terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Lápis contra caneta




"Não uso caneta, não me acostumo. Não sei se o senhor já viu, mas a caneta corre no papel sem freio, então se a gente erra e quer arrumar, aí emporcalha tudo, fica aquela disenteria de tinta. Agora o lápis não, o lápis é maravilhoso, porque ele agarra o papel, ele aceita a borracha, ele obedece à mão e ao pensamento da gente. Eu sou um homem que só consegue pensar a lápis "


Antonio Biá no filme "Narradores de Javé"




Super interessante se lembrarmos do que escreveu Rosa em um de seus Cadernos de Rosa :

"M% o lápis é perdulário, a caneta usuraría " (CAD 4, P.16)


Mas na era dos tablets, que será que ainda liga para isso? Eu ligo!

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Carta de repúdio dos trabalhadores da cultura à política do coturno no Pinheirinho



"Vídeo imperdível. Os cineastas Juliana Rojas e Marco Dutra - que ganharam um prêmio pelo longa Trabalhar Cansa - fazem uma moção de repúdio à "reintegração de posse" em Pinheirinho dentro do Palácio dos Bandeirantes e diante da cara (des)lavada de Geraldo Alckmin e Andrea Matarazzo. A gente fina, no meio do discurso, pede para que parem. Vexame". Por Vini Gorgulho.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Panfleto por uma SP menos reacionária - Xico Sá

DIRETAMENTE DO BLOG DO XICO SÁ:
Nesta semana de aniversário da cidade, pego a bandeira de uma das mais sábias e lindas paulistanas:"São Paulo, larga a mão de ser reacionário. Isso é triste e burro e violento", manifestou-se a brava moça.Bia Abramo é o nome dela, profissão jornalista.Em nome da sua nobre causa, rodei este panfleto romântico, declaradamente ingênuo e grávido de anarcolirismo.Bárbaros, crédulos, pitorescos, meigos e novos Oswalds de todas as artes & ofícios, espalhemos a boa nova.Por uma SP menos reacionária.Por uma SP menos sorridente diante da chacina. Por um São Paulo menos reacionário e uma SP igualmente.Por uma SP que não seja a extensão do braço armado da polícia.Menos design fascista, menos bancos antimendigos, menos rampas antimiseráveis.Pela ocupação dos prédios improdutivos do centro por sem-tetos e artistas sem grana.Por calçadas menos esburacadas para o conforto do flâneur, do bêbado, do velho e da mulher grávida.Por uma estética mais “baiana” e menos fetiche da mercadoria nova-iorquina.Que Esperanza, a índia boliviana de Cochabamba, troque a escravidão do parque industrial subterrâneo pelo sol da decência.Que a alegria seja mesmo a prova dos nove no matriarcado de Pindorama e de Piratininga.Pela prática da psicanálise selvagem nos bancos de praça. A Sé como a Viena de Freud.Redes entre as árvores dos parques para a sesta de esportistas e sedentários.Que a sesta seja obrigatória no comércio, na indústria e nas redações de revistas e jornais. Por uma SP menos avexada. Que a tecla oficial da cidade seja o slow.Pela modernismo de ontem e não a modernagem de hoje. Pela ciência de que o futuro está em 1922.

A crítica de "A música segundo Tom Jobim "

Claro que eu fui assistir ao documentário " A Música segundo Tom Jobim" logo no dia seguinte à estréia afinal eu, como a maioria dos meus contatos, adoro Tom Jobim! Claro que o filme é lindo; que coloca uma proposta de inovação no gênero documentário e isso tem sido percebido pelo público (às vezes com decepção, às vezes com revolta); claro que a ausência do João Gilberto foi doidamente sentida por mim (mas sei que ele mesmo foi quem não concedeu as imagens, uma pena), claro que o filme me entediou um pouco no começo pelo excesso de Bossa Nova (mil vezes as mesmas canções , em mil gravações mundo afora, em mil línguas), mas que isso foi resolvido logo, quando se passou a mostrar um pouco (bem pouco se comparado ao número de interpretações de Garota de Ipanema) do Tom Jobim pós Bossa Nova que eu adoro, destacando o magnífico disco Matita Perê. Podiam ter aprofundado um pouco nisso, mas de qualquer forma valeram demais os 90 minutos de exibição.
Só que eu queria neste texto falar da crítica ao filme pois, mesmo que "a linguagem musical baste", sempre é preciso selecionar, inclusive as músicas. Trata-se, sim, de um belo e imperdível filme, mas nada é perfeito, seus senãos, que deveriam aparecer nos textos críticos sobre o documentário, mas não aparecem. Os poucos que li não brincam de exercer a crítica, não. É tudo divino e maravilhoso maravilhoso no filme, "uma exaltação da cultura do país", essas coisas! No filme não temos, propositalmente, um acumulado de informações extra musicais, é uma overdse de Jobim que, confesso, beira o delicioso em alguns momentos... mas as músicas, só elas, da maneira conforme foram selecionadas, também acabam passando de algum jeito as informações , tão desejadas pelos admirdores de documentários. Aos meus olhos de expectadora (não de crítica de cinema), ai está um de seus problemas: para levantar a bandeira de um Tom que beire a perfeição, era preciso mostrar uma imagem de aplausos no festival da canção em 1968, no qual a canção Sabiá de Tom e Chico Buarque, na verdade, foi vaiada(todo mundo que sabe um pouco de história da música conhece esse episódio)? Não é possível registar nenhum possível tropeço na homenagem? Então o "documentário pós moderno", que não se presta a ser didático, também se permite passar informações possivelmente erradas?
Claro que estou colocando isso de "entrona", afinal não existe propriamente o certou ou o errado, mas alguma coloção mais crítica que apronte momentos como este deveria aparecer nos comentários críticos que, até onde vi, de crítica muito pouco tem e parecem engrossar o coro dos exaltadores da cultura nacional.
Se mesmo os "críticos" não exercitam a visão crítica, onde iremos chegar?

