No começo da minha vida de pesquisadora, fiz um inusitado (para a época) trabalho sobre o Portugal do século XVIII retratado no esplêndido romance "Memorial do Convento", de José Saramago, com a presença das racionalidades, dentre elas a mão forte da inquisição moderna ameaçando a todos, especialmente mulheres simples como a personagem Blimunda, que tinha poderes ocultos e teve mãe condenada pelo Tribunal do Santo Ofício logo no início da trama.
Para entender um pouco melhor a racionalidades da Europa moderna, os excepcionais trabalhos de Carlo Ginzburg sobre a feitiçaria, como esse "História noturna: decifrando o sabá" foram de muita importância. Na época esses livros não tinham sido traduzidos no Brasil, então lembro que li as edições portuguesas, presentes na maravilhosa Biblioteca da FFLCH. Leio a sinopse na capa da edição de bolso da Cia das Letras (2012)
Esses temas também respingaram na História do Brasil colonial, pois muitas mulheres condenadas foram degradadas para o Brasil, trazendo aquelas crenças e racionalidades. Isso foi muito explorado nas pesquisas da minha primeira orientadora, professora Laura de Mello e Souza, que escreveu aquele trecho sobre Maria Padilha, que transcrevi aqui.
Certamente é um assunto muito interessante. Quem sabe não acho um gancho para estudar isso de novo?
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