domingo, 20 de maio de 2012

Festa no Covil - Juan Pablo Villalobos


             ’Às vezes o México é um país nefasto, mas às vezes também é um país magnífico.’ A frase é quase um bordão deste livro e resume muito de seu clima mental: palavras rebuscadas que, com maniqueísmo naïf, tentam dar sentido às absurdas contradições da realidade ‘patética e sórdida.’ Quem as diz é o pequeno Tochtli (coelho, na língua asteca), garoto curioso que vive entocado na fortaleza de um cartel da droga. Seu pai-chefão, Yolcault (serpente-cascavel), parece hesitar entre a vontade de preservá-lo do mundo cruel e a necessidade de adestrá-lo como herdeiro, jogando de esconde-aparece com o indícios e o sentido da violência. Faz questão de que o filho seja educado por um professor ‘que é dos cultos’, egresso da esquerda esclarecida, mas por outro lado decreta que, se ele chorar, não será mais macho; não quer que veja certas cenas fortes do noticiário, mas assiste com ele aos sanguinários filmes B e lhe mostra as reais e brutais surras aos ‘maricas traidores’; oculta-lhe seu imenso arsenal de guerra, mas brinca de ensiná-lo a atirar nas zonas mais vulneráveis do corpo humano; é coruja e mandão, mas não quer que o chame de pai.

                Não à toa o garoto passa o tempo tentando desvendar os mistérios que envolvem sua vida. Entre uma sessão de Playstation e um sermão anti-imperialista do preceptor, examina incansavelmente sua gaiola de ouro para construir e testar uma cosmovisão que dê conta de tudo o o que vê e ouve. Mas só quando Yolcault decide que é hora de sumir por um tempo, tirando-o desse mundo fechado, é que Tochtli vive sua reviravolta existencial: embarca numa viagem delirante que, na volta, completará  todo um ciclo de revelações iniciáticas.

                Festa no covil concentra em suas poucas páginas um panorama impactante e sem moralismos da violência do narcotráfico em meio a outras violências, pelos olhos límpidos e pela  voz  surpreendente de uma criança à beira do abismo de seu destino.”

(Texto da orelha do romance “Festa no Covil”, de Juan Pablo Villalobos. São Paulo: Cia das Letras.2012)

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