sábado, 28 de fevereiro de 2009

Choverá que laranja? Que pomo? Gomo? Sumo? Granizo? Maná?

A necessidade de migrar para sobreviver é, ao meu ver, o que define a História do Brasil, como já falei mil vezes.Isso não é muito estudado ainda, não tanto como eu acho que deveria...
O Chico Buarque me irrita diversas vezes, como todo mundo sabe, mas ele tem coisas muito boas, admito, entretanto se ele só tivesse escrito a letra de "Levantados do chão" já bastaria para que ele fosse reverenciado eternamente, pois trata-se uma música sintentizadora de diversas sensibilidades ou reflexões.
Não falo apenas da referência direta ao romance militante de Saramago - Levantado do chão - que foi publicado em 1980 e depois interpretado por Teresa Cristina da Silva como uma "epopéia campesina"; nem do contexto MST do fim dos anos 90/começo dos anos 2000 e nem só do livro Terra de Sebastião Salgado, para o qual ela foi composta...falo de como todas essas possibilidades de visão foram perdendo a importância e hoje em dia eu tenho a impressão de que já parecem coisa do passado, ou sem importância.
Mas nunca poderei me esquecer da primeira exposição de fotos do Salgado, que vi em 2000 aqui no SESC Pompéia, a respeito do lançamento do livro "Retratos de crianças no Exôdos", que fcou em mim para sempre, por isso eventualmente essa memória me leva de volta a ela ... são apenas crianças, mas são mais fortes que todos, o que se vê através dos olhos...
Eu gosto especialmente dessa foto:

A família deste menino sofreu 18 expulsões violentas, a foto foi tirada no contexto da 19a expulsão, em 1986. Texto e imagem no livro Terra de Sebastião Salgado e eu queria muito saber como ele está? Será que vivo? Será que alguma coisa preencheu essa coleção de anulações?Será que a menininha que ficou sabendo durante a marça dos Sem Terra de 2004 que nunca tinha comido uma refeição completa, o que ela não sabia porque a gente não sente falta concientemente daquilo que não conhece...
Isso me leva o poema de Drummond:"mas viveremos..."
Apesar de tudo.


sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

FANTASIAS OU NÃO: VAMOS!


Quando Alice e o Grifo encontram a Tartaruga Falsa:

“...Não tinham andado muito, quando viram a Tartaruga Falsa à distância, sentada triste e solitária numa pequena saliência de rocha, e, quando chegaram mais perto, Alice a ouviu suspirar como se o coração fosse se partir aos pedaços. Sentiu muita pena dela. ‘Qual é a sua tristeza?’, perguntou ao Grifo. E o Grifo respondeu, mais ou menos com as mesmas palavras de antes: ‘É tudo fantasia dela, ela não tem nenhuma tristeza. Vamos!

Lewis Carrol. Alice no país das maravilhas. P. 127

Será mesmo que nossa tristeza é tudo fantasia nossa? Quando eu trabalhava com as crianças em 2004 eu tinha muitos motivos para viver triste , mas eu era feliz porque eu vivia pensando em como elas são carinhosas... Nós ouvíamos muito o disco da Adriana Partimpim e até hoje, quando escuto, me bate uma saudade gostosa de ter esperança na vida, aí a triste vira mesmo “fantasia” minha! Vejamos algumas crianças sendo crianças, que é o que elas sabem fazer de melhor:

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

A HORA ESTÁ PRÓXIMA

Em uma das próximas segundas feiras, no dia 09.03, eu enfim devo defender minha pesquisa sobre Tutaméia, por isso nesses dias posso escrever sobre isso. O que a gente consegue concluir é sempre porque tivemos ajuda de uma ou mais pessoas, porque ninguém faz nada sozinho. Porque eu acredito muito nessa verdade, peço licença para publicar os agradecimentos da minha dissertação, mesmo sabendo que o sucesso será pouco - ou nenhum- já que quase ninguém reconhece a maioria desses nomes, mas indicar esses nomes, para mim, é um orgulho e felicidade...Reparem alguns links de blogs significativos, embora alguns nomes tiveram links, mas agora estão inativos (coisas do tempo rápido da internet)...

AGRADECIMENTOS

Agradeço o apoio incondicional da minha família, especialmente meus pais, Hermelindo Souto Rodrigues e Maria Regina Moreno Rodrigues; minha irmã Rosana Aparecida Rodrigues, e seu marido, Marco Antonio de Melo; em destaque agradeço minhas sobrinhas, Isabella Venes Rodrigues e Marilia Rodrigues de Mello, que foram as primeiras que aceitaram percorrer a “travessia Guimarães Rosa” comigo e as quais me ensinaram a brincar com o Tutaméia, transformando a pesquisa em um momento lúdico e prazeroso.

Agradeço à Escola Lumiar, que aceitou a minha proposta de oficina sobre a obra rosiana e financiou a atividade entre 2004 e 2005 e às crianças do Ensino Fundamental, experiência a partir da qual eu consegui experimentar novas formas de interpretar os textos de João Guimarães Rosa. Meu sincero “obrigada” a todos os alunos que em qualquer momento fizeram parte destas atividades.