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Contar a história de um Tirano?

Maria Machado nos escreveu sobre :
"Uns dizem que esta história aconteceu há muitos e muitos anos, num país muito longe daqui. Outros garantem que não, que aconteceu há poucos e poucos dias, bem pertinho. Tem também quem jure que está acontecendo ainda, em algum lugar. E há até quem ache que ainda vai acontecer.É que quando a História tem documento, papel escrito na época, coisas que deixam pista, dá para a gente ter mais ou menos certeza decomo tudo se passou. É só ler os jornais daquele tempo, ou as cartas das pessoas, ou as ordens do rei, ou os tratados. Mas numa história como a nossa...não sei não... fica muito difícil saber.Porque ninguém escreveu nada. A história só passou da boca de um para o ouvido do outro, daí saiu pela boca para outra cabeça. E às vezes quem conta também muda um pouquinho. Se um dia vocês ouvirem este caso de outro jeito, já podem ir sabendo que a culpa não é minha.É do tal Tirano. Desde que ele proibiu tudo, não se podia ter mais papel escrito,nem desenho, nem cantiga, nem música, nem dança que contasse nada. Por isso,uns se esqueceram de tudo. Outros confundiram tudo. E, se não fosse pelas três crianças, nem sei o que aconteceria...
Mas já estou falando de coisas lá do meio da história, antesde começar pelo começo. É porque não podia começar assim: ‘Há muitos e muitos anos, num reino muito longe daqui...’Então vou começar de outro jeito. Com ‘Era uma vez’. Lá vai.”

MACHADO, Ana Maria.Era uma vez um tirano. 12ª. Ed. Rio de Janeiro: Salamandra. 1982

Canções do Brasil - Palavra Cantada : CD e DVD

Gente, eu comprei de presente para mim mesma os CD/DVD " Canções do Brasil" do Palavra Cantada . É muito emocionante de ver, juro! É lindo ver as carinhas delas, caras de brasileirinhos, nada parecido com a imagem da criança brasileira "vendida" na TV... neste projeto eles dão voz as crianças de todo o Brasil, cantando e falando com suas prosódias e sotaques caracteríticos. A ideia não é passar nada compacto e pronto para as crianças, mas que se perceba que os brasileirinhos são de muitas formas, assim como o próprio Brasil! Para minha pesquisa eu transcrevi as falas de uma entrevista com Paulo Tatit e Sandra Peres que fala sobre o projeto de conhecer as canções que as crianças cantam Brasil a fora. Eis a transcrição:


PAULO TATIT- O CD "Canções do Brasil" ele surgiu de uma pergunta que nos interessava que era saber "O que as crianças brasileras estão cantando?"

SANDRA PERES-Levamos dois anos para realizar do começo ao fim,onde nós percorríamos os vinte e seis Estados brasileiros, sempre gravando uma música por Estado, cantada por crianças.

PAULO TATIT-E fizemos essa pergunta "Pô, será que as crianças ainda cantam
coisas que, né, que vêm da tradição dela?

SANDRA PERES -Nosso objetivo era poder gravar crianças que estão expostas a televisão, ou seja, que assistem televisão todo dia, que ouvem rádio, mas que mesmo assim procuram cantar músicas dos seus pais, dos seus avós, ou até mesmo músicas de domínio público.
É que quando a gente ia gravar a gente falava "qual a música que você mais gosta de cantar?" E por causa disso esta canção vinha impregnada de um outro sentimento, né, de um carinho especial, de uma espontaneidade generosa até.

