Ilustração de Pedro Rafael |
Chegando de viagem à aldeia onde nascera,
Obaluaê viu que estava acontecendo
uma festa com a presença de todos os orixás.
Obaluaê não podia entrar na festa,
devido à sua medonha aparência.
Então ficou espreitando pelas frestas do terreiro.
Ogum, ao perceber a angustia do orixá,
cobriu-o com uma roupa de palha que ocultava sua
cabeça
e convidou-o a entrar e aproveitar a alegria dos
festejos.
Apesar de
envergonhado,Obaluaê entrou,
mas ninguém se aproximava dele.
Iansã tudo acompanhava com rabo do olho.
Ela compreendia a triste situação de Omulu
e dele se compadecia.
Iansã esperou que ele estivesse bem no centro do
barracão.
O xirê[1]
estava animado.
Os orixás dançavam alegremente com suas equedes[2].
Iansã chegou então bem perto dele
e soprou suas roupas de mariô[3],
levantando as palhas que cobriam sua pestilência.
Nesse momento de encanto e ventania,
as feridas de Obaluaê pularam para o alto,
transformadas numa chuva de pipocas,
que se espalharam brancas pelo barracão.
Obaluaê e Iansã Igbalé tornaram-se grandes amigos
e reinaram juntos sobre o mundo dos espíritos,
partilhando o poder único de abrir e interromper
as demandas dos mortos sobre os homens.
(Reginaldo Prandi. Miltologia dos Orixás, p. 206-7)
[1] Xirê: brincar no candomblé, ritual em que os filhos
e filhas-de-santo cantam e dançam numa roda para todos os orixás.
[2] Equede:
literalmente, segunda (pessoa); na África, cargo sacerdotal do rei, que só
estava abaixo do orixá daquela cidade, de quem se acreditava que o rei
descendia diretamente; no Brasil,
iniciada no candomblé para cuidar dos orixás, vesti-los e dançar com
eles.
[3]
Mariô : folha nova da palmeira de dendê.
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