quarta-feira, 3 de junho de 2020

“Mossane”, Senegal, 1996, direção Safi Faye



No dia 16 de maio foi apresentado e discutido o primeiro filme da Mostra de Cinemas Africanos 2020, que  esse ano está acontecendo online. Tratou-se do filme senegalês Mossane, dirigido por Safi Faye, vencedor do prêmio Un Certain Regard do Festival de Cannes.

O filme conta a história de Mossane, uma jovem aldeã de quatorze anos,  que por ser muito bela, chama a atenção de todos os homens do local, que são por ela apaixonados, até mesmo seu irmão! Desde que nasceu Mossane foi prometida em casamento  ao jovem rico Diogaye , que está fora do Senegal e da França consegue sustentar sua família e também a família da prometida, que vivem na pobreza de uma aldeia em período de seca. O casamento de Mossane com um rapaz praticamente desconhecido é uma saída puramente econômica da sua família, dado que sem isto não poderiam se sustentar e com a a chegada de seus quatorze anos a promessa deve se cumprir. Acontece que a menina já ama outro rapaz, o universitário Fara, que está de volta à aldeia, pois a faculdade está em greve e a garota se rebela.

Visualmente belo e solar, todo em tonalidade alaranjada e dourada, que contrasta com as peles negras dos senegaleses, o filme tem uma importante camada mística, fala de rituais e de ancestralidade, de uma maneira que, mesmo transversalmente, reconhecemos como sendo práticas comuns às heranças africanas que recebemos aqui e que se perpetuam por meio das religiões afro.

Para comentar o filme, foi chamada a estudiosa Evelyn Sacramento (UFBA), que explicou que, mesmo sendo difícil pensar no filme como inventado,  pois nos parece tão real, o filme é uma obra ficcional, ou seja: aquela aldeia especifica não existe, nem as divindades ou mesmo os ritos ali executados. O diferencial trazido pela obra é que sua diretora Safi Faye, além de aldeã, também é antropóloga. Ai o pensador de africanidades Marcelo Rodrigues Sousa Ribeiro  observou que não se trata de invenção  pura, mas sim um “trabalho ficcional e fabulatório  em cima de uma base etnográfica”.

Faz muito sentido, pois ao final sentimos o filma como referente a uma realidade possível, verossímil ao pouco ou muito que possamos conhecer sobre o Senegal aqui no Brasil. Eu mesma reconheci algumas práticas já vistas no candomblé ou na vivência mesmo com senegaleses em São Paulo.

Muito bom o filme, recomendo.


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