PAULO TATIT- Foi feita essa pesquisa, orientada pelo Paulo Dias, o Marinho Ruas entrou em contato com muita gente pelo Brasil, fez um mapeamento das crianças quem cantam pelo Brasil, fazia uma seleção de três ou quatro e lá íamos nós - eu e a Sandra, com um gravador portátil- a gente escolheu canções em que a gente achava que as outras crianças dos outros lugares poderiam gostar também, ou seja, as canções mais lúdicas, as que agradassem mais a primeira ouvida, porque a gente queria muito que as outras crianças... uma criança de Pernambuco gostasse muito da música de uma criança do Ceará; a do Ceará gostasse da canção de Mato Grosso do Sul; de Mato Grosso do Sul... e foi super legal porque eles adoraram se escutar!

SANDRA PERES - É interessante que inclusive no "Canções do Brasil", nas fotografias que eu fiz, tem um plano de foto que a gente faz que é as crianças se ouvindo logo depois que elas acabam de gravar e noventa e cinco por cento das crianças nunca se ouviram, então quando elas - nas fotos antes do disco ficar pronto e
depois quando elas estão se ouvindo na casa delas quando a gente vai entregar- é muito bonito de ver, porque elas... é uma outra linguagem, pra elas é uma coisa muito interessante, muito engraçada, muitos deles começam a dar risada.

PAULO TATIT- E depois tivemos a oportunidade... estamos tendo a oportunidade de entregar esses CD’s nas mãos das crianças que participaram dele. E a gente fez esse show de lançamento do CD “Canções do
Brasil” onde a gente pode convidar algumas dessas crianças e a nossa ideia é ir
fazendo esse show “Canções do Brasil” em
vários Estados brasileiros, sempre convidando as crianças que participaram,
então foi muito legal porque daí elas se conheceram, ficaram amigas nos
bastidores aquela folia de um monte de criança junto(...) Depois que fizemos
esse lançamento em São Paulo, nós fomos covidados pelo Ministério da Educação
para repetir esse show em Brasília. O educador pra gente é nosso público mais
querido dentro do público adulto.

SANDRA PERES-Eu acho que a arte tem esse poder de colocar todo mundo numa sintonia onde não importa nada, o que importa é que cada um faça a sua parte no momento apropriado e eu acredito profundamente que isso ajuda muito as crianças a se desenvolverem, os adultos também,principalmente na relação humana, porque uma criança para tocar com outra ela tem que ouvir, ela tem que esperar a hora dela, ela tem que respeitar o colega e isso já é um exercício de cidadania maravilhoso.

Para ouvir o CD  completo com as canções, clique aqui.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Tatiana Belinky : para escrever, use seus olhos de ver!



Quando eu tinha meus 12 ou 13 anos era voluntária da Sala de Leitura da Escola municipal onde eu estudava. Lembro de ter falado com a orientadora da sala que umas das autoras mais procuradas pelas crianças era a Tatiana Belinky, que falava de bruxas e escrevia livros muito cheios de movimentos... eu não sei bem o que eu queria dizer com isso, mas me lembro da resposta que obtive: não são só os seus livros que são assim, mas ela, pessoalmente, também é desta mesma forma: para escrever, use seus olhos de ver!
E não é mesmo? Adoro!!!!!



Ando "dialongando" muito com os livros da Ruth Rocha. Que encantamento me desperta!
Isso que ela disse nesta estrevista, de que no fundo os desejos reais das crianças continuam os mesmos é muito verdade. Maurício de Souza disse algo neste sentido em uma palestra em 2009.
Porque penso mais ou menos nesta direção que gosto demais da antropologia da criança...

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Geraldo Vandré fala do período que ficou na casa de Guimarães Rosa

Começa mais ou menos nos 35 minutos e meio.
Eu achei tudo muito estranho. O que acharam?

