domingo, 7 de fevereiro de 2021

Igbo e as princesas, de Marcos Cajé, ilustrações de Iara F. Lindback

Capa de Igbo 


Estou imersa nas culturas africanas há algum tempo, bem antes da confirmação de que meu DNA misturado é 36%  vindo de vários lugares de África. Conhecer gente preta, conviver com elas, frequentar seus lugares, ouvir suas músicas, assistir seus cinemas e ler suas literaturas vem me mostrando a riqueza construída pelos meus ancestrais que vem ficando cada vez mais intenso!

Pois bem, como pesquisadora de História da Infância e juventude minhas pesquisas sempre se voltaram para as meninas, seu universo e representações. Para falar de meninas africanas, não pude deixar de pensar que elas, no imaginário de grande parte da cultura tribal africana, eram primeiro elementos da natureza, depois nobres rainhas e princesas! Se a história de reinados é atraente para as crianças, lembrar que além dos “contos de fadas”, a África também tem muitas histórias de princesas. Conhecer essas peculiaridades é fundamental até para a História do Brasil, pois se agora sabemos, graças  à pesquisas recentes,  que quando africanos vieram para serem escravizados aqui, também vieram nobres. Está na canção de Zumbi de Jorge Ben:

Aqui onde estão os homens

Há um grande leilão
Dizem que nele há uma princesa à venda
Que veio junto com seus súditos
Acorrentados em carros de bois

O destaque para as princesas negras é, penso eu, muito importante para as crianças  afro-brasileiras, reforçando sua identidade e abrindo o leque de percepções para a diversidade.   

Por isso eu comprei o lindo livro infantil “Omo-oba história de princesas”, escrita pela educadora paulista e afrodescendente Kiussam Regina de Oliveira. Depois vou escrever um post só para ele, mas por hora devo explicar que comprei pela Estante Virtual e, quando chegou, fui abrir e não era o livro que comprei! Era essa belezinha aqui. O vendedor se confundiu com o lance das princesas e acabou me enviando o livro errado, depois trocou, mas me deu a  oportunidade de ler essa bela historinha.

Marcos Cajé segurando seu lindo livro 

Falando a  partir de tradições da etnia Igbo da Nigéria, o livro conta a história de um rei que queria muito ter filhos mas sua rainha não conseguia engravidar. Embora em seu reinado ele mantivesse um “ministro místico”, o rei não era uma pessoa de fé, mas sua rainha o aconselha a consultar o IFÁ  (oráculo africano) para saber o que poderiam fazer e, com a ajuda dele acaba tendo duas lindas filhas, princesas africanas que ele protege muito. O nome delas ninguém sabe, pois o “ministro mítico” já tinha avisado que as palavras pronunciadas eram poderosas e esse poder poderia se voltar contra as princesas.

Na medida em que elas vão crescendo, o rei começa a pensar em quem vai confiar para permitir que se case com suas princesas, chegando a formular um desafio: só se casa com uma das princesas aquele que tiver sabedoria o suficiente para descobrir o nome delas.

Não vou explicar como (deixo para sua leitura futura uma das partes mais legais da história), mas o jovem Adjo consegue resolver esse mistério, se casa com uma delas e aceita a outra como irmã.

Uma história linda, ricamente ilustrada, para encher os olhos vivos das crianças afro-brasileiras que podem, sim, se sentirem representadas pelas princesinhas nigerianas, tanto quanto (ou até mais) nos sentimos pela Cinderela, Branca de Neve e (no meu caso ) Bela Adormecida.