Foi um dia de verão chuvoso e mal encarado em São Paulo. Fui treinar rapidamente e depois tinha terapia, me arrumei pouco, mas estava bonitinha (cabelo sempre molhado de chuva não ajudava), o caminho percorri todinho debaixo de chuva! Viva o guarda chuva. Não estava lá muito bem emocionalmente, fui pensando no ônibus
Até quando essa solidão chuvosa? Tinha terapia, alguns assuntos tenebrosos para discutir, chorei e no caminho para o Sesc, peguei o metrô mais lotado da vida. Chuva, linha amarela paralisada no sentido Vila Sônia (pessoas tendo que seguir caminho pelo temido sistema de ônibus PAESE. Eu ia apenas da estação Paulista para a Higienólopis, no sentido Luz, mas estava tão cheio, que vi de perto aquelas cenas terríveis, os trens parando a cara dois minutos, abriam lotados e uma ou duas pessoas conseguiam se encaixar dentro da lata de sardinha. Algumas, mais de uma, ficavam presas na porta, ou eram jogadas para fora do trem. Uma funcionária do metrô anunciou uma plataforma "vazia" adiante que, óbvio, logo não ficou tão vazia assim, mas lá achei que talvez conseguisse embarcar. Mesmo assim, tive que esperar no terceiro tremai comentei com uma mulher sobre a desilusão, estava quase voltando para a Paulista e pegando o ônibus terminar lapa para casa, pois não queria ficar presa na porta do metrô. Ai não sei, ela deve ter ficado com pena de mim e quando o trem chegou, como um anjo guiado pelos meus mentores espirituais, me disse: segura na minha mão, vamos entrar juntas, ela entrou primeiro e eu a segui e enfim, o que até há pouco eu achava impossível aconteceu: eu entrei no trem e ia poder ver o instrumental!
Quando cheguei no Sesc Consolação postei este Story no Instagram:
Estava achando que estava com sorte, tomei o creme de milho com queijo na comedoria e quando me sentei no Teatro Anchieta, vi o palco lindo e iluminado, cheio de instrumentos
E ao pegar o celular para silenciá-lo, vi uma resposta ao meu story no Insta:
Nossa, ai foi que o barraco desabou, comecei a chorar de emoção! Como a gente pode não amar o Sesc? Foi o carinho que eu tanto precisava! Amei demais!
Antes do show começar, como sempre, me sento perto de uma criança, pois nossas energias se atraem. No caso era o encantador menino Pedro. Ele devia ter seus 4 ou 5 anos e estava com os pais assistindo. Muito ansioso para ver seu primeiro "show sentado", como gente grande. A mãe explicou a questão dos três sinais antes do espetáculo começar e ele na maior expectativa pra o terceiro. Quando chegou sua tia e comentou que quem ia tocar aquele atabaque ali era o seu tio, ele muito espontaneamente gritou UHUUUUUU (rs). O mesmo grito que deu quando viu seu tipo entrar no palco, estava extasiado. Mas não aguentou muito tempo, o som era alto demais para seus jovens ouvidos, logo saiu levado pelo pai e quando voltou, já estava dormindo. Mas sua alegria e espontaneidade de criança, como sempre, foi um brilho em minha noite.
Mas e o show, enfim? Era de Bufo Borealis, uma banda muito boa, sensacional mesmo. Vejam só :
Um som instrumental muito denso, tantas vezes me remeteu, ainda que levemente, a alguma sonoridade "psicodélica" do Som Imaginário, especialmente no álbum Cabeça do porco (1973). só que com uma roupagem mais atualizada. Eu não sabia de nada, juro, foi uma referência muito aleatória de uma boa ouvinte de música instrumental que me levou a essa associação. Pensava que, provavelmente, ao som Imaginário nem pudesse ser uma referência direta para a Bufo, talvez nem seja, mas percebi certo diálogo com a sonoridade dos anos 1970 e com o Som é uma referência para mim como ouvinte desse período, podia valer a pena. Realmente, no site do Instrumental, não há referências ao Clube da Esquina, mas ao som dos anos 70, sim:
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