Devo a conclusão deste trabalho a muitas pessoas, amigos novos ou antigos, que estiveram sempre observando o meu processo e intervindo para o bem desta travessia, e aos quais peço desculpas por não nomeá-los todos, como eu gostaria e eles mereceriam, mas há alguns que eu não posso deixar de agradecer especialmente, meus grandes amigos, irmãos escolhidos pelo coração :

Lidiane Soares Rodrigues – pelas energias positivas e por ter sido sempre meu modelo de talento; Rafael Scopacasa, meu “professor de grego clássico”, por estar ao meu lado constantemente, mesmo quando muito longe, quem ensinou o que é amizade verdadeira; Bernardo Brayner – rosiano que Guimarães Rosa me “apresentou” e que me presenteou com “Ooó do vovô”, e outras referências e diálogos; Carlos Ogawa, que aceitou percorrer comigo os mistérios hermenêuticos do “Palhaço da boca verde” para desvendarmos com Ovídio o enigma de Ona Pomona; Bruno Gambarotto, pelas revisões desde primeiros suspiros desta pesquisa e pelo dom de me fazer gargalhar dos meus “piores suplícios”; Juliana Serzedello, a “preta chique” que sempre bateu os atabaques da Bahia por esta pesquisa; Mirela Guimarães, pelo apoio incondicional e por ter me recebido em sua casa para discutir o texto de qualificação; Lucas Bleicher, o “Fifi”, que acompanhou o dia-a-dia e soube de absolutamente tudo o que aconteceu durante a feitura desta dissertação, pela paciência e carinho inesgotáveis; e Cida do Vale, que me ensinou a ultrapassar sem medo imensos obstáculos.

Agradeço aos mineiros Abiatar David Souza Machado, Cristiano Moreira e Ricardo Divino dos Santos, que “têm esses peixes e dão de coração”. Às “rosianas” Gisele Madureira Bueno e Vera Teodozio, sempre dispostas a prosear sobre Guimarães Rosa, nosso assunto favorito. Agradeço a todos os “tutaméicos”, que discutiram comigo pedaços desta pesquisa pela Internet, através da lista de e-mails ou do blog, ambos com o nome “Tutaméia”, em especial a Raul Ribeiro, porque “amigo é coisa pra se guardar debaixo de sete chaves”; Halem Souza pelas “aulas” de literatura brasileira e Roy Frenkiel, por ter sido a representação do paradoxo e do contraponto ideal a esta dissertação.

Meus agradecimentos francos a Fernando Brant, Arysbure Batista Eleutério e Edivaldo Tadeu Sander da Costa, que me guiaram pelo caminho de ausências da história da extinta Estrada de Ferro Bahia-Minas.

Meus agradecimentos a Laura de Mello e Souza, que descobriu na graduanda que eu fui uma pesquisadora e foi a primeira a apostar nela, e, desde então, esteve sempre ao meu lado, inclusive tendo participado da minha banca no exame de qualificação, juntamente com Yudith Rosenbaum. Agradeço, também, a todos os amigos que lá estiveram, pessoalmente ou não, naquele dia.

Agradeço aos funcionários do Setor de Pós-Graduação da FFLCH e aos bibliotecários do Arquivo João Guimarães Rosa, no IEB – USP e da biblioteca Florestan Fernandes – FFLCH- USP.

Meu agradecimento aos professores Luiz Roncari; Nicolau Sevcenko; Julio Pimentel; Jeanne Marie Gagnebin e Jorge Grespan, que ministraram cursos fundamentais e que sempre mantiveram o diálogo aberto.

Agradeço às pessoas que em algum momento abriram suas portas à discussão desta pesquisa, recebendo-me pessoalmente, comentando meus textos ou respondendo a e-mails: os professores Luiz Fiorin, Sandra Vasconcellos, Flávio W. Aguiar, Cleusa R. P. Passos, Claudia de Arruda Campos, Aurora Bernardini, Marcus V. Mazzari, Susana K. Lages, Sara Albiere, Maria Aparecida de Aquino, Francisco Alambert, José Vinci de Moraes, José Miguel Wisnik, José Antonio Pasta Jr., João Adolfo Hansen, Marcio Seligmann Silva, Dieter Heideman, Luiz Costa Lima, Alfredo Bosi, Jorge Grespan, Marlene Suano.

Agradeço a todos os participantes do grupo de estudos “Produção Cultural no Brasil”, em especial a Patrícia Raffaini, que discutiu muitas vezes comigo a questão da narrativa infantil da história.

Em especial, agradeço o apoio e leituras constantes de Ettore Finazzi-Agrò e Willi Bolle, pela obra tão instigante que deu origem à idéia desta pesquisa e pela forma sempre bem disposta a estabelecer diálogos com a qual me recebeu.

