terça-feira, 25 de julho de 2017

Trecho final do relatório final de pós doc

Ilustração de Mariana Massarani , 1998
 Acabei a pesquisa de pós-doutorado e o último trecho do relatório final eu falei sobre aquilo que eu achei mais bonito de todo o trabalho de Pedro Bloch, que foi a valorização da  expressão da criança como ela é : 
"          Como parte de nossa investigação, conseguimos esboçar faces de como o projeto de ouvir a meninada e inseri-la no diálogo teria ficado guardado na memória cultural e pessoal das pessoas que nele estiveram envolvidas. Por outro lado, percebemos que, embora ele tenha sido muito famoso em vida, vai sendo gradativamente esquecido, seja porque sua atividade envolveu crianças há bastante tempo e elas nem sempre puderam guardar memória do ocorrido, ou pelo fato de terem participado da composição humorística e isso  não sido considerado importante  a ponto de permanecer na memória por muito tempo, ou mesmo por conta dos fluxos e refluxos da história cultural,  que se interessa por figuras assim, que brilharam muito, às margens dos grande personagens, e rapidamente ficaram de lado na narrativa.            Enfim, procuramos destacar a importância das anedotas infantis de Pedro Bloch porque vimos nelas marcas de uma mudança sutil em relação à própria ideia de criança que então estava em processo, sempre através do filtro mediador do humor, que foi o que permitiu que se ouvisse em alto e bom som a até então calada voz infantes, ainda que esse som nos viesse sempre cheio de estranhamento e comicidade.
            Como epígrafe de um de seus primeiros livros sobre foniatria, o autor narra: 
  
(BLOCH, O problema da gagueira, 1958)
                    Julgamos que esta epígrafe sintetiza todo o seu projeto com os pequenos , afinal fazia parte da sua pedagogia não deixar de dizer a toda criança que encontrava “você é boa, bonita, inteligente porque sei o que uma observação assim significa para um ser que brota" (BLOCH, Você tem personalidade?,1974, p. 193), então é como se conseguisse enxergar em suas crianças – fossem pacientes, leitoras, personagens ou coautoras – algo precioso que só então estava se revelando e elas lhe chegassem  lindas, inteligentes, divertidas, com uma porção de significados desconhecidos que o levava a olha-la e dizer : Fala, agora! Por que não falas?  E em suas anedotas as crianças enfim falaram,  contando como era o seu maravilhoso mundo encantado, no qual os adultos ainda não haviam arriscado adentrar. " (RODRIGUES, Camila. Anedotas infantis de Pedro Bloch: Narrativas de história cultural do humor e da criança (1960 - 2002), p. 92)

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