Trechos das Cartas de Vicente Van Gogh ao seu irmão Theo

"...As cores se sucedem como que sozinhas e ao tomar uma cor como ponto de partida me vem claramente a cabeça o que deduzir, e como chegar a dar-lhe vida. Não posso entender, por isso, a grosso modo, que um pintor faz bem quando parte das cores de sua palheta em vez de partir das cores da natureza. Interessa-me menos que minha cor seja precisamente idêntica, ao pé da letra, a partir do momento em que minha tela ela fique tão bela quanto na vida. A cor, por si só, exprime alguma coisa, não se pode prescidir disso, é preciso tomar partido. O que produz beleza, beleza verdadeira, também é verdadeiro e isso realmente é pintura e é mais belo que a imitação exata das próprias coisas." Vicent Van Gogh


Sobre cores! É por isso que entendo as palavras de Renè Schèrer quando ele escreveu que a cor é proprimante a linguagem das crianças, pois através da cor (da "encorporação" da cor) que justifica a existência da ficção (um mundo além do nosso mundo, como escreveu Antonio Candido). Se é além do nosso mundo, por que precisamos copiá-lo tal e qual os percebemos através de nossos limitados 5 sentidos ?
A criança sabe disso, mesmo sem saber que sabe! Genial !

domingo, 15 de janeiro de 2012


"Muitas vezes tenho me perguntado por que os teóricos da literatura ainda não perceberam que tudo o que dizem quando falam de fenomenologia, estruturalismo, desconstrução ou qualquer outra abordagem crítica pode ser mais claro e facilmente demonstrado na literatura infantil. O inverso disso é imaginar por que muitos de nós que nos ocupamos da literatura infantil temos sido tão lentos para reunir as duas."
Aidan Chambers

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Historiador cria vida, cria tempos!

Toda narrativa é capaz de criar seu próprio tempo e sua própria vida a partir de documentos achados em arquivos. O historiador Robert Darton nos fala sobre a narrativa da morte de de uma personagem do século XVIII que pesquisou no arquivo:

"Posso repetir a morte de Bertrand de muitas maneiras, interrompê-la em qualquer ponto, retrocedê-la ou avançá-la em direção a ligações com outros dossiês que se relacionam com o dele em combinações infinitas.
O que eu estou fazendo com isso? O que todo historiador faz: brincando de ser Deus.
Como explicou Santo Agostinho, Deus existe fora do tempo. Ele pode reecenar a história como Lhe aprover, para trás, para a frente ou as duas coisas ao mesmo tempo.
O historiador certamente cria vida. Ele insufla vida no barro que escava nos arquivos..."

Muito interessante, especialmente para quem lida com arquivos...Darton é historiador que deve ser mais do que considerado!

sábado, 7 de janeiro de 2012

Congresso Internacional

III CONGRESSO INTERNACIONAL DE LEITURA E LITERATURA INFANTIL E JUVENIL II FÓRUM LATINO-AMERICANO DE PESQUISADORES DE LEITURA - PUCRS - de 09 a 11 de maio de 2012
Mais informações aqui.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

O mundo da criança




Mundo da Criança
Toquinho


É sempre colorido, muitas vezes de papel
Com arcos, flechas, índios e soldados
Cheinho de presentes feitos por papai noel
O mundo da criança e iluminado

Baleias gigantescas, violentos tubarões
Mistérios de um espaço submerso
Espaçonaves passam por dez mil constelações
O mundo da criança é um universo
O mundo da criança é um universo

Pipas, peões, bolas, balões, skates e patins
Vovó, vovô, mamãe, papai, família
É fácil imaginar uma aventura
Dentro de uma selva escura
Com perigos e armadilhas
Viagens para encontrar minas de ouro
Piratas e um tesouro enterrado numa ilha

Imagens, games, bate-papos no computador
O tempo é cada vez mais apressado
E mesmo com todo esse imenso interativo amor
O mundo da criança é abençoado
O mundo da criança é abençoado



quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

As aventuras de Pinóquio: História de um boneco - Carlo Collodi

Vocês souberam da edição especial da história original do Pinóquio, escrita por Carlo Collodi que a editora Cosac Naify preparou em dezembro de 2011? Pois é tudo de bom!!!!
Vale muito ver, especialmente aos historiadores, afinal começamos a aprender a importância do tal bonequinho para a história ao lermos o texto "O país dos brinquedos - Reflexão sobre a história e sobre o jogo" que está no livro "Infância e História"de Giorgio Agamben?
Ali ficamos sabendo que até as coisas mais prosaícas e triviais podem ser um tesouro para análise de um bom historiador...
Nesta edição, segundo lemos no site da editora: "as ilustrações exclusivas de Alex Cerveny são uma atração à parte: o artista brasileiro utilizou a técnica cliché verre, do final do século XIX (contemporânea ao livro), na qual se chamusca uma placa de vidro com uma vela e desenha-se rapidamente sobre esta superfície com um objeto pontiagudo. O resultado são imagens oníricas de um Pinóquio nunca antes imaginado." Além disso também temos um prefácio do Italo Calvino, "só isso"... mal posso esperar para comprar e ler tudo!
Se quiserem saber mais sobre o livro clique aqui.
Se quiserem ler uma enterevista com o tradutor Ivo Barroso, clique aqui.