HISTÓRIA DO COTIDIANO - Esses dias eu estava conversando com um amigo é um jovenzinho sobre porque ouvir Legião Urbana, que eu gostava tanto - tenho todos os CDS mas nunca mais ouvi - é tão difícil para mim agora. Afora a questão de que meu gosto mudou, ouvir Legião me leva para quando eu era adolescente, entre 1995, 1996, e meu falecido irmão trabalhava no transporte de jornais e por isso, todos os dias, em casa tínhamos um exemplar de "O Estado de São Paulo" e de um outro jornal carioca, não me lembro mais qual era. Dai eu ter me tornado uma leitora frequente das crônicas do Caio Fernando Abreu, todas as quintas no OESP. E lembro, com muita dor, de ter acompanhado de perto, pelo jornal, quando ele descobriu que estava com AIDS, a mudança para o Sul para o tratamento ao lado dos pais, o tratamento e, enfim, a morte do cronista. A morte de CFA ficou registrada em mim como a ausência daquela coluna que eu lia como se fosse uma conversa com um amigo, a troca de confidências. Eu disse ao meu amigo que achava que tinha (e tenho mesmo, mas não sei onde) uma ou duas coluna recortadas do jornal na época guardadas entre meus papéis, mas que algumas delas estão publicadas no livro Pequenas Epifanias, que eu adorava, mas que tratavam de tempos muito dificeis: era a AIDS, uma grande peste que estava levando tantos embora, tantos que tinham sobrevivido à ditadura militar e sonhado com novos tempos (o que está claramente exposto no sensacional conto "Morangos Mofados", que depois analisei em um trabalho de História Contemporânea para o Nicolau Sevcenko, falando sobre o gosto meio amargo dos mofados Strawberry Fields de outrora), e que então estavam morrendo, como Cazuza, Renato Russo, Caio Fernando Abreu...quando ouço Legião Urbana hoje em dia, coisa que faço muito raramente, aquilo tudo volta de novo para mim com muita força. Não é fácil. Mas, olhando por outro lado, é uma anedota boa para se falar da História do Cotidiano, não é? Mas é mais fácil contar a história dos outros do que falar de nós mesmos, não é?
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