Se fosse possível mensurar sentimentos como admiração, gratidão e carinho, eu o faria neste momento para Elias Thomé Saliba, o “Professor Elias”, que acolheu esta pesquisa como orientador, presenteando-a com sua erudição e ainda muito mais do que trazendo conteúdo metodológico ou bibliográfico, lembrando sempre que “nada é tão sério que não possa ser comentado por uma anedota.” Além disso, ao me receber em seu convívio acadêmico, apresentou-me seus outros orientandos com os quais aprendi lições de pesquisa e de vida que levarei para sempre.

Finalmente, um agradecimento póstumo a João Guimarães Rosa, por Tutaméia e por ter me ensinado a sempre atentar para o lirismo, desde há muitos anos.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

O QUE EU NÃO QUERO

Não tenho condições de enumerar coisas que eu quero agora, mas sim as que eu NÃO quero:
• Não quero namorar
• Não quero fazer academia
• Não quero ler poesia
• Não quero fazer terapia
• Não quero tomar remédio
• Não quero fazer tratamento
• Não quero fazer doutorado
• Não quero rir
• Não quero chorar
• Não quero conhecer amigos
• Não quero comprar vestido novo
• Não quero me maquiar
• Não quero me perfumar
• Não quero me pentear

· Não quero tomar cachaça

· Não quero tomar chá

• Não quero rezar
• NÃO QUERO NADA

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Uma pergunta e uma afirmação...

"Meu Deus, por que me abandonaste se sabias que eu não era Deus, se sabias que eu era fraco?" DRUMMOND

"Como se vê, a salomão não lhe serviu de nada ter-se ajoelhado." SARAMAGO

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

“SEMPRE CHEGAMOS AO SÍTIO AONDE NOS ESPERAM.” José Saramago

Com esta epígrafe retirada do “Livro dos itinerários”, Saramago começa seu novo romance “A viagem do elefante”, publicado em 2008 e já é muito lido! Eu queria tanto, tanto, tanto ler essa narrativa de base histórica de Saramago, que quase comprei no ano novo, quando estava indo para a Paulista, sem bolsa, sem nada e não teria como carregar o livro, afora que eu não sabia se ia ter tempo de ler e tal... Mas tudo se resolveu da melhor forma e um dia eu peguei uma promoção na Martins Fontes e trouxe o livro para casa.

Vim lendo no ônibus, me deliciando com a narrativa saramagiana (da qual eu sentia muita falta, pois depois do chatinho A Caverna, ele não foi mais o mesmo...)... Mas não, aquele era meu Saramago anos 1980 de volta! Que emoção! Mas desta vez ele tinha seus diferenciais (a idade chega para todo mundo...) e a sua ironia fica mais evidente e não é nada fina, é escrachada e rende boas risadas até o fim do livro! E os nomes de gente ou de animais aparecem sempre em letra minúscula!

Isso sem falar em Salomão (que como o próprio Saramago explicou no começo, não é o rei de Judá, mas o elefante que em 1551 foi oferecido de presente ao duque da Áustria pelo Rei de Portugal, D. João III e que fez a viagem de Lisboa a Viena, que é o enredo do livro!). Trata-se de um animal que é construído pela ficção de Saramago, para que nos apaixonemos por ele, tanto que lamento o fato da Cia das Letras não ter imitado a capa original da Editora Caminho, de Portugal, onde vemos o desenho do nosso querido elefante ... Querido por cenas como a de quando ele aprende a dobrar os joelhos em frente a uma catedral – o que foi logo considerado milagre – ou que ele salva uma menina de cinco anos da morte, são ótimos exemplos!

Outros momentos inesquecíveis acontecem quando o seu cornaca (aquele que toma conta de um elefante) , um indiano chamado subhro conta a lenda de ganesh, e confunde a cabeça dos que são cristãos por imposição no século XVI, pois era no mínimo incomum saber que havia um local onde deus era elefante!

Além desses temas, Saramago fala muito de história (no sentido teórico mesmo), como na página 225 ele solta :

“No fundo, há que reconhecer que a história não é apenas seletiva, é também discriminatória, só colhe da vida o que lhe interessa como material socialmente tido por histórico e despreza todo o resto, precisamente onde talvez poderia ser encontrada a verdadeira explicação dos factos, das coisas, da puta realidade. Em verdade vos direi, em verdade vos digo que vale mais ser romancista, ficcionista, mentiroso

Mais adiante, na página 283, ainda continua a reflexão sobre história:

“Diz-se,depois de que primeiro o tivesse dito Tolstoi, que as famílias felizes não tem história. Também os elefantes felizes parece que não a tenham.”

O questionamento da legitimidade da história e a possibilidade e funcionalidade da narrativa recheiam o capítulo 4 da minha dissertação, e também por isso que eu me sinto bem em dizer que, juntamente com a volta do meu bom e velho Saramago (aquele que adorava contar causos) é um prato cheio para historiadores, pois apresenta relações de uma percepção fenomenal deste octogenário sobre o homem e o tempo,ou seja, sobre história.
Para quem está em meio à tensão pré defesa como eu, ter lido esse livro e ter recebido Salomão de presente, foi fenomenal porque eu esperava pela volta de Saramago e só por isso ele chegou a mim, de forma deslumbrante!

Vejamos como ele se saiu nesta entrevista que mais pareceu uma arguição: