quarta-feira, 26 de julho de 2017

Entrando na família Ben

Sempre gostei do Jorge Ben, mas não andava me lembrando muito dele até começar a ler a biografia do Tim Maia e ter começado a lembrar, a me interessar mais e mais e querer conhecer além da superfície, ouvir coisas novas, conhecer mais, deixando o Tim completamente de lado mesmo! Ouço Jorge Ben como ouço música instrumental e é um deleite só. Também tive a experiência de tentar  dançá-lo no Samba Rock, mas eu queria saber mais, queria ler sobre, achei alguns  textos na internet como este sobre a questão do negro em Jorge Ben e  comprei  o livro do disco sobre "A Táboa Esmeralda", de Paulo da Costa e Silva que acabou de chegar.




OH MULHER INFIEL - Eu não deveria começar a ler o livro sobre o Jorge Ben agora, haja visto que ainda restam algumas páginas para ler na imensa biografia do Tim Maia (ainda não terminei!)... mas como eu já fui infiel desde o início e não paro de ouvir o Jorge, e o livrinho acaba de chegar já comecei a devorar FAMÍLIA BEN : Identificando "parentes de alma" a partir de Jorge Ben, fui entrando de novo no universo Jorge :

"Na minha cabeça Jorge Ben ocupava um confortável lugar no segundo time entre os grandes de sua geração - bem atrás do Chico, Caetano, Gil, Milton... Um artista interessante, meio esquisito, mas com surpreendente potencial de propagação e grande vocação para o sucesso. Foi quando ouvi, por acaso, a versão original de 5 minutos, última faixa do "Tábua", que eu já conhecia bem na gravação feita pela Marisa Monte, mas que não me lembrava de ter ouvido na voz de Ben. Eu estava em meio a uma roda de amigos e lembro que a canção solicitou imediatamente a minha atenção. Acontece com relativa frequência de grandes obras de arte atravessarem nossas vidas sem que haja um verdadeiro encontro, como se ainda não estivéssemos prontos para elas. Ali aconteceu o contrário: pela primeira vez eu entrava em sintonia com a música de Jorge Ben. Numa espécie de epifania, fui arremessado por ela...."  Paulo da Costa e Silva, p. 9


A epifania de Paulo da Costa e Silva foi ouvindo essa música :

"Tudo, absolutamente tudo na gravação soava contemporâneo. O timbre do violão de náilon tocado de forma despojada, livre, com um ritmo meio solto, quase capenga; a estranha sonoridade de uma sequência harmônica que, reforçada pelo desenho melódico contínuo do acompanhamento de cordas, deriva sua força mais do movimento circular do que da dinâmica tonal; a voz algo extraordinária, de rua, voz de não cantor, repleta de ruídos e chiados, erguedo-se em inesperados falsetes com ares de improviso; a atmosfera inteira da canção, com a massa sonora perfeitamente integrada na entidade física da voz e do violão de Ben, e tudo se desenvolvendo com natural fluidez. Aquilo pertencia ao eterno presente  das obras-primas. Tendo sido gravada quase duas décadas antes,ela permanecia mais jovem, maus intensa e vital do que a versão de Marisa Monte. Na gravação de Ben os 5 minutos de que fala a canção pareciam realmente uma questão de vida ou morte Possuia tamanha concentração de força que através dela sentíamos realmente "quanto vale cinco minutos na vida". P. 10 

É muito difícil ouvir a gravação de Ben, sem ter no ouvido aquela da Marisa, mas pensando nela como o encerramento de um disco sensacional como é o Tábua, a gente até consegue se deslocar naquele ambiente regulado de Marisa ... e é libertador!

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