domingo, 18 de julho de 2010

Perspectivismo ameríndio na Literatura

"...Começo por lembrar que a literatura brasileira (e latino-americana, e mundial) atinge um de seus pontos culminantes no espantoso exercício perpectivista que é '...Meu tio, o Iauaretê', de Guimarães Rosa, a descrição minuciosa, clínica, microscópica, do devir-animal de um índio. Devir animal este, de um índio, que é antes,e também, o devir-índio de um mestiço, sua retransfiguração étnica por via de uma metamorfose, uma alteração que promove ao mesmo tempo a desalienação metafisica e a abolição física do persongem- se é que podemos classificar o onceiro onçado, o enunciador complexo do conto, de 'persongem', em qualquer sentido da palavra. Chamo a esse duplo e sombrio movimento, essa alteração divergente, de difererOnça, fazendo assim uma homenagem antropofáfgica ao célebre conceito de [Jacques] Derrida. (Pode-se ler o 'Meu tio, o Iauaretê', diga-se de passagem, como uma transformação segundo múltiplos eixos e dimensões do 'Manifesto Antropófago')...

Eduardo Viveiros de Castro


In: SZTUTMAN, Renato (org). Eduardo Viveiros de Castro. Rio de Janeiro: Azougue. Coleção Encontros a arte da entrevista.2007.P.128