segunda-feira, 1 de junho de 2020

"Sambizanga", Angola, 1972, direção Sarah Maldoror



Em 30 de maio de 2030 eu me arrumei toda africana para assistir ao  filme angolano Sambizanga 1972, dirigido por Sarah Maldoror ( que faleceu recentemente vítima da Covid-19, em 13 de abril de 2020),  foi filmado enquanto Angola ainda estava sendo colonizada por Portugal, já que a independência só iria conseguir em 1075. Nestas circunstâncias, Maldoror conseguiu o feito de gravar um filme sobre a resistência local, ainda que o tenha feito no Congo, porque em Angola seria impossível. Inspirado no romance  “A Vida Verdadeira de Domingos Xavier”, de Luandino ,  filme conta a história do militante contra o colonialismo Domingos Xavier, que tem mulher e filho e um dia é levado preso pela polícia. Maria,então, segue com o filho para procurá-lo em Luanda, mas acaba encontrando-o morto, depois de ter sido torturado.

Na discussão pós filme,orientada pela historiadora Renata Dariva (PUCRS) nos aponta alguns temas que suscitaram questões neste que teria sido o primeiro filme angolano, propriamente dito. Destaca-se o protagonismo feminino na maioria do tempo, primeiro pela busca solitária de Maria. Uma cena belíssima é a que a câmera mostra uma estrada vazia, nós ouvimos passos e do ladinho, devagar, a mulher vai de aproximando devagar, caminhando sozinha, com o filho nas costas, ao som da canção “caminho do mato”, de Agostinho Neto:

Caminho do mato

caminho da gente

gente cansada

Óóó - oh!

Caminho do mato

soba grande

caminho do soba

Óóó - oh!

Caminho do mato

caminho de Lemba

Lemba famosa

Óóó - oh!

Caminho do mato

caminho do amor

do amor de Lemba

Óóó - oh!

Caminho do mato

caminho das flores

flores do amor.


Renata, que conhece o cinema angolano, no conta que essa música aparece em vários filmes angolanos, como se fosse uma canção nacional. E é linda. Mas Maria, que é uma bela mulher,  se destaca em outros momentos , como quando  grita à plenos pulmões: Domingos, cadê meu homem?

Em todos os momentos, na aldeia, quando assistimos à vida daquela comunidade - comendo com as mãos, usando tudo de tecidos, tomando banho em família-   ou em Luanda, existe sempre uma ajuda comunitária a essa mulher, vinda de outras mulheres, de idosos ou de crianças. Mais tarde o movimento revolucionário se compadece daquela perda, mas deixa claro que não podem parar para lamentar, pois a luta continua.

Que bom que temos este filme. Foi muito importante para mim assisti-lo.

Esta é Sarah Maldoror:




Na cena em que Maria encontra seu marido morto este lamento conhecido, de uma memória ancestral, é entoado 

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