quinta-feira, 2 de abril de 2020

DESDE QUE O SAMBA É SAMBA É ASSIM



DESDE QUE O SAMBA É SAMBA É ASSIM – Minha mãe não gosta que eu fale nas redes sociais que estou sentindo muita saudades do samba nessa quarentena por causa da pandemia pelo Corona Vírus, ela acha que deveria dizer apenas que quero que a epidemia passe, nada de samba.

Acho que até entendo o modo de pensar dela, mas não compartilho.
 É que ela não sabe que  “o samba é pai do prazer, o samba é filho da dor, o grande poder tranforma a dor”, como diz a canção de Caetano e Gil,  não sabe a sofrida história de  perseguição do samba, nem dos brasileiros  afro sambas de Baden e Vinicius, aquele samba mais negro , que nas palavras de Baden é  “um samba mais escuro, um samba lamento”.

Sobretudo ela não sabe o quanto o samba foi e  é,  para mim,  uma forma de sobrevivência emocional. E ai, lembrando as palavras de Luiz Carlos da Vila “Depois que inventaram a roda, a roda de samba é a maior invenção", afinal ela propõe todo mundo junto, vibrando no ritmo do samba, o que transforma a dor em alegria.

Sabemos que para sobrevivermos em tempo de Corona Vírus, precisamos estar em isolamento social e isso é a própria doença, o maior sofrimento possível para o ser humano,  pois, como diz o neurologista Fabio Moulin,  aqui: 

“um dos maiores alimentos ao cérebro é outra pessoa, o outro é essencial para nós, nós precisamos deste outro.”

Na quarentena tenho tido muito cuidado para tentar lidar bem com o isolamento social sem depressão. Tenho muito medo de tropeçar nisso, porque eu sofro de uma doença autoimune,  sei o quanto essa luta é minha, faz tanto tempo. Não é à toa que todos os finais de semana eu fazia um esforço e saia, ia conviver com os outros e (que ousadia!), até me divertir.

 Nesse momento em que todos morremos de medo da infecção da Covid19, sei que o remédio mais barato e eficaz  para regular  o sistema imunológico é tentar manter a alegria. Mas agora só vemos tristeza no mundo “tudo demorando em ser tão ruim”,  nem podemos estar juntos presencialmente, só nos resta mesmo sonhar com um tempo  em que o  samba volte a fazer a mágica e transformar a dor em prazer.

   


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