"Nada de Errado” (No Apologies), Suiça, 2019, direção Aladin Dampha, Ebuka Anokwa, Lionel Rupp

 


Sinopse

Após a morte do imigrante nigeriano Mike Ben Peter pela polícia em 2018, um coletivo de imigrantes resolvem filmar este documentário para denunciar a situação precária em que vivem na cidade suíça de Lausanne. Dentre tantos problemas relatados, como a falta de documentação, emprego, moradia, o que parece ser mais assustador é o abuso policial em torno dos africanos, por isso alguns deles depõem de máscara.

Embora o tema seja pesado e necessário, o filme não é o tempo todo assim. Os amigos, vivendo no mesmo lugar, dividem as coisas, cozinham, jogam,  e dão muita força uns aos outros,  como se cada um desse a todos os outros  a oportunidade de terem liberdade, de serem eles mesmos. Em seus depoimentos, eles falam bastante sobre falta de oportunidade, sobre a necessidade única de terem que se  voltar para o comércio de drogas, pois esta  acaba sendo a única saída, já que poucos imigrantes africanos, em situação ilegal no país, conseguem emprego, mesmo sem registro e que por isso acabam ficando conhecidos como preguiçosos, acomodados, marginais, quando na verdade muitos adorariam ter oportunidade de trabalhar. A impressão que passam é que são perseguidos, como ratos, ou outras pragas, algo muito angustiante.

Os relatos são fortes e muitos, tratam de quando viviam na rua, dormiam num parque, tiveram amigos mortos, foram vítimas de violência várias. Daí eles explicam porque, mesmo vivendo essa vida, insistem em estar ali. Falam que sentem esse direito de habitar o mundo, como imigrantes, direito de existirem. Direito de tentar melhorar a vida financeira de suas famílias em África. E de viverem eles mesmos, de sonharem com uma vida melhor. Todo ser humano tem esse direito. Por isso, desde sempre, os humanos migram.

Um momento mais especial é quando um dos rapazes fala que eles têm esse direito porque os europeus mudam sua forma de pensar, de sentir, de estar no mundo como africanos migrantes, mesmo depois de terem sido roubados em vários níveis, inclusive o da identidade, pois depois de tantos anos morando fora, já não sabem mais se iriam se adequar a vida em África, mas todos têm certeza de que suíços, europeus, jamais serão. O tema do desterro é comum nos cinemas africanos, como por exemplo, podemos ver nesse filme e também nesse maravilhoso filme, mas aqui aparece não através de ficção, aparece através de depoimentos sobre o medo real se perder quem se é de verdade.


Como já foi dito,  o  filme não é só pesado. O fato de estarem juntos, no mesmo teto, é uma alegria para ser comemorada e  por isso eles são muito brincalhões, contam piadas, até sobre os relatos mais terríveis, como quando um deles nos conta ter passado por outros países  da Europa, mas que em nenhum deles sofreu uma discriminação tão grande quanto sofre na Suiça.

Assistir esse filme, que foi exibido em poucos festivais europeus, é uma grande oportunidade que a Mostra de Cinemas Africanos 2020 está nos dando, uma chance de ouvir a denuncia desses africanos fortes e corajosos, na ânsia de sobreviver. Esses homens devem ter muito orgulho de si e de serem africanos.

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