"Uns dizem que esta história aconteceu há muitos e muitos anos, num país muito longe daqui. Outros garantem que não, que aconteceu há poucos e poucos dias, bem pertinho. Tem também quem jure que está acontecendo ainda, em algum lugar. E há até quem ache que ainda vai acontecer.É que quando a História tem documento, papel escrito na época, coisas que deixam pista, dá para a gente ter mais ou menos certeza decomo tudo se passou. É só ler os jornais daquele tempo, ou as cartas das pessoas, ou as ordens do rei, ou os tratados. Mas numa história como a nossa...não sei não... fica muito difícil saber.Porque ninguém escreveu nada. A história só passou da boca de um para o ouvido do outro, daí saiu pela boca para outra cabeça. E às vezes quem conta também muda um pouquinho. Se um dia vocês ouvirem este caso de outro jeito, já podem ir sabendo que a culpa não é minha.É do tal Tirano. Desde que ele proibiu tudo, não se podia ter mais papel escrito,nem desenho, nem cantiga, nem música, nem dança que contasse nada. Por isso,uns se esqueceram de tudo. Outros confundiram tudo. E, se não fosse pelas três crianças, nem sei o que aconteceria...
Mas já estou falando de coisas lá do meio da história, antesde começar pelo começo. É porque não podia começar assim: ‘Há muitos e muitos anos, num reino muito longe daqui...’Então vou começar de outro jeito. Com ‘Era uma vez’. Lá vai.”
MACHADO, Ana Maria.Era uma vez um tirano. 12ª. Ed. Rio de Janeiro: Salamandra. 1982
MACHADO, Ana Maria.Era uma vez um tirano. 12ª. Ed. Rio de Janeiro: Salamandra. 1982
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